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sábado, 13 de abril de 2013

"A interpretação da Bíblia não é um esforço individual, mas inserido na Tradição"

Papa Francisco recebe em audiência os Membros da Pontifícia Comissão Bíblica com o Presidente Mons. Gerhard Ludwig Müller


Cidade do Vaticano,


Às 12hs de hoje, na Sala dos Papas do Palácio Apostólico Vaticano, o Santo Padre Francisco recebeu em Audiência os membros da Pontifícia Comissão Bíblica com o Presidente S.E.Mons. Gerhard Ludwig Müller, no final da Assembleia plenária com o tema “Inspiração e verdade da Bíblia”. Publicamos a seguir a tradução do discurso que o Papa dirigiu aos presentes durante o encontro:

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Eminência,

Venerado Irmão,

Caros membros da Pontifícia Comissão Bíblica,

tenho o prazer de recebê-vos no final da vossa Assembleia plenária anual. Agradeço ao Presidente, Arcebispo Gerhard Ludwig Müller, pela saudação e a sucinta exposição do tema que foi objecto de atenta reflexão ao longo dos vossos trabalhos. Vos reunistes novamente para aprofundar um argumento muito importante: a inspiração e a verdade da Bíblia. Trata-se de um tema que diz respeito não somente ao fiel na sua individualidade, mas a toda a Igreja, porque a vida e a missão da Igreja se fundamentam na Palavra de Deus, que é a alma da teologia e, também, inspiradora de toda a existência cristã.

Como sabemos, as Sagradas Escrituras são o testemunho escrito da Palavra de Deus, o memorial canónico que atesta o evento da Revelação. A Palavra de Deus, portanto, precede e excede a Bíblia. É por isso que a nossa fé não tem no centro somente um livro, mas uma história de salvação e especialmente uma Pessoa, Jesus Cristo, Palavra de Deus feita carne.

Precisamente porque o horizonte da Palavra divina abraça e se estende além da Escritura, para compreendê-la adequadamente é necessária a constante presença do Espírito Santo que “orienta à toda verdade” (Jo 16, 13). É necessário colocar-se na corrente da grande Tradição que, sob a guia do Espírito Santo e a guia do Magistério, reconheceu os escritos canónicos como Palavra dirigida por Deus ao seu povo e nunca parou de meditá-las e de descobrir nela as riquezas inesgotáveis.

O Concílio Vaticano II reiterou com grande clareza na Constituição dogmática Dei Verbum: "Tudo o que diz respeito ao modo de interpretar a Escritura está submetido em última instância ao juízo da Igreja, que cumpre o mandamento divino e o mistério de conservar e interpretar a palavra de Deus" (n. 12).

Como ainda nos lembra tal Constituição conciliar, existe uma inseparável unidade entre Sagrada Escritura e Tradição, porque ambas provém de uma mesma fonte: “A sagrada Tradição, portanto, e a Sagrada Escritura estão ìntimamente unidas e compenetradas entre si. Com efeito, derivando ambas da mesma fonte divina, fazem como que uma coisa só e tendem ao mesmo fim. A Sagrada Escritura é a palavra de Deus enquanto foi escrita por inspiração do Espírito Santo; a sagrada Tradição, por sua vez, transmite integralmente aos sucessores dos Apóstolos a palavra de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos Apóstolos, para que eles, com a luz do Espírito de verdade, a conservem, a exponham e a difundam fielmente na sua pregação; donde resulta assim que a Igreja não tira só da Sagrada Escritura a sua certeza a respeito de todas as coisas reveladas. Por isso, ambas devem ser recebidas e veneradas com igual espírito de piedade e reverência"(ibid., 9).

Daí resulta que o exegeta deve ter o cuidado de perceber a Palavra de Deus presente nos textos bíblicos, colocando-os dentro da mesma fé da Igreja. A interpretação das Sagradas Escrituras não pode ser somente um esforço científico individual, mas deve ser sempre confrontada, inserida e autenticada pela tradição viva da Igreja. Esta norma é decisiva para explicar a relação correta e recíproca entre a exegese e o Magistério da Igreja. Os textos inspirados por Deus foram confiados à comunidade dos fieis, à Igreja de Cristo, para alimentar a fé e guiar a vida de caridade.

O respeito desta natureza profunda das Escrituras condiciona a mesma validade e eficácia da hermenêutica bíblica. Isso comporta a insuficiência de toda interpretação subjectiva ou simplesmente limitada a uma análise incapaz de acolher em si aquele sentido global que ao longo dos séculos constitui a Tradição de todo o Povo de Deus, que “in credendo falli nequit” (Conc. Ecum. Vat. II, Const dogm. Lumen gentium, 12). 

Queridos irmãos, desejo concluir o meu discurso expressando-vos o meu agradecimento e encorajando-vos nesse importante trabalho. O Senhor Jesus Cristo, Verbo de Deus encarnado e divino Mestre que abriu a mente e o coração dos seus discípulos à inteligência das Escrituras (cf. Lc 24, 45), guie e sustente sempre a vossa actividade.

A Virgem Maria, modelo de docilidade e obediência à Palavra de Deus, vos ensine a acolher plenamente a riqueza inesgotável da Sagrada Escritura não somente por meio da busca intelectual, mas na oração e em toda a vossa vida de crentes, especialmente neste Ano da fé, para que o vosso trabalho contribua para fazer brilhar a luz da Sagrada Escritura no coração dos fieis. E desejando-vos uma frutuosa continuação das vossas actividades, invoco sobre vós a luz do Espírito Santo e concedo a todos vós a minha Bênção.


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