Papa Francisco recebe em audiência os Membros da Pontifícia Comissão Bíblica com o Presidente Mons. Gerhard Ludwig Müller
Cidade do Vaticano,
Às 12hs de hoje, na Sala dos Papas do Palácio Apostólico
Vaticano, o Santo Padre Francisco recebeu em Audiência os membros da
Pontifícia Comissão Bíblica com o Presidente S.E.Mons. Gerhard Ludwig
Müller, no final da Assembleia plenária com o tema “Inspiração e verdade
da Bíblia”. Publicamos a seguir a tradução do discurso que o Papa
dirigiu aos presentes durante o encontro:
***
Eminência,
Venerado Irmão,
Caros membros da Pontifícia Comissão Bíblica,
tenho o prazer de recebê-vos no final da vossa Assembleia plenária
anual. Agradeço ao Presidente, Arcebispo Gerhard Ludwig Müller, pela
saudação e a sucinta exposição do tema que foi objecto de atenta reflexão
ao longo dos vossos trabalhos. Vos reunistes novamente para aprofundar
um argumento muito importante: a inspiração e a verdade da Bíblia.
Trata-se de um tema que diz respeito não somente ao fiel na sua
individualidade, mas a toda a Igreja, porque a vida e a missão da Igreja
se fundamentam na Palavra de Deus, que é a alma da teologia e, também,
inspiradora de toda a existência cristã.
Como sabemos, as Sagradas Escrituras são o testemunho escrito da
Palavra de Deus, o memorial canónico que atesta o evento da Revelação. A
Palavra de Deus, portanto, precede e excede a Bíblia. É por isso que a
nossa fé não tem no centro somente um livro, mas uma história de
salvação e especialmente uma Pessoa, Jesus Cristo, Palavra de Deus feita
carne.
Precisamente porque o horizonte da Palavra divina abraça e se estende
além da Escritura, para compreendê-la adequadamente é necessária a
constante presença do Espírito Santo que “orienta à toda verdade” (Jo
16, 13). É necessário colocar-se na corrente da grande Tradição que, sob
a guia do Espírito Santo e a guia do Magistério, reconheceu os escritos
canónicos como Palavra dirigida por Deus ao seu povo e nunca parou de
meditá-las e de descobrir nela as riquezas inesgotáveis.
O Concílio Vaticano II reiterou com grande clareza na Constituição
dogmática Dei Verbum: "Tudo o que diz respeito ao modo de interpretar a
Escritura está submetido em última instância ao juízo da Igreja, que
cumpre o mandamento divino e o mistério de conservar e interpretar a
palavra de Deus" (n. 12).
Como ainda nos lembra tal Constituição conciliar, existe uma
inseparável unidade entre Sagrada Escritura e Tradição, porque ambas
provém de uma mesma fonte: “A sagrada Tradição, portanto, e a Sagrada
Escritura estão ìntimamente unidas e compenetradas entre si. Com efeito,
derivando ambas da mesma fonte divina, fazem como que uma coisa só e
tendem ao mesmo fim. A Sagrada Escritura é a palavra de Deus enquanto
foi escrita por inspiração do Espírito Santo; a sagrada Tradição, por
sua vez, transmite integralmente aos sucessores dos Apóstolos a palavra
de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos Apóstolos,
para que eles, com a luz do Espírito de verdade, a conservem, a exponham
e a difundam fielmente na sua pregação; donde resulta assim que a
Igreja não tira só da Sagrada Escritura a sua certeza a respeito de
todas as coisas reveladas. Por isso, ambas devem ser recebidas e
veneradas com igual espírito de piedade e reverência"(ibid., 9).
Daí resulta que o exegeta deve ter o cuidado de perceber a Palavra de
Deus presente nos textos bíblicos, colocando-os dentro da mesma fé da
Igreja. A interpretação das Sagradas Escrituras não pode ser somente um
esforço científico individual, mas deve ser sempre confrontada, inserida
e autenticada pela tradição viva da Igreja. Esta norma é decisiva para
explicar a relação correta e recíproca entre a exegese e o Magistério da
Igreja. Os textos inspirados por Deus foram confiados à comunidade dos
fieis, à Igreja de Cristo, para alimentar a fé e guiar a vida de
caridade.
O respeito desta natureza profunda das Escrituras condiciona a mesma
validade e eficácia da hermenêutica bíblica. Isso comporta a
insuficiência de toda interpretação subjectiva ou simplesmente limitada a
uma análise incapaz de acolher em si aquele sentido global que ao longo
dos séculos constitui a Tradição de todo o Povo de Deus, que “in
credendo falli nequit” (Conc. Ecum. Vat. II, Const dogm. Lumen gentium,
12).
Queridos irmãos, desejo concluir o meu discurso expressando-vos o meu
agradecimento e encorajando-vos nesse importante trabalho. O Senhor
Jesus Cristo, Verbo de Deus encarnado e divino Mestre que abriu a mente e
o coração dos seus discípulos à inteligência das Escrituras (cf. Lc 24,
45), guie e sustente sempre a vossa actividade.
A Virgem Maria, modelo de docilidade e obediência à Palavra de Deus,
vos ensine a acolher plenamente a riqueza inesgotável da Sagrada
Escritura não somente por meio da busca intelectual, mas na oração e em
toda a vossa vida de crentes, especialmente neste Ano da fé, para que o
vosso trabalho contribua para fazer brilhar a luz da Sagrada Escritura
no coração dos fieis. E desejando-vos uma frutuosa continuação das
vossas actividades, invoco sobre vós a luz do Espírito Santo e concedo a
todos vós a minha Bênção.
in
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