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terça-feira, 23 de abril de 2013

Glória Estefan: Cada vez que 'Caridade do Cobre' toca no rádio é como uma oração

Entrevista com a estrela pop cubano-americana durante congresso sobre liberdade religiosa


Roma,


Acontece em Roma o congresso sobre liberdade religiosa no mundo actual realizado com o método TED, em que cada palestrante fala durante um máximo de 18 minutos. O evento é também chamado de Hollywood da Genialidade.

Entre os diversos conferencistas desta edição esteve a cantora cubano-americana Gloria Estefan, que tem mais de 90 milhões de discos vendidos e é considerada a mãe do pop latino. ZENIT a entrevistou.

Gloria não se intimidou na hora de declarar o que pensa sobre Cuba: lamentou a limitação religiosa; a existência de terceiras gerações nascidas nos Estados Unidos que se perguntam o que fazer para que Cuba tenha liberdade; falou dos blogueiros que arriscam a vida e relembrou a manifestação que organizou em Miami quando as Damas de Blanco foram agredidas. Afirmou que a internet põe em xeque a censura da informação existente no país, contou que reza e disse querer que as suas músicas, como a de Nossa Senhora da Caridade do Cobre, sejam como uma oração quando tocadas na rádio.

Por que você veio ao TED sobre liberdade religiosa?
Glória Estefan: Eu fiquei surpresa quando me convidaram para falar desse tema, mas me explicaram que queriam pessoas que não são religiosas para falar sobre as suas crenças. Porque eu inseri todas essas crenças nas minhas músicas ao longo do tempo, pouco a pouco. Para mim, basicamente, o amor é o máximo; podermos nos amar uns aos outros é a maior e mais profunda crença que Cristo nos ensinou.

O que significa estar aqui, num TED em Roma?
Glória Estefan: Um privilégio estar com essas pessoas. Eu tive a oportunidade de ver muitos fãs que vieram de vários países da Europa, da Holanda, da Alemanha, da Inglaterra. Foi um lindo encontro com o público da Europa.

Já conheceu o papa Francisco?
Glória Estefan: Ainda não conheci o novo papa, mas quero saudá-lo em breve.

Mas você conheceu João Paulo II, não foi?
Glória Estefan: Sim, porque em 1995 parece que ele estava escutando a minha música; tinha uma em particular, chamada Más Allá, que foi tocante para eles. Ele tinha completado 50 anos de sacerdócio e me convidaram para fazer parte da celebração.

Você saiu de Cuba no colo da sua mãe. Você se sente cubana ou norte-americana?
Glória Estefan: Eu tinha dois anos, me sinto cubano-americana mesmo, porque me criei nos Estados Unidos, mas sinto que temos uma questão pendente. Nos lugares que eu visito, eu não sou de lá. Mesmo em Miami, que é o lugar onde eu me criei, e eu me sinto de lá, eles falam de mim como uma cubana exilada.

O que você sabe de Cuba?
Glória Estefan: Eu tive a oportunidade, faz pouco tempo, de falar com Yoani Sánchez, uma blogueira que está arriscando a vida para falar contra a falta de liberdade de Cuba, e ela estava muito surpresa porque a geração do meu filho ainda se considera cubana. E o meu filho perguntou a ela o que nós podemos fazer, na nossa geração, para ajudar os cubanos que estão lá. Porque nós queremos para eles a liberdade que temos no mundo.

E o que você considera que pode ser feito?
Glória Estefan: Para mim é importantíssimo tentar pelo menos falar de Cuba, para ninguém se esquecer. Por exemplo, quando as Damas de Blanco estavam sendo agredidas, eu organizei uma passeata bem grande em Miami, que reuniu pessoas de todas as ideias políticas, de todas as religiões e culturas, em favor daquelas mulheres que estavam se arriscando para pedir liberdade.

Você visitou Cuba? Fez alguma turné por lá?
Glória Estefan: Para mim, Cuba é algo muito importante na minha vida e a minha música faz parte de quem eu sou, é uma herança cultural. E é uma dor para mim não poder visitar a minha terra e não poder ter a história que a maioria no mundo tem, de poder visitar a sua própria terra.

Quando você compôs a música Mi tierra, em que país estava pensando? Em Cuba?
Glória Estefan: Claro, e também pensava em todos os imigrantes que, ao sair da própria terra, sentem saudade dos sabores, dos cheiros daquela mãe pátria, que eles levam consigo para todo lugar. Porque, mesmo com a minha base cubana, que é de onde surgem as minhas ideias e as minhas músicas, eu tento ampliar, não excluir, e essa música inclui o mundo todo. Um colombiano a compôs comigo. Ela começa no estilo colombiano e depois muda para a música cubana, para dar a entender que estamos todos unidos.

A liberdade religiosa no seu país é um problema bem sentido...
Glória Estefan: É, com certeza. Mais ainda: não existe liberdade religiosa e eles não nos deixam ter religião, porque, para o governo, que é uma ditadura tão forte, a religião é um problema. É um perigo quando alguém acredita em algo maior do que o líder máximo do país. Eles já sabem que não podem, que é impossível. As pessoas continuam, em casa, nos lugares privados, se elevando a Deus, ao Deus em que elas acreditam. E agora estão se abrindo mais. Não vão conseguir, é como uma panela de pressão. E o governo está afrouxando pouco a pouco.

João Paulo II disse: “Que Cuba se abra para o mundo e que o mundo se abra para Cuba”. Mudou alguma coisa desde então?
Glória Estefan: É incrível, porque João Paulo me convidou para ir com ele a Cuba naquele ano e eu disse para sua santidade que não queria transformar uma viagem espiritual numa viagem política, porque eu não ia conseguir ir para Cuba e ficar quieta. E eu não queria causar violência nem tirar o protagonismo do papa. E ele entendeu muito bem. Nada mudou, só um pouquinho mais de abertura. Não fizeram mais muitas coisas contra a Igreja e os fieis, mas mudanças para o povo cubano ainda não aconteceram muitas. Agora Raúl Castro deixou os cubanos viajarem um pouco e voltarem a entrar. Vamos ver, se Deus quiser, se eles continuam abrindo um pouco mais, para ficar melhor para o povo.

No ano passado Bento XVI também foi a Cuba...
Glória Estefan: Verdade, os papas vão e eu acho que é importante os líderes religiosos irem até os povos que estão mais necessitados. E esse povo está muito necessitado de amor, de crença, de religiosidade. Precisa de espiritualidade e é bom eles irem, mas enquanto esse governo continuar é difícil que mude alguma coisa, se eles não mudam.

O que vai acontecer em Cuba depois?
Glória Estefan: É uma ilha, é mais fácil controlar, eles controlam a mídia. Agora a internet está entrando, e quanto mais celulares e acesso a formas de internet, sem que o governo possa intervir, é mais difícil para eles controlarem. Por enquanto, eles restringem muito a informação. E limitar é uma forma fácil de causar terror e medo numa ilha.

O que você comentou no congresso, em duas palavras?
Glória Estefan: Em duas palavras é impossível (risadas), eu sou cubana. É que a música faz parte da minha religião, eu levo a música muito a sério e ela é uma responsabilidade, porque cada vez que eu lanço uma letra ao mundo, eu sei que muita gente está escutando. E estou muito agradecida por poder me comunicar com tantas pessoas através da música, agradecida também aos meus fãs que me acompanham e rezam por mim.

Você reza?
Glória Estefan: Eu rezo muito! E tenho muitas músicas, por exemplo, uma que se chama Caridad del Cobre, que é para Nossa Senhora de Cuba. Eu sei que cada vez que essa música toca na rádio é como uma oração, como Always Tomorrow e Coming Out Of The Dark.

Para saber mais sobre o evento: www.TEDxviadellaconciliazione.com



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