Concerto
anteprima do Festival Terras sem Sombra
Pelo Caminho de Santiago, de Beja e
Compostela
Iniciativa da Mostra España 2015 traz
a Portugal o mais clássico dos agrupamentos de canto gregoriano da
Península
A igreja de Santa Maria da Feira, matriz de Beja,
recebe, no dia 7, às 21h30, o concerto anteprima do próximo Festival
Terras sem Sombra, que leva a cabo a sua 12.ª edição em 2016. Este
espectáculo culmina as Jornadas sobre “Novas Perspectivas do Caminho
de Santiago em Portugal e Espanha”, uma iniciativa que coloca o Baixo
Alentejo, pela primeira vez, no roteiro da Mostra Espanha 2015. O
tema é, de resto, muito apropriado, como explicita o título escolhido:Pelo
Caminho de Santiago – De Beja a Compostela. A proposta cultural
resulta da colaboração entre a Secretaria de Estado da Cultura de
Espanha e o Departamento do Património Histórico e Artístico da
Diocese de Beja, com o apoio do Município de Beja.
Actua o Coro de Canto Gregoriano de España (CCG), sob a direcção de
Ismael Fernández de la Cuesta. Fundado em 1994, na sequência das
tournées dos monges do mosteiro beneditino de Silos que contribuíram
extraordinariamente para a divulgação, à escala global, do canto
gregoriano, tirando-o do pó dos arquivos e devolvendo-o à vida – hoje
é um dos patrimónios musicais mais apreciados em todo o mundo –, este
ensemble tem vindo a distinguir-se, nos palcos internacionais, pela
excelência dos resultados artísticos, inspirados no estudo das fontes
orais e escritas antigas. Foi protagonista do programa televisivo
Songs of Spirit, emitido pela cadeia pública PBS nos Estados Unidos,
onde teve uma audiência de largos milhões de espectadores, sendo
nomeado para o EMMY.
Considerado pela crítica como o mais clássico dos agrupamentos de
canto gregoriano da Península, o CCG junta à sua longa história a
presença de Ismael Fernández de la Cuesta. Figura de referência do
panorama musical, foi catedrático no Real Conservatório de Madrid e
desempenha actualmente o cargo de vice-director da Real Academia de
Bellas Artes de San Fernando. Deve-se-lhe, como cantor e musicólogo,
o golpe de asa que, a partir de Nova Iorque, colocou o canto
gregoriano no top mundial de vendas. No passado mês de Julho, recebeu
em Sines o Prémio Internacional Terras sem Sombra, que se somou a
outros galardões, como os prémios da Académie Charles Cros e do
Festival de Belas-Artes de Tóquio. Foi também presidente da Sociedad
Española de Musicología.
O programa que vai ser interpretado em Beja reconstitui a estrutura
de uma missa na Idade Média, tal como era cantada, a partir do século
XIII, em igrejas dispostas ao longo do Caminho de Santiago.
Efectivamente, as peças escolhidas pertencem à Missa de Santa Maria,
segundo o repertório tradicional do canto gregoriano,
maioritariamente ornamentado por tropos e descantos, como se tornou
característico da vida litúrgica dos mosteiros e conventos mais
emblemáticos da Península Ibérica. Nelas se reflecte o culto mariano
que São Bernardo, mentor da reforma cisterciense, promoveu, como
sublimação do amor cortês, cantado pelos trovadores. Era usual que os
peregrinos que se dirigiam a Compostela, vindos de todos os caminhos
da Península para honrar o Apóstolo Santiago, participassem
devotamente nesta Missa.
Será possível escutar, entre outras jóias da Idade Média, uma
novidade digna de nota: a recuperação do Gloria in excelsis Deo
próprio do convento da Conceição, de Beja, obra do fundo tradicional
que consta de um livro de coro oriundo dessa casa religiosa, extinta
em 1892. Terra rica em tradições musicais, Beja soube conservar, após
o encerramento daquele que foi o mais importante convento alentejano,
os seus livros corais, notável conjunto de códices de grande valor musicológico,
hoje a cargo do Arquivo Distrital de Beja. Graças a uma parceria
estabelecida com o Festival Terras sem Sombra, pretende-se agora
trazer à luz do dia este filão litúrgico e devocional, revelando-o em
sucessivas edições do festival, a par de outros manuscritos musicais
da região, preservador nos arquivos da Diocese de Beja.
É também a primeira vez que o Festival Terras sem Sombra apresenta um
concerto anteprima, numa antecipação do que vai ser a sua linha
programática para 2016. Ao leme, como director artístico, permanece
Juan Ángel Vela del Campo, crítico musical da Cadena SER, de Madrid,
e professor do Conservatório de Nápoles.
O acesso é livre, até à lotação da igreja. Recomenda-se estar
pelas 21h00.
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