Louis Raphaël Sako, patriarca da Igreja católica caldeia, explica o que está acontecendo em seu país e encoraja os cristãos a continuar rezando até que passe a tempestade
Cidade do Vaticano, 22 de Julho de 2014 (Zenit.org)
O Patriarca Sako numa celebração católica caldeia |
O patriarca da Igreja católica caldeia, Louis Raphaël Sako, advertiu que os extremistas do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) "cometem atrocidades em nome da religião, mas contrariam os próprios ditames do Alcorão. Os iraquianos de todas as religiões e de todas as etnias devem se comprometer para que a grande herança comum deste país não seja despedaçada".
Louis Raphaël Sako escreveu uma carta aberta "a todos aqueles que
amam a unidade nacional do Iraque". O texto foi enviado à agência
AsiaNews.
Na carta, o patriarca de Bagdad explica que "a tomada da cidade de
Mossul pelos jihadistas islâmicos e a sua proclamação como submetida ao
EIIL, ocorrida depois de alguns dias de moderação e de espera,
deteriorou muito rapidamente a situação dos cristãos nessa cidade e nas
regiões circundantes". Os primeiros sinais foram os sequestros de duas
freiras e de três órfãos, libertados depois de 17 dias de cativeiro. O
patriarca reconhece que, "no primeiro momento, nos sentimos aliviados e
consideramos a libertação como fonte de esperança e como um início de
solução".
A surpresa aconteceu, explica ele na carta, quando o EIIL emitiu um
comunicado obrigando abertamente os cristãos a se converterem ao islão ou
a pagarem a jizya, imposto cobrado dos não muçulmanos, sem que o valor
fosse especificado. Os que não aceitassem deveriam abandonar a cidade e
as próprias casas, vestindo apenas a roupa do corpo e sem poderem levar
nenhum dos seus pertences. Depois, prossegue a carta, o EIIL "emitiu uma
fatwa (lei) para declarar que as casas dos cristãos passavam a ser
propriedade do Estado islâmico".
Imóveis em Mosul marcados com a letra "nun" (N) dentro de um círculo vermelho; o N de "nasraní" (nazareno, quer dizer, cristão) |
Sobre o que está acontecendo no Iraque, Louis Raphaël Sako afirma que
"essas ordens ofendem os próprios muçulmanos e a reputação do islão, que
sustenta a liberdade de cada um de ter a religião que quiser e proíbe a
constrição nos assuntos da fé. [As ordens dadas pelo EIIL] estão em
contradição com os 1.400 anos de história e de vida do mundo islâmico".
Sako acrescenta que a violação cometida pelo EIIL "ofende a
coexistência com diversas religiões e diversos povos, do oriente e do
ocidente, vivida em respeito recíproco do credo religioso ou em
fraternidade". Ele recorda na carta que os cristãos, desde o nascimento
do islão e “em particular em nosso oriente, compartilham com os
muçulmanos lembranças felizes e amargas; eles misturaram o seu sangue na
defesa dos próprios direitos e das próprias terras e construíram juntos
cidades, civilização e uma herança em comum”.
É “uma vergonha”, prossegue ele, “que agora os cristãos sejam
expulsos e sofram limitações em sua própria vida. É óbvio que este fenómeno terá consequências desastrosas no próprio contexto da
coexistência entre a maioria e as minorias e até mesmo entre os
muçulmanos. O Iraque está à beira de um desastre humanitário, cultural e
histórico".
O patriarca caldeu pede que sejam respeitados "os inocentes
desarmados, de qualquer etnia, religião ou seita", e lembra que "o Alcorão exige o respeito pelos inocentes e não impõe o sequestro forçado
das propriedades das pessoas. Pelo contrário, prega a ajuda às viúvas,
aos órfãos, aos frágeis e aos indefesos. Fala também de ajudar a todos
os vizinhos".
Aos cristãos da região, o patriarca pede "racionalidade e
perspicácia, calculando bem as próprias opções e tentando compreender o
que está previsto para a sua região, seguindo em frente com amor e
solidariedade para construir uma verdadeira confiança em si mesmos e nos
vizinhos". A recomendação é que os cristãos se reúnam perto das suas
igrejas, sejam pacientes, suportem e rezem até que a tempestade passe.
(22 de Julho de 2014) © Innovative Media Inc.
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