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terça-feira, 22 de julho de 2014

O primaz anglicano Justin Welby escreve às organizações ecuménicas: "precisamos uns dos outros"

Em carta, o arcebispo de Canterbury explica a decisão do sínodo anglicano de ordenar mulheres bispas, decisão que, segundo o Patriarcado de Moscovo, "afastará muitos fiéis"


Roma, 21 de Julho de 2014 (Zenit.org)


Foi divulgada na semana passada a histórica decisão do sínodo anglicano de ordenar mulheres bispas a partir de 2015. Enquanto o Patriarcado Ortodoxo de Moscovo se declara "alarmado e decepcionado" com a votação sinodal, o arcebispo de Canterbury, Justin Welby, primaz da comunhão anglicana, enviou uma carta às organizações ecuménicas para explicar os motivos dessa decisão.

Na carta, enviada na última quinta-feira e publicada pelo Osservatore Romano, Welby diz que é consciente "de que esta histórica decisão acarreta uma reacção dupla dentro da Igreja da Inglaterra. Muitos acreditam que a nomeação de mulheres bispas reafirma o seu papel no ministério da vida da Igreja, mas outros consideram que esta decisão poderá ser fonte de decepção e de preocupação".

“Algumas das nossas igrejas irmãs em comunhão”, observa o arcebispo de Canterbury, “compartilham a alegria de ter mulheres no episcopado. Mas também somos conscientes de que os nossos interlocutores ecuménicos encontrarão nesta decisão um novo obstáculo em nosso caminho rumo à plena comunhão”. Mesmo assim, destaca Welby, "há muitas coisas que nos unem e eu espero que os laços de amizade continuem se fortalecendo e que o nosso entendimento mútuo continue crescendo no futuro".

As Igrejas "precisam umas das outras", afirma o primaz, que assegura que a comunhão anglicana continuará o seu compromisso de “tornar mais visível a nossa unidade com quem está em comunhão connosco” e de fomentar “maior unidade com aqueles que ainda não estão”.

É evidente, observa Welby na carta, que "embora o nosso diálogo teológico deva enfrentar novos desafios, ainda há algo que preocupa grande parte do mundo de hoje: o nosso testemunho comum do Evangelho". Em especial num momento histórico caracterizado "por diferentes conflitos em muitas regiões do planeta, pela pobreza extrema, pelo desemprego e pelas pessoas em fuga dos próprios países, tentando refúgio em outros lugares". Portanto, "precisamos uns dos outros e, como Igrejas fortalecidas pelo Espírito Santo, temos a tarefa de proclamar a Boa Nova de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, bem como de lutar por uma amizade mais estreita e por mais unidade".

O Departamento de Relações Exteriores do Patriarcado de Moscovo manifestou o seu parecer a respeito: "A Igreja ortodoxa russa está alarmada e decepcionada com a notícia da decisão da Igreja da Inglaterra de admitir as mulheres ao episcopado".

Segundo a Igreja de Moscovo, esta é uma decisão que "impede consideravelmente o diálogo entre ortodoxos e anglicanos" e "contribui para aumentar as divisões no mundo cristão em geral". Além disso, "a introdução do episcopado feminino também elimina a possibilidade teórica de um reconhecimento por parte da Igreja ortodoxa da existência da sucessão apostólica na hierarquia anglicana". O patriarcado acrescenta que "a consagração de mulheres bispas contradiz a antiga tradição da Igreja".

Para o patriarcado, a decisão do sínodo não teria sido motivada por "uma necessidade teológica ou por assuntos da prática da igreja", mas sim, diz a declaração, por "um esforço voltado a satisfazer a ideia mundana da igualdade de género em todas as esferas da vida e melhorar o papel da mulher na sociedade britânica". Em outras palavras, trata-se de uma "secularização do cristianismo". A medida "afastará muitos fiéis que, na instabilidade do mundo moderno, procuram apoio espiritual na inquebrantável tradição do Evangelho e dos apóstolos".

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