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sexta-feira, 26 de abril de 2013

Na Páscoa baptizaram-se católicos 12.000 adultos na China, onde evangelizar não é fácil

Sem dados da Igreja clandestina

María, filha de militar comunista e ateu, explica que lhe custou 8 anos baptizar-se. Mas nas cidades há sede de Deus.

Actualizado 25 de Abril de 2013

P. J. Ginés/ReL


"Cresci num acampamento militar, escutando canções revolucionárias e vendo películas revolucionárias durante toda a minha feliz infância", explica a jovem chinesa María à agência Ucanews, pouco depois de baptizar-se na Igreja católica.

"Cada ano davam-me a qualificação de excepcional nas minhas tarefas comunistas... E agora a minha família teme que ao unir-me à Igreja estropie o meu futuro", acrescenta.

María (não é o seu nome real) é filha de um oficial militar retirado, que já em 2005 viu que a sua filha fazia amizade com um padre e disse-lhe: "Os comunistas são ateus, não há Deus. Podes fazer-te amiga do padre, mas não te juntes à Igreja". Assim ela afastou-se "razoavelmente" do católico.

Mas em 2011 sofreu uma grave depressão por motivos familiares e laborais, inclusive pensou em suicidar-se. Salvaram-na o padre Su Yaxi, a Bíblia que ele lhe ofereceu, as suas palavras de Deus... e a sua acupunctura!

A fé dá sentido à dor

"O padre Su curou a minha insónia com acupunctura, mas sarou o meu coração com as suas palavras", especifica. "Falou-me de como Deus chama de distintas formas. Se tens fé, ganhas visão com respeito ao sofrimento e à dor".

Desde a Vigília da Páscoa, María é católica, canta no coro paroquial (encanta-a o gospel) e faz já um tempo que não necessita de antidepressivos.

María é de Hengshui, uma diocese ao norte de Hebei, a zona onde há mais presença católica. Esta Páscoa em Hebei baptizaram-se 3.650 novos católicos. Em toda a China na Páscoa baptizaram-se uns 12.000 adultos e um pouco menos de 5.000 crianças. Com a política governamental do filho único (multas fortes a quem tenha mais filhos) o catolicismo chinês não vai crescer muito por demografia e natalidade.

Materialismo inflexível, cristianismo piedoso

Como María, baptizam-se muitos habitantes de cidade, às vezes emigrantes ou filhos de emigrantes, pessoas sobrecarregadas por um sistema que trata de desumanizá-las e exigir-lhes como uma peça de produção mais. Nas cidades há mais espaço para converter-se que em muitos ambientes do campo.

"Em 2009 baptizaram-se publicamente 23.500 adultos na Igreja católica oficial. Na clandestina, não se sabe", explicava à ReL há algum tempo o padre Daniel Cerezo, missionário na China durante muitos anos.

"Ali uma paróquia é um espaço de liberdade, onde podes dizer o que pensas, e isso, que escasseia na China, atrai muitos. O comunismo é um sistema sanguinário, opressivo, a gente o sabe e quer alternativas. O comunismo põe a luta de classes, a violência, no centro de tudo. Pelo contrário, o cristianismo põe no centro a misericórdia, e perante isso a alma chinesa derrete-se. Eu o vi nos catecúmenos, vi-os chorar quando vêem que Deus se aproxima também a um fracassado, enquanto o marxismo só aceita triunfadores", acrescenta este missionário espanhol.

Sem dados de Shanghai e o seu bispo detido
As cifras da Igreja Católica na China são complicadas sempre. Por exemplo, este ano não há dados do que se passou na populosa diocese de Shanghai. No relatório numérico do FICS (um instituto estatístico católico de Hebei) resume-se com uma nota de rodapé de página: "sem estatísticas por razões comummente conhecidas". Refere-se à detenção e desaparição no passado mês de Julho do bispo auxiliar Tadeo Ma Daqin quando foi consagrado bispo, pelas suas palavras rebeldes com o regime.

O FICS há 6 anos que desenvolve estudos estatísticos e recorda ainda que em 2012 registou 22.000 baptismos, referia-se aos que se produzem de Janeiro à Páscoa, enquanto este ano contam só os da Páscoa.

Contar católicos clandestinos


Segundo o FICS, há na China continental 5,7 milhões de católicos. Mas desde Hong Kong há outro instituto de estudos católico, o HSSC que fala sempre de 12 milhões de católicos, considerando que metade são clandestinos, quer dizer "não registados" nem debaixo de supervisão do governo. Uma gota diminuta num mar de 1.300 milhões de habitantes.

Anthony Lam Sui-ki recorda desde o HSSC de Hong-Kong que há na China uns 80 bispos com aprovação do Vaticano, dos quais uns 40 não são reconhecidos pelo governo comunista. Pelo contrário, há algo menos de 10 bispos implantados pelo Governo que não tem mandato papal.

Apoiar as vocações nativas
Enquanto a Espanha celebra este domingo o Dia das Vocações Nativas vale a pena recordar que na China, com mais de 100 dioceses, só há 9 seminários maiores, com 486 seminaristas (50 menos que em 2010). Toda a Igreja se sustém com 3.200 padres, 5.400 religiosas de 100 congregações distintas e 350 religiosos.

Há que ter em conta que falta toda uma geração de padres: quase ninguém foi ordenado entre 1955 e 1984. Os padres jovens careceram de mentores e mestres. No campo muitos padres mantêm simplesmente as velhas devoções. O impulso missionário e de criação de comunidades do Vaticano II chegou com 25 anos de atraso.


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