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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

A rede digital não é feita só de fios, mas de seres humanos

Em mensagem pela 48ª Jornada Mundial das Comunicações Sociais, o papa Francisco indica o bom samaritano como "ícone" da evangelização na internet


Roma, 23 de Janeiro de 2014 (Zenit.org) Luca Marcolivio


A media deve derrubar os muros da indiferença, tornar-se instrumento de solidariedade entre os homens e ajudá-los a lutar contra a pobreza e a marginalização. Este é o espírito da mensagem do papa Francisco para a 48ª Jornada Mundial das Comunicações Sociais, que será celebrada em 1º de Junho e proporá o tema “Comunicação a Serviço de uma Autêntica Cultura do Encontro”.

O mundo de hoje, disse o papa, graças a inovações tecnológicas no transporte e na comunicação de massa, "está se tornando cada vez menor" e, em teoria, "deveria nos tornar mais próximos uns dos outros".

A realidade, no entanto, nos mostra "divisões, às vezes muito marcadas", e uma "distância escandalosa entre o luxo dos mais ricos e a miséria dos mais pobres".
Às muitas formas de "exclusão, marginalização e pobreza" acrescentam-se inúmeros conflitos "em que se misturam causas económicas, políticas, ideológicas e, infelizmente, também religiosas".

Neste contexto, os meios de comunicação podem ajudar a redescobrir "um renovado senso de unidade da família humana, que leva à solidariedade e ao compromisso sério com uma vida mais digna" e a "resolver as diferenças através de formas de diálogo que nos permitam crescer na compreensão e no respeito", bem como na "cultura do encontro".

"A internet, em particular, pode oferecer mais possibilidades de encontro e de solidariedade entre todos. E isso é uma coisa boa, é um dom de Deus". Mas há também "aspectos problemáticos: a velocidade da informação, por exemplo, excede a nossa capacidade de reflexão e de julgamento e não permite uma expressão pessoal comedida e correta".

Já a "variedade de informações", que pode ser percebida como uma "riqueza", também tende a fechar o usuário em uma esfera de informações que correspondem apenas às suas "expectativas" ou "ideias", ou mesmo a "certos interesses políticos e económicos". Além disso, quem "não tem acesso à media social corre o risco de ser excluído".

Todas essas limitações nos lembram que a comunicação é "uma conquista mais humana do que tecnológica". Por conseguinte, é preciso recuperar "um certo senso de calma", que exige "tempo e capacidade de fazer silêncio para escutar".
É também necessário acolher a pessoa diferente de nós, que não pode ser "meramente tolerada". Isto nos permitirá não só "apreciar a experiência humana como ela se manifesta nas várias culturas e tradições", mas também os "grandes valores inspirados pelo cristianismo, como a visão do homem como pessoa, o casamento e a família, a distinção entre o religioso e o político, os princípios de solidariedade e subsidiaridade".

Mas como se manifesta uma verdadeira cultura do encontro e da proximidade nas medias sociais de hoje? Francisco cita a parábola do bom samaritano (Lc 10,29) e o conceito de "próximo" que ela contém.

O bom samaritano, diz o papa, é também um bom "comunicador": como Jesus, ele não se limita a reconhecer o outro como "semelhante", mas sabe "ser semelhante ao outro". "Comunicar significa tornar-nos conscientes de sermos humanos, filhos de Deus. Eu gosto de definir esse poder da comunicação como proximidade".

O risco hoje é que "alguns meios de comunicação nos condicionem e nos levem a ignorar o nosso próximo real", como acontece na parábola com o levita e com o sacerdote, que deixam abandonado à beira do caminho um homem espancado pelos bandidos.

A "conexão" nas "estradas digitais" deve ser "acompanhada pelo encontro verdadeiro". Na comunicação massiva também surge a necessidade de "ser amado" e de encontrar "ternura".

A rede digital não é apenas uma "rede de fios, mas de pessoas humanas", e a sua "neutralidade" é "só aparente": ela pode ser um meio extraordinário de "testemunho cristão" para "chegarmos até as periferias existenciais".

As "estradas digitais", como todas as estradas do mundo, são "cheias de humanidade, muitas vezes ferida"; de "homens e mulheres que procuram salvação ou uma esperança".

"Abrir as portas das igrejas”, afirma o Santo Padre, “também significa abri-las no ambiente digital, tanto para as pessoas entrarem, qualquer que seja a sua condição de vida, quanto para que o Evangelho atravesse o limiar do templo e saia para encontrar a todos". As redes sociais também são, portanto, um lugar apropriado "para viver essa vocação a redescobrir a beleza da fé, a beleza do encontro com Cristo".

Não há necessidade de "bombardear com mensagens religiosas" para dar testemunho cristão, mas "vontade de doar a si mesmo aos outros", inserindo-se "no diálogo com os homens e mulheres de hoje, para entender as suas expectativas, dúvidas, esperanças, e oferecer a eles o Evangelho". Esse diálogo não significa "renunciar às próprias ideias e tradições, mas à pretensão de que elas sejam únicas e absolutas".

Depois de pedir que "o ícone do Bom Samaritano [ ...] nos guie", Francisco acrescentou: "A nossa luminosidade não vem de truques ou de efeitos especiais, mas do nosso gesto de aproximação de quem encontramos ferido à beira do caminho, com amor, com ternura".

O Santo Padre encerra a mensagem para a 48ª Jornada Mundial das Comunicações Sociais exortando os cristãos a serem "cidadãos do ambiente digital" e a se envolverem no "grande e apaixonante desafio" da revolução dos meios de comunicação, desenvolvendo, assim, uma "nova imaginação para transmitir aos outros a beleza de Deus".

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