Faz hoje um mês que saí pelos portões do Elephant Nature Park numa carrinha que me trouxe de novo à realidade. Um mês que mais me pareceu um ano. Deixei para trás a tranquilidade e a paz de espírito do parque para voltar a cair na rotina e no stress do dia-a-dia. Há sempre um momento do dia em que penso nos elefantes, nas incríveis pessoas que lá conheci, nos cães amistosos, nos nos milhares de sapos a coaxar ao pequeno-almoço, na cigala e o seu ruído ensurdecedor, no amanhecer doce e suave e no fim do dia normalmente chuvoso e arrependo-me de não ter lá ficado para sempre. Naquele santuário, nunca ninguém fez comentários maldosos por eu não comer carne, a maior parte das pessoas que lá trabalham/fazem voluntariado são vegetarianas ou vegan. Nunca ninguém ficou a olhar com olhos esbugalhados por eu estar a falar com um animal como se fala com um bebé. Nunca ninguém me olhou de lado por eu afirmar que me dou melhor com seres irracionais do que com outros da minha espécie. Sempre senti que fazia parte de uma família. Uma família unida na defesa daqueles que não têm voz, dos mais frágeis, dos mais vulneráveis. Fossem cães, gatos, porcos, vacas, búfalos, cavalos, coelhos, macacos, elefantes ou humanos, todos tinham um lugar naquele santuário. E a certeza de que nenhum daqueles animais seria um dia maltratado, morto ou comido enchia-me o coração de alegria assim que me erguia da cama, até ao momento em que nela me voltava a encostar. Não existia maldade, ali. Nem competição. Nem ódio. Nem egoísmo. Nem desprezo. Nem ninfomanias. Cada um era como cada qual e aceite na mesma.
E as pessoas...que pessoas de coração bonito! O Dr. Prasith ensinou-me coisas sobre a vida que nunca irei esquecer, mais até do que me ensinou de veterinária. A Dra. Erika foi capaz de me transmitir mais conhecimentos e informações úteis para o futuro, sempre respondia às minhas questões e o seu amor e dedicação aos elefantes era irrevogável. E o Ahm? Um tailandês com um coração de ouro, provavelmente das pessoas mais queridas que conheci no parque. Ele e a Sarah tratavam de todos os cães e gatos que adoeciam no santuário. Da Lek nem sei o que dizer. Foi um prazer conhecê-la a ela e ao seu trabalho. É a mulher mais lutadora e destemida que conheci até hoje. É incrível o que ela conseguiu construir do nada em menos de vinte anos, tendo aberto o santuário com apenas uma generosa doação de um americano e três elefantes, e com os aldeões em redor todos contra ela. Hoje, dezanove anos depois, gere um santuário que acolhe de momento quarenta e um elefantes, que alberga anualmente centenas de voluntários e que dá emprego a mais de duzentas pessoas de forma continuada.
E a falta que me fazem aqueles gigantes de pele espessa? O “naughty” Navaan, os bebés Yindee e Dok Mae, a Jam Peng a quem eu me fartei de dar murros diariamente para lhe drenar o abcesso junto à mandíbula, a Malai Tong, a Dao Tong, a agressiva Pornsawan, a gigantesca Sri Nuan, a Jokia, a Lucky, Faa Mai e Faa Sai, a Permpoon, a maluca Tycoon, Dta Keow dos olhos verdes, a novata Tubtim, o Jungleboy, o Changyim, o Hope, a Jarundee e tantos outros! Só de me lembrar deles, vêm-me as lágrimas aos olhos...que nostalgia, que saudade.
Foram três semanas praticamente perfeitas. Senti-me como se tivesse, de alguma forma, encontrado o meu caminho. Mas agora estou de volta à dura realidade e ando perdida. Quem me mostra o rumo a seguir?
Rita Fernandes
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