Actualizado 27 de Maio de 2014
Irene Hdez. Velasco / El Mundo
Irene Hdez. Velasco / El Mundo
Francisco com o jornalista Henrique Cymerman, muito conhecido como correspondente em Israel na imprensa espanhola |
Com os seus 55 anos Henrique Cymerman ainda se dá um ar a Tintim, o célebre repórter dos quadradinhos de Hergé. Não é só pela sua franja ruiva, porque teve um cão que se chamava Milú ou porque seja um veterano jornalista. Tal como Tintim este judeu nascido em Portugal de mãe espanhola e pai de origem polaca e residente em Israel desde há anos deu o salto ao outro lado, converteu-se ele mesmo em notícia pela mão de uma aventura incrível.
Aí onde o tem este tipo tão familiar para muitos espanhóis (é correspondente em Israel da Antena-3 desde 1991, e do diário La Vanguardia desde 1989) é o principal artífice na sombra da cimeira de paz que num par de semanas - provavelmente em 6 de Junho - reunirá no Vaticano Simon Peres e Abu Mazen.
Como nos episódios de Tintim, a suja é uma história alucinante que permite entender como se gerou esta cimeira de paz e deitar um olhar privilegiado ao modo de funcionar de Francisco.
A aventura arranca em Abril do ano passado, quando Cymerman deu várias conferências sobre o Médio Oriente em Espanha, Estados Unidos e América Latina. Uma delas pronunciou-a em Buenos Aires e ao finalizar a palestra se aproximou dele o rabino Abraham Skorka, grande amigo do Papa e a quem acompanha nesta viagem à Terra Santa como membro do séquito papal.
Skorka tinha gostado muito da conferência de Cymerman, e ofereceu-lhe que o acompanhasse a ver o Papa e poder entrevista-lo para um importante programa de reportagens da televisão israelita que se emite às sextas-feiras e com o qual colabora o jornalista. "Skorka disse-me que o Papa queria mandar uma mensagem ao povo judeu", contava-nos ontem o repórter.
No dia seguinte desse primeiro contacto, Skorka mandou um e-mail a Cymerman anunciando-lhe que o Papa os receberia no Vaticano em 7 de Junho. Mas logo nesse dia o jornalista tinha outro compromisso ao qual não podia faltar: casava-se a sua filha mais velha. "Skorka comentou-o ao Papa. Francisco deu os parabéns através do seu e mudou a entrevista para 13 de Junho".
Nesse dia Cymerman e o rabino Skorka não faltaram à convocatória e apresentaram-se pontuais na casa Santa Marta, a residência do Vaticano onde vive Francisco.
Cymerman e a sua câmara começaram a gravar o Papa, e utilizaram logo o material para uma reportagem de televisão que logo se traduziu em cinco línguas. O pontífice, ao concluir a entrevista, convidou-os a almoçar no refeitório de Santa Marta, e ao acabar a comida fez chamar Cymerman. Estiveram falando uma hora, sem câmara. O jornalista contou por exemplo ao Papa que de criança tinha estudado nos marianistas e que uma vez um sacerdote não o tinha deixado jogar futebol com as demais crianças por ser judeu. Ao Papa, segundo conta no seu último número a revista portuguesa Visão, se lhe humedeceram os olhos e disse a Cymerman: "É para evitar que se repitam histórias como essa que estou aqui. O anti-semitismo é um pecado".
Visita à Terra Santa
Nesse mesmo primeiro encontro, o Papa perguntou ao jornalista que podia fazer pelo Médio Oriente "Eu disse-lhe que em primeiro lugar visitar a zona, porque sendo ele como é isso lançaria uma mensagem importante".
Francisco devolveu-lhe então a bola: "Tu ajudas-me?", perguntou-lhe.
Começou assim uma colaboração entre o Papa e o repórter. Há sete meses, com outras pessoas entre as quais destaca o rabino Skorka, começaram a trabalhar toda a máquina na visita do Papa à Terra Santa.
Cymerman deitou mão dos seus excelentes contactos ao mais alto nível entre palestinianos e israelitas e começou a falar com Simon Peres, com Abu Mazan... Tão bons que, segundo conta a revista Visão, no seu primeiro encontro o Papa comentou ao periodista que tinha o convite de Simon Peres para ir visitar Israel, mas não o das autoridades palestinianas.
Cymerman telefonou pelo seu telemóvel ao porta-voz de Abu Mazen e em questão de minutos o convite ao Papa para visitar os territórios palestinianos se materializou. O repórter voltou depois ao Vaticano em outras três ocasiões para reunir-se com Francisco. A última, há só três semanas.
"Não sou o único, nem muitíssimo menos que deitou uma mão nesta viagem. Mas ajudei em algumas coisas", admite.
A ideia era tratar de aproveitar a viagem do Papa aos territórios palestinianos e a Israel para tratar de impulsionar um encontro entre os líderes dessas duas partes, num momento no qual as negociações se encontram em profunda crise. "Este é um dos momentos mais difíceis que eu recordo desde a segunda intifada, o processo de paz promovido pelos Estados Unidos encontra-se completamente parado, sobretudo porque nunca reuniram as duas partes em conflito", assinala Cymerman.
'Tens carta branca'
Aí onde o tem este tipo tão familiar para muitos espanhóis (é correspondente em Israel da Antena-3 desde 1991, e do diário La Vanguardia desde 1989) é o principal artífice na sombra da cimeira de paz que num par de semanas - provavelmente em 6 de Junho - reunirá no Vaticano Simon Peres e Abu Mazen.
Como nos episódios de Tintim, a suja é uma história alucinante que permite entender como se gerou esta cimeira de paz e deitar um olhar privilegiado ao modo de funcionar de Francisco.
A aventura arranca em Abril do ano passado, quando Cymerman deu várias conferências sobre o Médio Oriente em Espanha, Estados Unidos e América Latina. Uma delas pronunciou-a em Buenos Aires e ao finalizar a palestra se aproximou dele o rabino Abraham Skorka, grande amigo do Papa e a quem acompanha nesta viagem à Terra Santa como membro do séquito papal.
Skorka tinha gostado muito da conferência de Cymerman, e ofereceu-lhe que o acompanhasse a ver o Papa e poder entrevista-lo para um importante programa de reportagens da televisão israelita que se emite às sextas-feiras e com o qual colabora o jornalista. "Skorka disse-me que o Papa queria mandar uma mensagem ao povo judeu", contava-nos ontem o repórter.
No dia seguinte desse primeiro contacto, Skorka mandou um e-mail a Cymerman anunciando-lhe que o Papa os receberia no Vaticano em 7 de Junho. Mas logo nesse dia o jornalista tinha outro compromisso ao qual não podia faltar: casava-se a sua filha mais velha. "Skorka comentou-o ao Papa. Francisco deu os parabéns através do seu e mudou a entrevista para 13 de Junho".
Nesse dia Cymerman e o rabino Skorka não faltaram à convocatória e apresentaram-se pontuais na casa Santa Marta, a residência do Vaticano onde vive Francisco.
Cymerman e a sua câmara começaram a gravar o Papa, e utilizaram logo o material para uma reportagem de televisão que logo se traduziu em cinco línguas. O pontífice, ao concluir a entrevista, convidou-os a almoçar no refeitório de Santa Marta, e ao acabar a comida fez chamar Cymerman. Estiveram falando uma hora, sem câmara. O jornalista contou por exemplo ao Papa que de criança tinha estudado nos marianistas e que uma vez um sacerdote não o tinha deixado jogar futebol com as demais crianças por ser judeu. Ao Papa, segundo conta no seu último número a revista portuguesa Visão, se lhe humedeceram os olhos e disse a Cymerman: "É para evitar que se repitam histórias como essa que estou aqui. O anti-semitismo é um pecado".
Visita à Terra Santa
Nesse mesmo primeiro encontro, o Papa perguntou ao jornalista que podia fazer pelo Médio Oriente "Eu disse-lhe que em primeiro lugar visitar a zona, porque sendo ele como é isso lançaria uma mensagem importante".
Francisco devolveu-lhe então a bola: "Tu ajudas-me?", perguntou-lhe.
Começou assim uma colaboração entre o Papa e o repórter. Há sete meses, com outras pessoas entre as quais destaca o rabino Skorka, começaram a trabalhar toda a máquina na visita do Papa à Terra Santa.
Cymerman deitou mão dos seus excelentes contactos ao mais alto nível entre palestinianos e israelitas e começou a falar com Simon Peres, com Abu Mazan... Tão bons que, segundo conta a revista Visão, no seu primeiro encontro o Papa comentou ao periodista que tinha o convite de Simon Peres para ir visitar Israel, mas não o das autoridades palestinianas.
Cymerman telefonou pelo seu telemóvel ao porta-voz de Abu Mazen e em questão de minutos o convite ao Papa para visitar os territórios palestinianos se materializou. O repórter voltou depois ao Vaticano em outras três ocasiões para reunir-se com Francisco. A última, há só três semanas.
"Não sou o único, nem muitíssimo menos que deitou uma mão nesta viagem. Mas ajudei em algumas coisas", admite.
A ideia era tratar de aproveitar a viagem do Papa aos territórios palestinianos e a Israel para tratar de impulsionar um encontro entre os líderes dessas duas partes, num momento no qual as negociações se encontram em profunda crise. "Este é um dos momentos mais difíceis que eu recordo desde a segunda intifada, o processo de paz promovido pelos Estados Unidos encontra-se completamente parado, sobretudo porque nunca reuniram as duas partes em conflito", assinala Cymerman.
'Tens carta branca'
Apesar dos esforços de todas as pessoas implicadas com o Papa em tratar de promover um encontro de paz entre Peres e Abu Mazen durante a visita de Francisco à Terra Santa, o ambiente é tão mau que não o conseguiram. Mas na sexta-feira, o dia antes que começasse a viagem do Papa, conseguiram que as duas partes acordaram encontrar-se no Vaticano em duas semanas, provavelmente em 6 de Junho próximo.
Cymerman cobre esta viagem para uma cadeia de televisão israelita e era um dos 70 jornalistas que viajaram com o Papa desde Roma à Terra Santa. Quando Francisco foi saudá-lo, como fez com todos os demais jornalistas, alguns colegas de Cymerman ouvimos que lhe dizia: "Em frente, gosto da ideia, tens carta-branca para isso". E logo, ao volver a passar junto a ele, acrescentou: "Em duas semanas". Agora fica claro que estavam falando do encontro de paz entre Peres e Abu Mazen.
"Francisco tem uns dotes de liderança incríveis, centraliza tudo, controla tudo. Foi ele quem pensou em tudo, ele fez o programa da viagem como se fosse um artesão. Eu conheço muitos líderes, e na minha opinião está por cima de todos eles. Só está à sua altura Simon Peres, a quem Francisco admira profundamente", afirma.
De facto, se o encontro entre o presidente israelita e o palestiniano se vai realizar dentro de duas semanas não é só para aproveitar o empurrão da viagem de Francisco à Terra Santa, mas também porque Peres deixará o seu cargo em finais de Julho próximo.
"Eu não creio que da reunião no Vaticano entre Simon Peres e Abu Mazen se possa esperar a curto prazo a paz. A paz não se consegue de um dia para o outro. Mas creio que se pudesse provocar uma mudança na atmosfera, que agora mesmo é muito má. O convite que lhes fez o Papa é um gesto, sim. Mas um gesto importante e sobretudo valente", assegura Cymerman, que não oculta a sua admiração profunda por Francisco.
Cymerman cobre esta viagem para uma cadeia de televisão israelita e era um dos 70 jornalistas que viajaram com o Papa desde Roma à Terra Santa. Quando Francisco foi saudá-lo, como fez com todos os demais jornalistas, alguns colegas de Cymerman ouvimos que lhe dizia: "Em frente, gosto da ideia, tens carta-branca para isso". E logo, ao volver a passar junto a ele, acrescentou: "Em duas semanas". Agora fica claro que estavam falando do encontro de paz entre Peres e Abu Mazen.
"Francisco tem uns dotes de liderança incríveis, centraliza tudo, controla tudo. Foi ele quem pensou em tudo, ele fez o programa da viagem como se fosse um artesão. Eu conheço muitos líderes, e na minha opinião está por cima de todos eles. Só está à sua altura Simon Peres, a quem Francisco admira profundamente", afirma.
De facto, se o encontro entre o presidente israelita e o palestiniano se vai realizar dentro de duas semanas não é só para aproveitar o empurrão da viagem de Francisco à Terra Santa, mas também porque Peres deixará o seu cargo em finais de Julho próximo.
"Eu não creio que da reunião no Vaticano entre Simon Peres e Abu Mazen se possa esperar a curto prazo a paz. A paz não se consegue de um dia para o outro. Mas creio que se pudesse provocar uma mudança na atmosfera, que agora mesmo é muito má. O convite que lhes fez o Papa é um gesto, sim. Mas um gesto importante e sobretudo valente", assegura Cymerman, que não oculta a sua admiração profunda por Francisco.
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