Sobre algumas críticas ao Papa Francisco
Roma, 23 de Outubro de 2013
Logo após a eleição do Papa Francisco conversávamos entre os
amigos sobre os comentários positivos que surgiram da sua eleição,
provenientes não só dos mais diversos ambientes eclesiais, como também
das mais díspares áreas do pensamento laico e laicista.
Certamente o mais interessante foi notar que a sua figura atraía
muitas pessoas até agora distantes de uma vida de fé regular ou de uma
participação dos ritos da comunidade cristã; ao mesmo tempo foi evidente
um grande entusiasmo dos pobres e dos pequenos, seja do sul do mundo
que das nossas cidades, daqueles que estão acostumados a expressar uma
fé simples.
Se nos perguntarmos sobre o significado dessa manifestação de
entusiasmo, que podíamos chamar, por uma boa razão, de “universal”, nos
encontramos com uma pitada saudável de curiosidade, na espera de
prováveis desapontamentos e de certas críticas que logo chegariam.
Papa Francisco nos últimos meses continua a surpreender-nos e a
suscitar entusiasmo falando de pobreza, de periferias, de ovelhas e do
seu fedor, mais do que de ovelhas imaculadas de certa holografia.
Simbolicamente escolheu morar em um apartamento modesto, levar uma
malinha para os seus traslados, quebrar as normas de segurança,
telefonar para casas de simples fieis que se dirigiam a ele com as mais
diversas súplicas. Mas junto com esses sinais retomados e transmitidos
pelos meios de comunicação, em tantas ocasiões, certamente menos contado
foi que nos recomendou a devoção a Maria, consagrando o Mundo inteiro à
Nossa Senhora de Fátima. Chama a nossa atenção com anedotas e
experiências pessoais da forma mais simples, tradicional, popular, de
expressão do amor pelo Senhor. Reafirmou a sacralidade da vida de todo
homem, especialmente dos não-nascidos, dos jovens e dos anciãos, que são
o futuro e o passado, a esperança e a memória de cada nação e de cada
sociedade.
Depois concedeu algumas entrevistas, se ofereceu para falar com
alguns jornalistas, conservando também com eles o mesmo estilo imediato
que não mede as palavras, que quer aquecer o coração do seu interlocutor
para prepará-lo para receber a semente que ele lança, sem saber e sem
perguntar-se se e quando brotará: podem imaginar Scalfari emocionado por
causa do telefonema do Papa (ele mesmo disse), que não sabe quais
palavras utilizar, que aceita o encontro, lugar, dia e hora, proposto
pelo Papa Francisco sem complicações por compromissos anteriores?
E chegaram as críticas.
As primeiras vieram de dentro mesmo da Igreja e isso em si não é
ruim, é sempre um sinal de atenção, por outro lado o Papa não é sempre
infalível, na verdade só raramente fala ex cathedra, comprometendo-nos
aos seguimento sem discussões, portanto, na maioria das vezes,
especialmente quando o contexto é informal, quase confidencial (e
Francisco muitas vezes se move nestes espaços), que é suficientemente
formado e informado, suficientemente respeitável e especializado, com as
devidas formas e com toda a caridade que é capaz, pode também fazer
críticas, pedir esclarecimentos ou expressar perplexidades.
O que não é aceitável, e que é substancialmente risível, é acusar o
Papa de intenções cismáticas ou de subversivo com relação ao Magistério.
Acho que Francisco quer deixar claro que a sua atenção é realmente
cada um de nós, assim como a de Jesus, por isso interpreta o papel do
Pontífice de modo literal, procura contactos pessoais de uma forma
incrível, correndo o risco da simplificação, às vezes, até mesmo do
equívoco, aproximando-se de cada um de acordo com a lei da gradualidade
que, como nos ensinaram, não é a gradualidade da lei.
O próprio São Francisco foi ao Papa de joelhos, não fundou outra
Igreja, mas esperou que o Papa, com o seu discernimento e com a ajuda do
Espírito reconhecesse a extraordinária novidade da sua pregação, que o
abençoasse e o enviasse ao mundo.
Realmente, algum de nós pensa ser mais inspirado?
De Paulo, de Apolo ou de Cefas, de João Paulo II, de Bento ou de
Francisco: "Paulo, Apolo, Cefas, o mundo, a vida, a morte, o presente, o
futuro: tudo é vosso! Mas vós sois de Cristo e Cristo é de Deus” (1 Cor
22-23). Jesus é o fundamento, Ele é o Caminho, Ele escolheu Pedro, nós
acreditamos que também escolheu Francisco. Por outro lado, ou é assim e
temos que cerrar fileiras em torno a ele, ou não é assim e então tudo
seria em vão, e até mesmo as nossas considerações e esclarecimentos!
Penso eu que três palavras deveriam estar impressas na nossa mente e
no nosso coração depois destes primeiros meses de pontificado: ternura,
custódia, misericórdia. Sobre cada uma, sabendo fazê-lo, poder-se-ia
escrever muito, mas de forma essencial delineiam a fisionomia do “Homem
Novo”, exposto às intempéries do Mundo, parado na porta, mas acolhedor,
guardião confiável porque forte, embora suave, capaz de perdão porque
conhece bem a debilidade, que não se retira do encontro e do confronto
porque “o Senhor é minha luz e minha salvação, a quem temerei? O Senhor é
a fortaleza da minha vida, de quem terei medo? " (Sl 26).
Cada Papa é o que tem que ser, porque, graças a Deus, não depende de nós.
in
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