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quarta-feira, 17 de abril de 2013

O que nos espera: o iminente desafio demográfico

Países com população muito envelhecida não têm futuro


Roma,


“Um país sem crianças é um país sem futuro”. De acordo com um post recente no blog Demography Matters, este comentário é do presidente português Aníbal Cavaco Silva, referindo-se à baixa taxa de natalidade no país.

O post observa que o número de nascimentos em Portugal é menor que a taxa de reposição geracional desde os anos 80. Além disso, a economia estagnada do país está levando os jovens lusitanos a emigrar em busca de trabalho, o que mantém a taxa de desemprego juvenil em “apenas” 38,3%, um pouco melhor que a da vizinha Espanha, onde a mesma taxa supera 55%.

A economia portuguesa ainda está em recessão, as dívidas pública e privada são enormes e, conforme o post, "com menos gente para trabalhar e pagar pelo bem-estar interno, o PIB menor e as dívidas maiores são números que simplesmente não se encaixam".

Portugal não é o único a ter de lidar com o envelhecimento da população.

"O Reino Unido está completamente despreparado para lidar com uma inesperada explosão da população idosa. O governo deverá responder aumentando a idade mínima de aposentadoria e reduzindo as pensões, conforme conclusão de relatório da Câmara dos Lordes", informa o jornal britânico The Guardian (14 de Março).

O artigo diz que de2010 a2030 é esperado um aumento de 50% na população maior de 60 anos. A Grã-Bretanha terá de fazer mudanças significativas se quiser enfrentar este desafio.

Viver mais tempo é algo a ser comemorado, observa o relatório da Câmara dos Lordes, mas implica riscos e custos. O relatório enumera uma série de propostas detalhadas sobre como lidar com o número crescente de idosos e com as pressões económicas que o fenómeno provocará.

O problema tem dimensões europeias. Em 26 de Março, a Eurostat, agência de estatísticas da União Europeia, publicou dados demográficos de 2012. No início do ano passado, o número de cidadãos europeus maiores de 60 anos aumentou para 18% da população total, em comparação com 14% em 1992.

Estes relatórios vêm à luz logo após a publicação de dados alarmantes sobre o número de abortos no mundo.

Abortos na China
 
Em 15 de Março, o também britânico Financial Times informou que, desde a adopção do rígido controle demográfico na China, em 1971, houve 336 milhões de abortos e 196 milhões de esterilizações. As equipes médicas chinesas implantaram, ainda, 403 milhões de dispositivos intra-uterinos.

No mesmo dia, o site do periódico The Christian Post publicou que, em 13 de Março, em seu perfil no Twitter, o professor Richard Dawkins, conhecido pelo seu ateísmo, tinha afirmado que "os significados de ‘humano’ relevantes para a moralidade sobre o aborto se aplicam menos a um feto do que a um porco adulto".

Nas últimas décadas, o número de abortos na China ultrapassou toda a população actual dos Estados Unidos. Em contraste, a taxa de fertilidade nos EUA, mesmo permanecendo maior que a dos países europeus, está em declínio preocupante.

Estas preocupações foram ressaltadas no recente livro What to Expect When No One’s Expecting: America’s Coming Demographic Disaster (O que esperar quando ninguém está esperando: o iminente desastre demográfico dos Estados Unidos), de Jonathan V. Last.

Last, que escreve para a revista americana The Weekly Standard, observa que, se a taxa de fertilidade média norte-americana ainda é razoável, isto se deve apenas à maior taxa de natalidade entre os hispânicos. De qualquer modo, a natalidade entre os hispânicos também está em rápido declínio.

Entre 2000 e 2010, 30% do crescimento da população dos EUA se deveu à imigração procedente de países latino-americanos. O crescimento da população nesses países, porém, vem diminuindo significativamente, o que torna fácil deduzir que o número de migrantes latinos nos EUA também cairá.

"Por que devemos nos preocupar?", pergunta o autor do estudo. Porque a taxa de fertilidade para a "sub-reposição" esteve sempre associada com a estagnação ou com a recessão económica.

Como mudar

Esta pesquisa independente demonstra que, quando uma nação entra em declínio populacional, é muito difícil reverter a tendência. A Itália, a Alemanha, a Rússia e muitos outros países estão experimentando o declínio demográfico sem nenhum sinal de mudança de rota.

Desde 1989, por exemplo, nada menos que duas mil escolas da ex-Alemanha Oriental fecharam as portas por falta de alunos.

No parecer do autor, se as taxas de fertilidade actuais na Europa permanecerem inalteradas, a população do continente diminuirá de 783 milhões em 2010 para 482 milhões até o final do século.

Com o envelhecimento da população, não só diminui a arrecadação de tributos, mas também cai o capital total para investimentos, já que os idosos preferem investimentos de baixo risco.

O ensaio levanta muitas questões interessantes, que, combinadas com as últimas notícias, sugerem que o "sucesso" do planeamento familiar e da contracepção nas últimas décadas acarretará consequências realmente desagradáveis.



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