D. António Vitalino apela a um entendimento que permita encontrar «soluções viáveis que mereçam a confiança» dos portugueses e da troika
Beja, 21 Jan 2014 (Ecclesia) – O bispo de Beja diz que a
estabilidade económica e social portuguesa continua refém de “interesses
partidários e de grupos” que em nada contribuem para “o bem do povo” e
pede mais “união” na abordagem aos problemas do país.
Na sua nota semanal, enviada à Agência ECCLESIA, D. António Vitalino
considera incompreensível que os políticos eleitos não procurem
“entender-se” no sentido de encontrarem “soluções viáveis que mereçam a
confiança” do “povo português” e também “daqueles que emprestam
dinheiro” a Portugal.
O membro da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana
admite que “não é fácil governar em tempo de crise” mas salienta que é
preciso fazer algo mais do que “reduzir a despesa e aumentar a receita”
ou simplesmente falar sobre a “reforma do Estado” para contrariar a actual conjuntura sócio-económica.
Para o prelado, é preciso concretizar uma “verdadeira reforma” das
instâncias governativas “em ordem a criar um Estado mais justo, em que
ninguém é excluído do bem-estar, embora se deva premiar o mérito e a
responsabilidade”.
D. António Vitalino defende ainda “uma renovação das pessoas e suas
organizações sociais, económicas e laborais” e realça que “a Igreja e as
religiões podem contribuir” para uma “nova mentalidade, a partir do
interior da pessoa e das suas relações fundamentais, a começar pela
família”.
No mesmo texto, o bispo de Beja fala sobre a “renovação da Igreja” e
alerta para “o perigo” de as pessoas se deixarem “arrastar pela
interpretação feita pela comunicação social” de alguns gestos do Papa
Francisco.
Recentemente, o Papa argentino baptizou “na festa do Baptismo do Senhor
32 crianças, entre elas uma filha de mãe solteira e outra de um casal
sem o sacramento do matrimónio”.
Segundo o prelado alentejano, “nada foi dito acerca das
circunstâncias em que foram realizados esses baptismos e pouco se falou
da insistência do Papa na obrigação grave dos adultos serem testemunhas
da fé junto das crianças e lhes transmitirem a fé”.
A acção de Francisco - acrescenta o responsável católico - não
prefigura um afastamento das “normas da Igreja, sobretudo as contidas no
Código de Direito Canónico” antes vai ao encontro de um critério
fundamental que é o da “salvação das almas”.
“É dever da hierarquia avaliar as condições, acolher bem quem pede o baptismo, explicar as razões dos nossos procedimentos pastorais, deixando
sempre a porta e a janela da Igreja abertas para quem quer entrar, para
ser membro vivo da comunidade cristã”, aponta D. António Vitalino.
Por isso é que “a Igreja, em alguns casos, não recusa o baptismo, mas
adia para mais tarde, para quando haja condições de as crianças
receberem o testemunho e transmissão da fé, seja através dos adultos
intervenientes seja através da catequese na comunidade paroquial”.
Por outro lado, “embora nem todas as normas tenham o mesmo valor e
algumas possam mudar com o evoluir dos tempos ou de acordo com a
diversidade cultural nos diversos continentes, a mudança não pode ser
arbitrária, deixada ao critério dos fiéis ou dos ministros ordenados,
sejam eles bispos, padres ou diáconos”, conclui.
JCP
in
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