O debate sobre a economia, a igualdade e a pobreza deve continuar
Roma,
Em apenas um mês como chefe da Igreja de Roma, o Papa
Francisco deixou claro a sua preocupação com os pobres e o seu desejo de
uma abordagem mais simples.
As questões relativas à doutrina social da Igreja, a partir da
pobreza, da distribuição de renda e da gestão das instituições
financeiras, são certamente questões que estavam na agenda do dia nos
últimos anos de turbulência económica.
Jerry Z. Mullor, professor de História na Universidade Católica da
América, publicou uma reflexão sobre o assunto na edição de Março/Abril
da revista Foreign Affairs.
Em seu artigo, Capitalism and Inequality: What the Right an the Left
Get Wrong (Capitalismo e Desigualdade: onde erra a direita e a
esquerda), Mullor observa que a desigualdade está crescendo em todas as
partes no mundo capitalista pós-industrial. O autor afirma que se esse
processo continuasse poderia gerar repercussões contínuas contra o
capitalismo em geral.
Mullor dá crédito ao capitalismo e a como ele tem "gerado um
grandíssimo passo adiante no progresso humano", mas observa que este
sistema trouxe consigo a insegurança e, com os últimos desenvolvimentos
nos mercados financeiros e internacionais, crescentes riscos não somente
para as classes mais desfavorecidas, mas também para a classe média.
As barreiras da igualdade de oportunidades foram quase totalmente
reduzidas, reconhece Mulhor, mas nem todos tem as mesmas possibilidades
de desfrutá-las. Um factor citado por Mullor é aquele da família. Os
filhos criados por pai e mãe numa união estável têm a possibilidade de
desenvolver as qualidades que levam ao sucesso na vida.
Depois de analisar vários factores, Mullor conclui que "a desigualdade
nas sociedades capitalistas avançadas parece ser crescente e
inevitável."
O que fazer, então? A redistribuição ou os subsídios do governo
parecem atraentes à primeira vista, mas ambos têm algumas desvantagens
significativas. O autor recomenda incentivar a inovação, mantendo as
redes de segurança pública e incentivando o acesso à educação.
Mullor exorta a encontrar o meio termo entre a política do privilégio
e a política do ressentimento, que significa não incensar, nem
demonizar o capitalismo.
Outros pensamentos interessantes sobre estes temas foram publicados
na última edição do Journal of Markets and Morality (vol.15, n° 2), do
Instituto Acton.
Em seu ensaio Illustrating the Need for Dialogue between Political
Economy and Catholic Social Teaching (Ilustrando a necessidade de
diálogo entre Economia Política e Doutrina Social da Igreja), Antonio
Pancorbo, da Associação Espanhola para o Estudo da doutrina social
católica, invoca um diálogo mais intenso entre a economia e a doutrina
social católica.
Comentando sobre a última encíclica de Bento XVI, Caritas in
Veritate, Pancorbo observa que a solução para a actual crise económica
não é simples e que ainda se debate se a chave seja um menor ou um maior
papel do estado.
Pancorbo expressa várias críticas ao estado assistencial mas
reconhece também o quanto seja comumente aceito que a sociedade tenha
que prover as necessidades básicas da população. Admite que a Caritas in
Veritate descreve a desigualdade como um mal social, mas, em seguida,
argumenta também que é mais construtivo reduzir a pobreza, mais do que
provar e eliminar todas as desigualdades.
"Parece que o pensamento económico tenha que colaborar com a Igreja
ao estabelecer linhas directrizes para a acção que sejam moralmente
aceitáveis, que não ignorem as leis económicas e que proponham soluções
factíveis às questões políticas e económicas”, concluiu Pancorbo. Uma
declaração, esta última, com a qual muitos poderão estar de acordo mas
não fáceis de se colocar em prática.
Outro estudo, editado por Ryan Langrill e Virgil Henry Storr, da
George Mason University, é intitulado The Moral Meaning of Markets (O
significado moral dos mercados).
Os mercados são muitas vezes defendidos por razões pragmáticas, por
sua eficiência económica, observam os autores. Apelam, no entanto, a uma
visão mais ampla, para considerar o papel das virtudes no contexto das transacções de mercado.
Os mercados funcionam melhor, dizem Langrill e Storr, quando os actores possuem virtudes que vão além da prudência. Os mercados dependem
da virtude e, ao mesmo tempo, promovem-na.
A ganância pode se tornar dominante no mercado, reconhecem os dois
estudiosos, mas não é uma consequência inevitável, nem é a única maneira
de alcançar a prosperidade.
"Celebrar o egoísmo não ajuda à causa do mercado", escrevem os dois
estudiosos norte-americanos, que, no entanto, afirmam também que é
errado olhar para os mercados como algo de “moralmente inferior” se
comparados a formas alternativas de coordenação.
Um terceiro estudo focaliza a atenção mais uma vez sobre a questão da
desigualdade: Biblical Warnings to ‘the Rich’ and the Challenge of
Contemporary (advertências bíblicas aos "ricos" e o desafio da riqueza
contemporânea), editado por Clive Beed, ex-membro do Departamento de
Economia da Universidade de Boston, e Cara Beed, ex-membro do
Departamento de Ciências Sociais da Universidade Católica australiana.
Nos tempos bíblicos, não havia classe média e os níveis de riqueza
mudaram dramaticamente desde então, observam os dois pesquisadores
australianos, que, em seguida, admitem: "A existência de um grande fosso
entre ricos e pobres é um anátema para os desígnios de Deus ".
As advertências da Bíblia para os ricos não se aplicam à classe
média, afirmam os autores. No entanto, os cristãos têm a
responsabilidade de ajudar quem é pobre e isso vale ainda mais para quem
é rico.
Com os problemas económicos que continuam a flagelar muitos países e
um novo Papa que certamente continuará a chamar a atenção para os mais
necessitados, a economia de mercado e a doutrina social da Igreja
continuarão a ser temas muito debatidos.
[Tradução do Italiano por Thácio Siqueira]
in
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