Nenhum país pobre até 2035?
Roma, 28 de Janeiro de 2014 (Zenit.org) John Flynn, LC
Um dos temas discutidos no recente Fórum Económico Mundial, em Davos, foi a distribuição da riqueza.
Um relatório publicado pelo Oxfam (Comité de Oxford de Combate à
Fome), pouco antes do fórum, relata a impactante notícia de que as 85
pessoas mais ricas do mundo detêm a mesma parcela de riqueza que os 50%
mais pobres de toda a população mundial.
De acordo com o relatório, sete em cada dez pessoas vivem em países
nos quais a desigualdade económica cresceu nos últimos 30 anos. De fato,
entre 1980 e 2012, o 1% mais rico da população mundial teve aumento de
renda em 24 de 26 países analisados.
A extrema desigualdade económica é prejudicial e preocupa por muitos
motivos: ela é moralmente discutível, ela pode impactar negativamente no
crescimento económico e na redução da pobreza e pode também causar uma
infinidade de problemas sociais, afirma o relatório.
Mas nem tudo são más notícias. O Oxfam observa também que, durante a
última década, alguns países latino-americanos reduziram o nível de
desigualdade económica.
O Comité apela aos líderes políticos e empresariais de todo o mundo,
reunidos em Davos, para tomarem medidas concretas que assegurem uma
distribuição mais equitativa da riqueza.
Na Europa, por exemplo, a riqueza das 10 pessoas mais ricas supera os
custos totais das medidas de estímulo implementadas em toda a União
Europeia entre 2008 e 2010 (217 contra 200 mil milhões de euros).
O Oxfam destaca que as políticas de austeridade estão tendo impacto
desproporcional sobre os pobres e sobre a classe média. O relatório cita
dados do Credit Suisse que apontam que 10% da população mundial detém
86% de todo o património do planeta.
Um dos principais problemas dentro desta panorâmica é a evasão
fiscal. O Oxfam afirma que a totalidade do dinheiro mantido em paraísos
fiscais equivale a todo o PIB anual dos Estados Unidos.
A solução não é fácil de ser encontrada. As políticas mais
simplistas, baseadas no aumento da carga fiscal sobre os mais ricos ou
na intervenção do Estado na economia, vêm se revelando completos
fracassos.
O papa Francisco, que já é bem conhecido pela preocupação com os
pobres, reconheceu em sua mensagem no Fórum Económico Mundial de Davos a
substancial contribuição da comunidade financeira e empresarial para o
progresso humano. Ele observou também que o sucesso dessas empresas
reduziu a pobreza para muita gente. Ao mesmo tempo, acrescentou, ainda
existem muitas pessoas em situação de insegurança económica.
"É intolerável que milhares de pessoas morram diariamente de fome,
apesar da disponibilidade de enormes quantidades de comida, que, muitas
vezes, é simplesmente desperdiçada", disse o papa.
O pontífice convidou tanto os políticos quanto os empresários a
encontrarem soluções para este problema. "Aqueles que, com a sua
inteligência e habilidades profissionais, foram capazes de criar
inovação e promover o bem-estar de tantas pessoas, podem contribuir
ainda mais, colocando a sua experiência a serviço de quem ainda vive na
indigência".
Citando Bento XVI, Francisco pediu abertura a uma visão transcendente
da pessoa e a processos que distribuam melhor a riqueza. A comunidade
financeira e empresarial internacional, ressaltou o papa, está cheia de
pessoas motivadas por ideais elevados, que se preocupam genuinamente com
os outros. "Eu os encorajo a utilizar os grandes recursos morais e
humanos e a enfrentar este desafio com determinação e visão ampla",
afirma o Santo Padre na mensagem. "Sem ignorar, é claro, a
especificidade profissional e científica cada contexto, eu os convido a
agir para que a riqueza fique a serviço da humanidade em vez de
governá-la", acrescenta o papa.
A contribuição positiva do mundo dos negócios e do mercado é
destacada também no ensaio publicado em 21 de Janeiro pela Fundação Bill
e Melinda Gates no jornal The Australian.
Os países pobres não estão condenados a permanecer pobres, diz o
casal Gates. Desde 1960, a renda per capita real na China aumentou oito
vezes; na Índia, ela quadruplicou; no Brasil, aumentou quase cinco
vezes. Embora ainda existam muitos problemas na África, os Gates
observam que a renda per capita aumentou em dois terços desde 1998 no
continente. Até 2035, prevêem eles, "quase não haverá mais países pobres
no mundo".
Tal cenário exigirá muitas decisões difíceis não apenas na política e
na economia, mas também, como explica o papa Francisco, uma abertura ao
transcendente. Em sua exortação apostólica Evangelii Gaudium, ele
escreve: "Quando a vida interior se fecha nos seus próprios interesses,
não há mais espaço para os outros, não entram mais os pobres, não se
ouve mais a voz de Deus, não se desfruta mais da doce alegria do seu
amor, não palpita o entusiasmo de fazer o bem".
(28 de Janeiro de 2014) © Innovative Media Inc.
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