1º de Novembro: solenidade de todos os santos
Roma, 29 de Outubro de 2013
O título desta catequese vem do evangelho da próxima
sexta-feira, 1º de Novembro, solenidade de todos os santos. As leituras
do 30º domingo do tempo comum, com que abrimos a semana, fazem menção à
justiça.
Deus não é apenas justo: é a própria justiça, porque dá a todo ser o
que a sua natureza exige, como explica São Tomás de Aquino. Sendo não
somente justo, mas também misericordioso, a sua misericórdia se
manifesta no gesto de dar a cada ser mais do que a sua natureza exige e
recompensar os justos acima dos seus méritos, além de castigar os maus
com pena inferior à que merecem.
O número 1807 do Catecismo da Igreja Católica nos diz que a justiça é
a virtude moral que consiste na constante e firme vontade de dar a Deus
e ao próximo o que lhes é devido. Vemos todos os dias que a nossa
justiça dista muito de se parecer com a de Deus, que não desdenha a
súplica do órfão nem a da viúva que se desafoga em seu lamento (Ecl 35,
14-15). Sabemos de Deus, por boca do rei David, que, embora o justo sofra
muitos males, ele é livrado de todos pelo Senhor; o Senhor cuida de
todos os seus ossos e nem sequer um único se romperá. A maldade dá morte
ao malvado e os que odeiam o justo serão castigados (cf. Sal 33,
20-22).
O evangelho de domingo passado nos falava de um juiz injusto que nem
temia a Deus nem se importava com os homens (Lc 18, 2). Nosso Senhor
apresenta a parábola do fariseu e do publicano a alguns que confiavam em
si mesmos por se considerarem justos e desprezavam os outros (Lc 18,
9-14). Em nossa experiência diária, tender a nos justificar com mentiras
e desculpas falsas é próprio da mentalidade comum. Reconhecer em nós a
responsabilidade, por acção ou por omissão, é a última coisa em que
costuma pensar a média dos mortais. O uso da força e a realização da
justiça com as próprias mãos, bem como o uso de instrumentos de morte, é
próprio desta cultura que não procura a paz, mas a primazia do poder e
da razão nos conflitos familiares ou internacionais.
Podemos nos perguntar: o que estou fazendo, eu, na minha vida, pelo
triunfo da verdade que leva à justiça e da qual pode surgir a paz? O
caminho que leva à verdadeira paz é o de sermos educados e educar os
nossos jovens na exigência de justiça e de bondade, que está inscrita no
coração de todos nós. Trata-se de uma estima verdadeira pelo homem,
numa justiça real, amadurecendo a nossa vocação cristã. Se renunciarmos a
essa tarefa urgente, ficaremos presos, como os outros, no ódio pelo
inimigo, na violência que gera mais violência.
Somos chamados a exercer a caridade de verdade, amando os inimigos e
rogando pelos que nos perseguem, aguardando com amor a manifestação do
Senhor, para que ele, juiz justo, nos dê a coroa da justiça (2 Tim 4,8).
Por isso é importante saber que é claro que no âmbito da lei ninguém é
justificado, pois o justo só viverá pela fé (Gal 3, 11). Saibamos que
seremos julgados tal como julgarmos e que a medida que usarmos será
usada para nos medir (Cf. Mt 7, 2). Por isso, quem se acha seguro deve
cuidar-se para não cair (I Cor 10, 12).
Jesus Cristo é a verdadeira resposta e a imagem ideal da exigência
humana de justiça. É o Justo, a vítima de propiciação pelos nossos
pecados; não só pelos nossos, mas pelos do mundo inteiro (1 Jo 2,1-2). O
mesmo que afirmou “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça,
porque eles serão saciados” (Mt 5, 6) também disse “Não vim chamar os
justos, mas os pecadores, para que se convertam” (Lc 5, 32).
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