Crónica de um peregrino brasileiro
Roma, 28 de Outubro de 2013
Para sentir na carne, as imensas dificuldades que Jesus
passou em sua vida pública itinerante, é preciso fazer a pé, o chamado
Caminho de Jesus em Israel. É uma trilha que sai de Nazaré até Magdala
no Lago Genezaré. São 52 km percorridos em três dias, passando por
montanhas e vales, por bosques e parques, sentindo nos pés, a dureza das
pedras brancas que enfeitam todo o caminho. É uma experiência única
para melhor entender quem foi Jesus, como era seu ambiente na infância,
adolescência e vida adulta e porque escolheu vir ao mundo em uma terra
inóspita, cheia de dificuldades naturais, quase intransponíveis.
Um grupo de 18 pessoas, a maioria jovens, vindos do México, El
Salvador, Brasil, Espanha, França, Israel e Itália, acompanhados por um
dos criadores do Caminho de Jesus, Pe. Arturo Diaz LC, partiram de
Nazaré, depois de orarem na Basílica da Anunciação, rumo a Magdala.
Desde logo, sentiu-se uma sensação diferente, pois estávamos caminhando
onde Jesus passou seus trinta primeiros anos. Imaginávamos seus
brinquedos favoritos, vendo crianças árabes brincando pelas estreitas
ruas de Nazaré, montanha acima. A primeira dificuldade foi superarmos
em torno de 500 degraus de vielas até o alto da montanha, onde situa-se o
Colégio Salesiano, Jesus Adolescente. Carregados de mochilas, os
peregrinos puderam sentir na carne o quanto era difícil para Jesus
percorrer tais caminhos, que na época, eram somente na montanha vazia e
íngreme. Ali nos esperava ajuda vinda de um jumento, chamado Heidi, que
nos acompanhou todo o tempo, carregando as mochilas mais pesadas.
Distante 6 km de Nazaré, passamos por Séforis, que na época de
Jesus era a capital da Galileia. Presume-se que nesta cidade, São José e
Jesus trabalhavam como carpinteiros, já que Nazaré era apenas uma
aldeia em torno de 150 habitantes. Diariamente Jesus percorria 12 km
para o trabalho, subindo e descendo montanhas pedregosas. De Séforis,
passamos por Caná, onde Jesus realizou o primeiro milagre. Pernoitamos
numa casa de família árabe católica. Ali, foi rezada uma missa e
meditou-se sobre o milagre da transformação de água em vinho. Sempre
andando por caminhos de terra e pedra, através de bosques e plantações
de oliveiras, atravessamos o Vale de Esdrelon com paisagens
deslumbrantes, vendo-se o Monte Tabor, Naim, o vale de Turan até
chegarmos ao Kibutz Lavi, um dos mais prósperos da região, inclusive com
um hotel moderníssimo. Ali pernoitamos e vimos como os judeus ortodoxos
professam sua fé, pois era o Dia de Shabat, dia de sábado. Ali sentimos
uma experiência religiosa única com pessoas da religião predominante
aqui em Israel. Passamos ao lado dos chamados Cornos de Hatim, onde o
persa muçulmano Saladino derrotou os cristãos em 1187, matando cerca de
22 mil cruzados. Depois desta batalha, Saladino conquistou facilmente
Jerusalém.
A partir desse ponto, começamos o trajecto mais difícil. O caminho é totalmente pedregoso e árido, com pouca vegetação,
ao descer para o Vale DE Wadi Haman (Vale das Pombas), através de
desfiladeiros de montanhas escarpadas, onde correm córregos d’água, que
nesta época do ano, estão quase secos. Na região, não chove há sete
meses e por isso é possível realizar o caminho entre montanhas e vales. A
seca inicia em Março e vai até Novembro. A trilha dos peregrinos desce
pelos penhascos do Monte Arbel até chegar a Magdala, a terra natal de
Maria Madalena e pode terminar em Cafarnaum. Diz o evangelho que Jesus,
passados trinta anos, ao iniciar a vida pública, "deixou Nazaré e foi
morar em Cafarnaum, às margens do mar da Galileia" (Mt 4.13). Jesus
levou consigo sua mãe, pois o pai adoptivo, São José já havia morrido.
Ao final do trajecto que foi Magdala, o peregrino pode fazer um tour
pelas descobertas arqueológicas da cidade, que foi destruída pelos
romanos invasores, em 67 dC. Ali a principal descoberta foi uma sinagoga
do primeiro século, mas pode-se observar também o mercado público, o
local onde salgava-se o pescado para exportação, as casas de ricos e de
pobres, os famosos mikbats, os seja locais de banhos de purificação,
onde ainda hoje brota água natural, e inclusive o cais do porto. No
local, está se concluindo uma igreja denominada de Santuário da Vida
Pública de Jesus, às margens do Lago Genezaré.
Para quem desejar vivenciar esta experiência maravilhosa e
emocionante, basta entrar em contacto com o Pe. Arturo
Diaz, adiaz.notredame@gmail.com Neste caminho tantas vezes trilhado por
Jesus, o peregrino compreenderá melhor toda a mensagem evangélica e o
chamado do Mestre que diz: "Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si
mesmo, tome a sua cruz e siga-me”. (Mc 8.34-35). O seguimento a Jesus
supõe sacrifício, renúncia, coragem, doação e oração.
Autor: Camilo Simon, jornalista, camilosimon@gmail.com.
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