Em carta aos bispos, o papa pede remar mar adentro
Buenos Aires,
Em missiva aos bispos participantes da 105ª Assembleia
Plenária da Conferência Episcopal Argentina, o papa Francisco lhes pediu
que toda a pastoral tenha “uma perspectiva missionária”.
À assembleia plenária, que acontece em uma casa de retiros na
cidade de Pilar, a poucos quilómetros de Buenos Aires, o papa denuncia
que “a doença típica da Igreja fechada é ser autorreferencial”, o que é
“uma espécie de narcisismo que nos leva à mundanidade espiritual” e a um
“clericalismo de mercado”, além de impedir “a doce e reconfortante
alegria de evangelizar”.
Francisco também enfatiza para os bispos argentinos que “Maria nos
ensinará o caminho da humildade e daquele trabalho silencioso e valente,
que o zelo apostólico faz prosperar”. E pediu orações para “saber
escutar o que Deus quer e não o que eu quero”.
***
Texto da carta
Queridos irmãos,
Recebam estas linhas de saudações e também de desculpas por não poder
participar, devido a “compromissos assumidos recentemente” (ficou
bem?). Estou espiritualmente junto com vocês e peço ao Senhor que os
acompanhe muito nestes dias.
Manifesto a vocês um desejo: eu gostaria que os trabalhos da
assembleia tivessem como marco referencial o Documento de Aparecida e o
“Rema mar adentro”. Lá estão as orientações de que nós precisamos neste
momento da história. Acima de tudo, peço que vocês tenham uma especial
preocupação com o crescimento da missão continental em seus dois
aspectos: a missão programática e a missão paradigmática. Que toda a
pastoral tenha uma perspectiva missionária.
Uma Igreja que não sai de si mesma adoece, cedo ou tarde, em meio à
atmosfera pesada do seu próprio fechamento. É verdade, também, que uma
Igreja que sai às ruas pode sofrer o que qualquer pessoa na rua pode
sofrer: um acidente. Diante desta alternativa, quero lhes dizer
francamente que prefiro mil vezes uma Igreja acidentada a uma Igreja
doente. A doença típica da Igreja fechada é ser autorreferencial; olhar
para si mesma, ficar encurvada sobre si mesma, como aquela mulher do
Evangelho. É uma espécie de narcisismo que nos leva à mundanidade
espiritual e ao clericalismo sofisticado, e, depois, nos impede de
experimentar “a doce e reconfortante alegria de evangelizar”.
Desejo a todos vocês esta alegria, que tantas vezes vem unida à Cruz,
mas que nos salva do ressentimento e da tristeza. Esta alegria nos
ajuda a ser cada dia mais fecundos, desgastando-nos e puindo-nos no
serviço ao santo povo fiel de Deus; esta alegria crescerá mais e mais à
medida que levarmos a sério a conversão pastoral que a Igreja nos pede.
Obrigado por tudo o que vocês fazem e por tudo o que vão fazer. Que o
Senhor nos livre de maquilhar o nosso episcopado com as belas aparências
da mundanidade, do dinheiro e do “clericalismo de mercado”. Nossa
Senhora nos ensinará o caminho da humildade e daquele trabalho
silencioso e valente que o zelo apostólico faz prosperar.
Peço, por favor, que vocês rezem por mim, para que eu não me sinta
acima de ninguém e saiba escutar o que Deus quer e não o que eu quero.
Rezo por vocês.
Um abraço de irmão e uma especial saudação ao povo fiel de Deus que
está sob os seus cuidados. Desejo a todos vocês um santo e feliz tempo
pascal.
Que Jesus os abençoe e Nossa Senhora cuide de vocês.
in
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