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sexta-feira, 25 de outubro de 2013

A inculturação na Igreja

Populações com ritos ancestrais: bispo de San Cristóbal de las Casas reflecte sobre como oferecer a elas a plenitude que Jesus nos trouxe


San Cristóbal de las Casas, 24 de Outubro de 2013


Um grupo de assessores do CELAM está reunido em Bogotá para tratar de um tema delicado da pastoral, que é a teologia indígena. Estamos preparando o nosso V Simpósio, a realizar-se na Bolívia em maio próximo, com o objectivo de prosseguir no caminho do aprofundamento a propósito dos conteúdos doutrinais dessa teologia, para avançar no seu esclarecimento à luz da Palavra de Deus e do Magistério da Igreja.

Preocupa-nos que alguns menosprezem e satanizem as culturas originárias sem conhecê-las a fundo; gostariam, esses, que tudo o que é indígena desaparecesse da história social e eclesial. Nestes simpósios tenta-se discernir, em costumes, ritos e mitos indígenas, o que o amor do Pai semeou neles por meio do seu Espírito, para oferecer a eles a plenitude que Jesus nos trouxe.

Em paralelo, ainda existem resistências ao uso do termo “Igreja autóctone”, como se implicasse um apartar-se da eclesiologia do concílio Vaticano II, quando em realidade é um esforço, certamente fronteiriço, de se viver o que o Espírito disse e diz a este respeito às Igrejas. É o que entendemos quando falamos de Igreja inculturada nas culturas indígenas, mestiças, urbanas e modernas.

O decreto Ad gentes, do Vaticano II, ordena: “Devem crescer da semente da Palavra de Deus em todo o mundo Igrejas particulares autóctones suficientemente fundamentadas e dotadas de energias próprias e maduras, que, providas suficientemente de hierarquia própria, unida ao povo fiel, e de meios adequados para viver uma vida plenamente cristã, contribuam, conforme lhes corresponde, para o bem de toda a Igreja. O meio principal para esta plantação é a pregação do evangelho de Cristo. Para anunciá-lo, o Senhor enviou os seus discípulos ao mundo todo, a fim de que os homens, renascidos pela Palavra de Deus, ingressem pelo baptismo na Igreja, a qual, como corpo do Verbo Encarnado que é, se alimenta e vive da Palavra de Deus e do pão eucarístico” (6). Isto, que o Espírito pede, é o que procuramos viver.

Segundo João Paulo II, a inculturação é “a encarnação do evangelho nas culturas autóctones e, ao mesmo tempo, a introdução dessas culturas na vida da Igreja” (Slavorum Apostoli, 21). “Ao entrar em contacto com as culturas, a Igreja deve acolher tudo o que, nas tradições dos povos, é compatível com o evangelho, a fim de lhes comunicar as riquezas de Cristo e enriquecer a si mesma da sabedoria multiforme das nações da terra” (Ao Pontifício Conselho para a Cultura, 17 de Janeiro de 1987).

Diz o concílio que a penetração do evangelho num determinado meio sócio-cultural, por um lado, “fecunda a partir de dentro as qualidades espirituais e os próprios valores de cada povo..., os consolida, os aperfeiçoa e os restaura em Cristo” (GS 58); por outro, a Igreja assimila esses valores, na medida em que compatíveis com o evangelho, “para aprofundar melhor a mensagem de Cristo e expressá-la mais perfeitamente na celebração litúrgica e na vida da multiforme comunidade de fiéis” (Ibid).


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