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quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Trinitários: "Um menino custava 300 euros e uma menina 250"

Entre os objetivos, libertar as crianças em cativeiro, ajudar as escolas de Aleppo e as populações locais

Roma, 03 de Novembro de 2015 (ZENIT.org) Sergio Mora

Lutar contra o tráfico de pessoas, mas também libertar as crianças em cativeiro, apoiar as escolas na cidade síria de Alepo e apoiar as pessoas para que não fujam, preferindo fazer projetos nos lugares de origem que do que para os refugiados que chegam na Europa. Estas são algumas das missões hoje da Ordem da Santíssima Trindade e dos Cativos, também conhecida como ordem Trinitária, fundada por São João da Mata.

Em entrevista a ZENIT o presidente da Soliedariedade Internacional Trinitária, membro do Observatório do Cativeiro, o padre trinitário, Antonio Aurelio Fernandez, durante sua estadia em Roma, por ocasião da criação do Observatório do Cativeiro.

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ZENIT: Qual é a razão para a sua participação no Observatório do Cativeiro?
- Padre Antonio Fernández: Eu venho representando os Trinitários, temos um organismo que se chama Solidariedade Internacional. Está dedicado e focado para trabalhar com os países onde há perseguição. Minha presença aqui é para falar sobre esta organização e o que estamos fazendo e o que está acontecendo.

ZENIT: O primeiro objetivo deste Observatório é o tráfico de pessoas, embora agora o problema no Oriente Médio seja urgente
- Padre Antonio Fernández: Nós estamos há anos trabalhando contra este problema, até quatro ou cinco anos atrás, quando no Sudão existia uma guerra, nós, os Trinitários comprávamos as crianças para libertá-las. Construímos conjuntamente com os irmãos mercedários, em Khartum, uma granja escola para estas crianças que chegavam libertas, porque haviam assassinado suas famílias ou levado para outro local. É um projeto conjunto.

ZENIT: Qual a idade dessas crianças vendidas?
- Padre Antonio Fernández: A partir de 2 anos até 15 ou 16. Algumas crianças tinham sido transformadas em soldados e conseguiram escapar, mas, principalmente eram as dos mercados.

ZENIT: A que preço eles vendiam?
- Padre Antonio Fernández: Um menino por 300 euros, e uma menina por 250 euros. Quando se compravam não estavam soltos, eram grupos de cem, duzentos. Era a guerra entre o norte e sul, Sudão tinha muitos anos de guerra e não conseguia pagar os seus militares, e os uniformizados prendiam as pessoas. Onde nós temos projetos, Rumbek, bombardeavam três vezes por dia, não existia nada mais alto do que um metro. Matavam os homens e as demais pessoas eram espólio. Depois vinham os compradores que faziam grupos e os vendiam para a Arábia Saudita ou a Líbia. É um mercado que existia e nós procurávamos cortar essa linha de mercado para que fossem libertados.

ZENIT: Onde estavam essas granjas?
- Padre Antonio Fernández: No norte tínhamos as granjas reconhecidas, e como era uma ditadura islâmica tínhamos que buscar uma série de documentação para ser oficialmente reconhecidos. E o apresentávamos como crianças que tínhamos acolhido da rua. Agora já não, porque se separou o norte do sul e não existe este tipo de escravidão, embora existam escravos, que são os que tinham sido vendidos antes.

ZENIT: Onde estão trabalhando atualmente?
- Padre Antonio Fernández: Na Síria agora estamos seguindo e financiando todos os colégios cristãos de Aleppo. Era uma urgência, porque ao bombardear as escolas não havia meios para que os professores dessem aula, e as crianças estavam nas ruas. Isso servia para que o Estado Islâmico os convencesse, porque estas crianças, ao não terem futuro, ou dinheiro, vão passando para o Estado Islâmico que lhes dá o que querem.

Como uma necessidade urgente, o bispo pediu-nos o financiamento destas escolas em Aleppo e estamos fazendo isso este ano. Nós também estamos financiando alimentação. O que está acontecendo com os refugiados queremos evita-lo na sua origem. Que as pessoas não tenham que deixar as suas casas, não tenham que fugir. Em vez de financiar projetos aqui (Europa, ndr) para as pessoas que chegam, trata-se de financiar lá.

ZENIT: E funcionam os projetos no lugar para evitar que emigrem?
- Padre Antonio Fernández: Sim, mas dentro das limitações visto que estão bombardeando. Porque Aleppo está na zona de fronteira, tem como vizinho o Estado Islâmico. Se a população tem recursos que possam atende-la, procuram ficar no seu país. Temos também outro projeto que é de alimentação e água, porque a água não existe, é cortada pelos bombardeios, não tem água potável.

ZENIT: Como é possível sair dessa situação?
- Padre Antonio Fernández: Quem sabe é o Ocidente que causou isso, então, vão saber como se sai disso. Todas as pessoas que vêm aqui, é porque não têm recursos. Ninguém quer vir pra cá, mas viver na própria casa com a própria cultura. Europa não pode manter-se por si mesma, não tem suficientes recursos próprios, traz tudo de fora, trazemos coisas da África e de outros lugares, mas não queremos que venham as pessoas. Se deixamos que haja um comércio claro, normal, eles que fiquem lá. 

(03 de Novembro de 2015) © Innovative Media Inc.
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