Catequese do Papa Francisco na Audiência Geral de hoje
Cidade do Vaticano,
Na audiência geral desta quarta-feira, o Papa continuou com o
tema das catequeses dedicadas ao Credo, no Ano da Fé. Com milhares de
fieis reunidos na Praça de São Pedro, depois de cumprimentar e abençoar
os assistentes, no jeep branco, Francisco comentou a verdade de fé de
que Cristo "subiu ao céu e está sentado à direita do Pai". Oferecemos as
palavras do santo padre:
***
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
No Credo, nós encontramos a afirmação de que Jesus "subiu ao céu,
sentou à direita do Pai". A vida terrena de Jesus culmina com o evento
da Ascensão, que é quando Ele passa deste mundo ao Pai, e é levantado à
sua direita. Qual é o significado deste evento? Quais são as
consequências para a nossa vida? O que significa contemplar Jesus
sentado à direita do Pai? Deixemo-nos guiar pelo evangelista Lucas.
Começamos a partir do momento em que Jesus decide embarcar na sua
última peregrinação a Jerusalém. São Lucas nota: “Quando se completaram
os dias de sua assunção, ele tomou resolutamente o caminho de Jerusalém”
(Lc 9, 51). Enquanto "sobe" para a Cidade Santa, onde cumprir-se-á o
seu “êxito” desta vida, Jesus já vê a meta, o Céu, mas sabe bem que o
caminho que o leva à glória do Pai passa por meio da Cruz, por meio da
obediência ao plano divino de amor pela humanidade. O Catecismo da
Igreja Católica afirma que “a elevação na Cruz significa e anuncia a
elevação da Ascensão ao céu” (n. 662). Também nós temos que ter claro,
na nossa vida cristã, que entrar na glória de Deus exige a fidelidade quotidiana à sua vontade, também quando requer sacrifício, requer às
vezes mudar os nossos programas. A Ascensão de Jesus concretamente
acontece no Monte das Oliveiras, perto do lugar onde tinha se retirado
em oração antes da paixão para permanecer em profunda união com o Pai:
mais uma vez vemos que a oração nos dá a graça de viver fieis ao projecto
de Deus.
No final do seu Evangelho, São Lucas narra o evento da Ascensão de
forma muito sintética. Jesus levou os discípulos "até Betânia e,
erguendo as mãos, abençoou-os. E enquanto os abençoava, distanciou-se
deles e era elevado ao céu. Eles ficaram prostrados diante dele, e
depois voltaram a Jerusalém com grande alegria, e estavam continuamente
no Templo, louvando a Deus”. (24,50-53); assim fala São Lucas. Gostaria
de destacar dois elementos da narrativa.
Em primeiro lugar, durante a Ascensão Jesus realiza o gesto
sacerdotal da bênção e certamente os discípulos expressam a sua fé com a
prostração, ajoelham-se inclinando a cabeça. Este é um primeiro ponto
importante: Jesus é o único e eterno Sacerdote que com a sua paixão
atravessou a morte e o túmulo e ressuscitou e subiu ao Céu; está junto
do Pai, onde intercede para sempre em nosso favor (cf. Hb 9,24). Como
São João afirma em sua Primeira Epístola Ele é o nosso advogado: que bom
ouvir isso! Quando alguém é intimado por um juiz ou é processado, a
primeira coisa que faz é buscar um advogado para que o defenda. Nós
temos um, que nos defende sempre, nos defende das ciladas do demónio,
nos defende de nós mesmos, de nossos pecados! Queridos irmãos e irmãs,
temos este advogado: não tenhamos medo de ir até Ele para pedir perdão,
para pedir a bênção, para pedir misericórdia! Ele nos perdoa sempre, é o
nosso advogado: nos defende sempre! Não se esqueçam disso! A Ascensão
de Jesus ao Céu nos faz conhecer então esta realidade tão consoladora
para o nosso caminho: em Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, a
nossa humanidade foi levada para junto de Deus; Ele nos abriu a
passagem; Ele é como o Primeiro de cordada ao escalar uma montanha, que
chegou ao topo e nos atrai para si, conduzindo-nos a Deus. Se confiamos a
Ele a nossa vida, se nos deixamos guiar por Ele tenhamos certeza de
estar em boas mãos, nas mãos do nosso salvador, do nosso advogado.
Um segundo elemento: São Lucas menciona que os apóstolos, depois de
verem Jesus subir ao céu, voltaram a Jerusalém “com grande alegria”.
Isto parece um pouco estranho. No geral quando somos separados dos
nossos familiares, dos nossos amigos, por causa de uma partida
definitiva e sobretudo por causa da morte, há em nós uma tristeza
natural, porque não veremos mais o seus rostos, não escutaremos mais as
suas vozes, não poderemos mais desfrutar do afecto deles, da presença
deles. Em vez disso, o evangelista ressalta a profunda alegria dos
Apóstolos. Mas por quê? Porque, com os olhos da fé, eles entendem que,
apesar de tirado dos seus olhos, não os abandona e, na glória do Pai,
sustenta-os, guia-os e intercede por eles.
São Lucas narra o fato da Ascensão também no começo dos Actos dos
Apóstolos, para enfatizar que este evento é como o anel que envolve e
conecta a vida terrena de Jesus com a da Igreja. Aqui São Lucas também
menciona a nuvem que tirou Jesus da vista dos discípulos, os quais
permanecem contemplando o Cristo que ascende para junto de Deus (cf. At
1, 9-10). Intervêm então dois homens vestidos de branco que os convida a
não permanecerem imóveis olhando para o céu, mas que alimentem as suas
vidas e o seu testemunho com a certeza de que Jesus voltará do mesmo
modo como o viram subir ao céu (Actos 1, 10-11). É um convite a partir da
contemplação do Senhorio de Cristo, para receber dele a força de levar e
testemunhar o Evangelho na vida de todos os dias: contemplare e agire, ora et labora ensina São Bento, ambos são necessários para as nossas vidas de cristãos.
Queridos irmãos e irmãs, a Ascensão não indica a ausência de Jesus,
mas nos diz que Ele está vivo no meio de nós; não está mais num lugar
específico do mundo como estava antes da Ascensão; agora está no
Senhorio de Deus, presente em todos os lugares e tempos, perto de cada
um de nós. Na nossa vida nunca estamos a sós: temos este advogado que
nos espera, que nos protege. Nunca estamos sozinho: o Senhor crucificado
e ressuscitado nos guia; connosco estão muitos irmãos e irmãs que no
silêncio e no escondimento, na sua vida de família e de trabalho, nos
seus problemas e dificuldades, nas suas alegrias e esperanças, vivem quotidianamente a fé e levam, junto connosco, ao mundo o senhorio do amor
de Deus, em Cristo Jesus ressuscitado, ascendido ao Céu, nosso advogado.
Obrigado.
[Traduzido do original por Thácio Siqueira]
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