O desafio é a qualidade das relações
Roma,
03 de Novembro de 2015
(ZENIT.org)
Jorge Enrique Mujica
O que significa ser um pai na era digital? A resposta requer muito
mais do que uma mera reflexão superficial, porque entre os chamados
"nativos digitais" encontra-se a geração dos "milennials", ou seja,
aqueles que nasceram entre 1980 e 2000, muitos dos quais estão começando
a ter ou têm os seus primeiros filhos.
E, precisamente, os "milennials" são aqueles que estão na capa da
revista Time de outubro de 2015 com um artigo cujo título é pouco
inspirador: “Socorro, os meus pais são milennials".
O artigo começa mostrando os novos hábitos alimentares dessa nova
geração de pais (veganos ou vegetarianos) e descrevendo sua
característica principal: são pessoas que cresceram com smartphones e
conectados nas redes sociais: sua vida é documentada com fotos no
Instagram, pensamentos em blogs e comentários no Facebook.
Essa mentalidade 'digital' na qual a autoridade é determinada pela
popularidade mensurável em "curtidas" ou número de "seguidores" passa
depois, também, para o ambiente familiar: os filhos podem ir aonde
quiserem porque o lar é uma mini democracia ou, o que é o mesmo, uma
“autoridade consensual". A permissividade é quase, quase, uma lei de
relações intrafamiliares.
A revista TIME relata que, em 2015, os milennials são cerca de 22
milhões nos Estados Unidos, com uma taxa de 9.000 recém-nascidos por
dia. Pelo menos 90% desses 22 milhões usa as redes sociais. Segundo
pesquisas da eMarketer só o 76% da "Geração X" e 59% da "geração baby
boomer" usa as redes sociais. Isso significa que as "milennials family"
são famílias que vivem na web: os convites de aniversário são recebidos
por Pinterest e as fotos das festas terminam no Instagram ou Snapchat. A
vida familiar se resume em tirar fotos e subir nas redes sociais. TIME
fala que as redes sociais são vitrines de alegria por meio da exibição
que os pais fazem dos seus filhos.
Uma pesquisa feita pela Survey Monkey revelava que pelo menos 46% dos
pais milennials postou fotos de seus filhos, até mesmo quando estes só
se encontravam no útero materno ou antes de que o seu filho fizesse um
ano. De acordo com a mesma pesquisa, alguns pais gostam de ver outros
pais milennials cuidando dos seus filhos. “A maioria dos pais joga,
consciente ou inconscientemente, com o custo-benefício de estar nas
redes sociais", diz Sarita Schoenebeck, professora da Universidade de
Michigan, que realizou um estudo sobre o uso do Facebook por parte de
mães milennials. Entre as suas conclusões está o fato de que para a
maioria das pessoas os benefícios de estar na media supera qualquer
crítica no campo da educação dos filhos.
Para muitos pais milennials o modo de superar problemas sobre a sua
tarefa como pais é precisamente as redes sociais: os seus amigos são os
“especialistas” e as mães que não sabem o que fazer com os seus bebés se
refugiam nos conselhos obtidos por meio dos grupos de Facebook ou
WhatsApp. De acordo com TIME, isso acontece até com o 58% dos pais
milennials. É evidente que não fazem o que o seus pais fizeram com eles:
perguntar para verdadeiros especialistas.
Mas não é só nesse campo onde se nota a quebra da geração de pais
milennials com as gerações anteriores: na maioria dos casos os
milennials já não enviam os seus filhos para aulas de ténis, piano ou
arte. A empresa Future Cast publicou em 2013 um informe sobre hábitos e
atitudes de milennials: 61% deles disseram que os filhos precisam jogar
de uma forma não estruturada. Isso, na prática, se reflete em algo tão
simples como que as decisões sobre o que fazem ou não os filhos já não
vêm dos pais mas das pesquisas que os pais fazem aos seus filhos. TIME
sugere que por trás disso é possível ter um forte individualismo e a
ideia de competitividade como um dos valores mais altos sob o slogan
"seja você mesmo".
É verdade que também os pais milennials reconhecem que é preciso
fazer malabarismos para ter a atenção das crianças hoje. Mas pelo menos
eles têm a intenção de testar, pois os milennials são de mente aberta e
pessoas que procuram a empatia; tendem a ser excessivamente otimistas,
acreditam no progresso e, acima de tudo, confiam no Google. De fato,
junto com as redes sociais o seu principal conselheiro é o famoso motor
de busca.
É, pois, evidente que as famílias digitais são famílias conectadas e
comunicadas mas, a qualidade das relações e a facilidade das conexões
não estão mudando o modo como as relações familiares são vividas e
experimentadas? A resposta a esta pergunta, de não pouco valor, poderá
vista com mais nitidez nos próximos anos.
(03 de Novembro de 2015) © Innovative Media Inc.
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