Códice do convento "La Romita" apresenta trechos da "Lenda umbra", que conta a história de alguns judeus que invocam a intercessão do santo para salvar uma criança cristã
Roma, 01 de Outubro de 2013
A herança franciscana presente no território da Úmbria
meridional vai sendo descoberta progressivamente. E ela consiste não
apenas em mosteiros, conventos e obras de arte, mas também nos
manuscritos, atas notariais e outras fontes importantes para a
compreensão da história de São Francisco de Assis e da sua posteridade.
Entre esses testemunhos, foi reconhecido nos últimos anos o
especial valor do códice do mosteiro de "La Romita", de Cesi, que agora é
conservado na Biblioteca de Terni com a numeração 227bis. Nas folhas
231 a 241, ele contém alguns textos litúrgicos para a festa de São
Francisco. Essa liturgia inclui a leitura de passagens que ilustram a
vida e os milagres do santo de Assis, tomadas, neste manuscrito, da
chamada “Lenda umbra”, obra escrita por volta do ano 1240, em que é
narrada a história de alguns judeus que invocavam a protecção e a
intercessão de São Francisco para salvar uma criança cristã.
Na cidade de Capua, um menino que brincava às margens do rio Volturno
com vários companheiros caiu na água por imprudência. A correnteza o
engoliu rapidamente e o enterrou na lama, morto. Aos gritos das crianças
que brincavam com ele, muitos homens e mulheres apressaram-se para ver o
que tinha acontecido à beira do rio, e, ao notarem que a criança tinha
se afogado, clamavam chorando: "São Francisco, São Francisco, devolve
esta criança ao seu pai e ao seu avô, que labutam a teu serviço!".
O pai e o avô da criança, de fato, tinham dado o melhor de si ao
trabalhar com devoção em uma igreja dedicada a São Francisco. Enquanto o
povo invocava repetidamente os méritos do bem-aventurado Francisco, um
nadador que estava longe, ouvindo os gritos, se aproximou.
Sabendo que a criança tinha caído no rio havia já um longo tempo,
depois de invocar o nome de Cristo e de confiar-se aos méritos do
bem-aventurado Francisco, ele tirou a roupa e mergulhou nu no rio. Não
sabia onde era o lugar exato em que o menino tinha caído e começou a inspeccionar aleatoriamente as margens e o leito do rio. Por vontade
divina, encontrou finalmente o lugar onde a lama tinha coberto o cadáver
da criança, como se fosse uma tumba. Ao desenterrá-lo, confirmou com
grande dor que ele estava morto. A multidão reunida, mesmo vendo o
menino morto, não parava de clamar: "São Francisco, devolve a criança ao
seu pai!". Alguns judeus que estavam ali, movidos por um senso natural
de compaixão, também clamavam: "São Francisco, devolve a criança ao seu
pai!".
Comovido com a devoção das pessoas, como se depreende do resultado
final, o beato Francisco escutou as orações e a criança morta
ressuscitou. E enquanto todos se alegravam e ao mesmo tempo permaneciam
atónitos, a criança tornada à vida pediu em súplicas para ser levada até
a igreja de São Francisco. Ouvindo isso, todos louvaram a Deus que,
através do seu servo, tinha-se dignado operar tão grande milagre.
Este códice, facilmente acessível aos estudiosos, mas de acesso
difícil para o público em geral, está exposto até 26 de Outubro na
mostra iconográfica e documental “Louvado sejas, meu Senhor - Seguindo
os passos de Francisco de Assis”, na Biblioteca Municipal de Terni, na
Itália.
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