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terça-feira, 28 de janeiro de 2014

O som silencioso das lágrimas históricas por trás da música dos violinos

Em carta ao rabino Skorka por ocasião da Jornada da Memória, o papa se dirigiu aos participantes do concerto "Violinos da Esperança", no Parco della Musica, em Roma


Roma, 27 de Janeiro de 2014 (Zenit.org)


Nem discursos oficiais, nem mensagens particulares, mas apenas uma carta pessoal para o amigo de sempre, o rabino de Buenos Aires, Abraham Skorka. Foi assim que o papa Francisco quis manifestar a sua proximidade ao povo judeu nesta Jornada da Memória. No texto, escrito de próprio punho em espanhol e que será lido hoje à noite no Parco della Musica, em Roma, durante o concerto "Violinos da Esperança", Bergoglio confia ao amigo o seu horror pela tragédia do Holocausto, que ele estigmatiza como uma "vergonha da humanidade".

O papa faz votos de que todos os participantes no evento musical desta noite, organizado para recordar as vítimas do Holocausto, "se identifiquem com essas lágrimas históricas, que hoje chegam até nós através dos violinos", e sintam "o forte desejo de se comprometer para que nunca mais se repitam tais horrores, que são uma vergonha para a humanidade".

Indo além das melodias de Vivaldi, Beethoven e de outros grandes compositores, o que importa para o Santo Padre é que "o coração de cada um dos presentes sinta que, por trás do som da música, vive o som silencioso das lágrimas históricas, lágrimas que deixam marcas na alma e no corpo dos povos".

Como sugere o título do evento, os protagonistas do concerto serão doze violinos e um violoncelo que sobreviveram ao Holocausto. Reencontrados e restaurados pelo luthier israelense Amnon Weinstein, eles tocarão juntos pela primeira vez na Itália. Entre os instrumentos, o público poderá ouvir as notas tristes de um violino que acompanhava os deportados nas câmaras de gás de Auschwitz, um violino jogado de um trem a caminho dos campos de concentração, que foi recolhido e guardado por um operário francês, e os violinos de músicos judeus que saíram da Alemanha em 1936 para formar a Orquestra Filarmónica da Palestina, posteriormente de Israel, a qual foi intensamente desejada por Toscanini e por Huberman como meio para salvá-los da deportação.
 
O violino é um "instrumento errante", dizem os organizadores do concerto, que "seguia os judeus em suas peregrinações, mesmo nas mais extremas, de fuga e de morte". Nesta noite, os violinos serão tocados por músicos representantes das três religiões monoteístas. Uma decisão significativa, destinada a enfatizar "o poder que a música tem de unir, apesar de todas as fronteiras, e de dar esperança mesmo nas mais terríveis provações".

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