Em carta, o arcebispo de Canterbury explica a decisão do sínodo anglicano de ordenar mulheres bispas, decisão que, segundo o Patriarcado de Moscovo, "afastará muitos fiéis"
Roma, 21 de Julho de 2014 (Zenit.org)
Foi divulgada na semana passada a histórica decisão do
sínodo anglicano de ordenar mulheres bispas a partir de 2015. Enquanto o
Patriarcado Ortodoxo de Moscovo se declara "alarmado e decepcionado" com
a votação sinodal, o arcebispo de Canterbury, Justin Welby, primaz da
comunhão anglicana, enviou uma carta às organizações ecuménicas para
explicar os motivos dessa decisão.
Na carta, enviada na última quinta-feira e publicada pelo
Osservatore Romano, Welby diz que é consciente "de que esta histórica
decisão acarreta uma reacção dupla dentro da Igreja da Inglaterra. Muitos
acreditam que a nomeação de mulheres bispas reafirma o seu papel no
ministério da vida da Igreja, mas outros consideram que esta decisão
poderá ser fonte de decepção e de preocupação".
“Algumas das nossas igrejas irmãs em comunhão”, observa o arcebispo
de Canterbury, “compartilham a alegria de ter mulheres no episcopado.
Mas também somos conscientes de que os nossos interlocutores ecuménicos
encontrarão nesta decisão um novo obstáculo em nosso caminho rumo à
plena comunhão”. Mesmo assim, destaca Welby, "há muitas coisas que nos
unem e eu espero que os laços de amizade continuem se fortalecendo e que
o nosso entendimento mútuo continue crescendo no futuro".
As Igrejas "precisam umas das outras", afirma o primaz, que assegura
que a comunhão anglicana continuará o seu compromisso de “tornar mais
visível a nossa unidade com quem está em comunhão connosco” e de fomentar
“maior unidade com aqueles que ainda não estão”.
É evidente, observa Welby na carta, que "embora o nosso diálogo
teológico deva enfrentar novos desafios, ainda há algo que preocupa
grande parte do mundo de hoje: o nosso testemunho comum do Evangelho".
Em especial num momento histórico caracterizado "por diferentes
conflitos em muitas regiões do planeta, pela pobreza extrema, pelo
desemprego e pelas pessoas em fuga dos próprios países, tentando refúgio
em outros lugares". Portanto, "precisamos uns dos outros e, como
Igrejas fortalecidas pelo Espírito Santo, temos a tarefa de proclamar a
Boa Nova de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, bem como de lutar por
uma amizade mais estreita e por mais unidade".
O Departamento de Relações Exteriores do Patriarcado de Moscovo
manifestou o seu parecer a respeito: "A Igreja ortodoxa russa está
alarmada e decepcionada com a notícia da decisão da Igreja da Inglaterra
de admitir as mulheres ao episcopado".
Segundo a Igreja de Moscovo, esta é uma decisão que "impede
consideravelmente o diálogo entre ortodoxos e anglicanos" e "contribui
para aumentar as divisões no mundo cristão em geral". Além disso, "a
introdução do episcopado feminino também elimina a possibilidade teórica
de um reconhecimento por parte da Igreja ortodoxa da existência da
sucessão apostólica na hierarquia anglicana". O patriarcado acrescenta
que "a consagração de mulheres bispas contradiz a antiga tradição da
Igreja".
Para o patriarcado, a decisão do sínodo não teria sido motivada por
"uma necessidade teológica ou por assuntos da prática da igreja", mas
sim, diz a declaração, por "um esforço voltado a satisfazer a ideia
mundana da igualdade de género em todas as esferas da vida e melhorar o
papel da mulher na sociedade britânica". Em outras palavras, trata-se de
uma "secularização do cristianismo". A medida "afastará muitos fiéis
que, na instabilidade do mundo moderno, procuram apoio espiritual na
inquebrantável tradição do Evangelho e dos apóstolos".
(21 de Julho de 2014) © Innovative Media Inc.
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