Famílias de fé muçulmana ajudaram a reconstruir uma igreja católica dedicada a São Nicolau
Roma, 28 de Janeiro de 2014 (Zenit.org) Federico Cenci
Embora esteja se recuperando de uma história conturbada e
ainda marcada por muitos problemas, a Albânia é capaz de surpreender
positivamente. Vêm de lá notícias recentes sobre tolerância e
coexistência religiosa, como a que reproduzimos a seguir.
No povoado de Derven, em Krujua (reduto nacionalista durante as
invasões otomanas), quinze famílias de fé muçulmana ajudaram com
dinheiro e trabalho voluntário a reconstruir uma igreja católica
dedicada a São Nicolau. De acordo com a emissora albanesa A1 Report, é a
terceira reconstrução da igreja, que já foi destruída na Segunda Guerra
Mundial e durante o regime comunista.
Os moradores do povoado estão assombrados com o impacto que o seu
gesto despertou na media. Eles declararam aos repórteres, candidamente,
que agiram dessa maneira porque estão habituados a viver em harmonia,
sem dar peso às diferenças religiosas. Durante a cerimónia de
inauguração da nova igreja, esteve presente o bispo auxiliar de Tirana,
dom George Frendo, que apertou a mão de cada representante da comunidade
muçulmana local e lhes agradeceu pessoalmente. “Pensei que haveria aqui
umas vinte pessoas”, disse o bispo, surpreso ao ver tanta gente. “Mas
estou feliz por ver tantas crianças, porque São Nicolau é o santo
padroeiro delas”. O bispo também afirmou que o trabalho feito em
conjunto reforça ainda mais a convivência religiosa na Albânia.
Pashk Cypi, prefeito de Derven, também afirmou: "Sem distinção de
religião, muçulmanos e católicos se juntaram voluntariamente num
trabalho que reconstruiu a igreja de São Nicolau. A comunidade católica é
muito grata por este gesto de solidariedade e de fraternidade, um gesto
que deixa orgulhosos não só os cidadãos de Derven, mas toda a Albânia,
que, mais uma vez, mostra que a convivência entre as religiões não é uma
miragem".
Ao longo dos séculos, de fato, a Albânia conseguiu superar muitas
dificuldades suscitadas pelas diferenças religiosas, tornando-se um
caleidoscópio interconfessional unido pelo patriotismo comum. Vaso
Pasha, um dos poetas do Renascimento albanês, glorificou de forma
nacionalista essa peculiaridade do país, escrevendo no final do século
XIX: "A religião dos albaneses é a albanesidade".
Hoje, é difícil traçar um perfil religioso do país balcânico. O
último censo, de 1938, pode ter sofrido mudanças muito significativas
depois de mais de quatro décadas de ateísmo de Estado imposto pelo
regime comunista. De acordo com aquele já obsoleto levantamento, os
católicos constituiriam 10% da população e viveriam principalmente na
parte norte da Albânia; outros 20% seriam ortodoxos e os restantes 70%
seriam muçulmanos, divididos entre sunitas, uma minoria xiita e um grupo
bektashi, ramo derivado dos sufis.
Após a queda do regime totalitário, em 1991, foi abolida a proibição
das práticas religiosas, permitindo gradualmente que a religião voltasse
a desempenhar um papel público na sociedade albanesa. A reconstrução de
igrejas e mesquitas foi, e ainda é, o símbolo tangível desse novo
caminho empreendido pela Albânia.
(28 de Janeiro de 2014) © Innovative Media Inc.
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