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terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Os cristãos e a basílica de São Paulo Extramuros

O papa traça o seu programa para a união das Igrejas


Roma, 27 de Janeiro de 2014 (Zenit.org) Alfonso M. Bruno



A basílica patriarcal de São Paulo Extramuros foi construída, à época, relativamente longe da Urbe, como um baluarte contra as incursões dos sarracenos que podiam desembarcar na costa de Ostia e, dali, ameaçar a cidade. Eles conseguiram, de fato, alcançá-la em uma ocasião. O antigo templo, que, por um lado, localiza-se longe dos Muros Aurelianos, é rodeado, por outro, pelo seu próprio perímetro defensivo, o que o faz parecer uma fortaleza.

Depois do concílio, ele se tornou símbolo do ecumenismo cristão, escolhido como sede de muitos encontros entre os católicos e os que já foram chamados de "irmãos separados", como a significar que o cristianismo, no mundo de hoje, vive sob cerco e exige a superação das suas divisões internas.

Antes do cisma promovido por Henrique VIII, São Paulo Fora dos Muros era a Igreja nacional dos ingleses, assim como São Luís ainda é a dos franceses. Por isso, vários papas recebem solenemente, ali, os primazes de Canterbury (Paulo VI chegou a tirar o “anel do Pescador”, símbolo do poder papal, e dá-lo ao primaz dos anglicanos). Quando a plena comunhão for restabelecida, o templo será confiado aos cristãos do outro lado do Canal da Mancha.

Nesse contexto histórico, o novo papa surgiu como protagonista do diálogo com os outros cristãos, esperado nas vésperas solenes do dia da festa de São Paulo pelo representante dos anglicanos, Moxon, e pelo dos ortodoxos, Gennadios.

Todos esperavam que Bergoglio traçasse um programa relativo ao diálogo entre as Igrejas, mas o papa, mesmo dizendo coisas novas, só poderia reiterar e ampliar alguns dos conceitos já expostos nos meses anteriores. O primeiro e mais importante deles foi afirmado desde o momento em que ele se apresentou, recém-eleito, aos fiéis, qualificando a si mesmo como "bispo de Roma".

Assim era considerado o papa, como sabe quem conhece a história da Igreja, até o pontificado de São Silvestre, contemporâneo de Constantino: só a partir de então é que o titular da Sé da Urbe começou a se atribuir um poder sobre as outras igrejas locais.

Ouçamos as palavras precisas do papa: "O caminho ecuménico nos permitiu aprofundar a nossa compreensão do ministério do Sucessor de Pedro e nós temos de ter a certeza de que ele prosseguirá neste caminho no futuro".

Isto significa que a redefinição do primado de Pedro, cujas formas de exercício a encíclica "Ut unum sint", de João Paulo II, tinha prospectado discutir, é um “trabalho em andamento”, em relação ao qual as diversas igrejas não estão apenas discutindo, mas trabalhando juntas.

E aqui voltamos à consideração do método de governo do papa, comparável com um maestro que confia nas capacidades de cada um dos membros da orquestra: mais do que comandar, ele os coordena e harmoniza uns com os outros.

Se somarmos a isso que os responsáveis ​​pelo diálogo entre as Igrejas não são, evidentemente, só os católicos, mas também os membros de outras denominações cristãs, chegamos à conclusão de que o trabalho iniciado continuará e chegará a bom porto. A unidade, diz o papa, não virá como um milagre no final da jornada, mas ao longo dela, feita pelo Espírito Santo.

O diálogo não é, afinal, uma negociação que pode dar certo ou falhar, mas um trabalho conjunto concreto, que já prefigura o próprio sucesso. O objectivo, afirma Bergoglio, consiste na "diversidade reconciliada": não é uma "reductio ad unum", nem do ponto de vista organizativo e disciplinar, nem do ponto de vista propriamente doutrinal. O papa prefigura um cristianismo em que, ao redor de verdades indiscutíveis da fé, haja espaço para um debate aberto. Em vez da "reductio ad unum", trata-se da realização do "e pluribus unum".

"Last but not least", o papa traz bem vivo no coração o que ele chama de “trabalho nas tantas coisas que podemos fazer neste mundo pelo povo de Deus”. Ele certamente leva em grande consideração o compromisso humanitário comum: a crise não pode provocar a exasperação das diversas identidades religiosas, comprometendo a colaboração ecuménica: às vezes, há lutas dentro de uma mesma fé, como é evidenciado hoje pela situação de incipiente guerra civil na Ucrânia, em que ambos os adversários são cristãos ortodoxos.

Esse "hospital de campanha", que é a Igreja, se tornou um hospital de campanha em que todos os homens de boa vontade trabalham juntos: "ut unum sint", aliás.

(27 de Janeiro de 2014) © Innovative Media Inc.
 
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