A BOA
POLÍTICA AO SERVIÇO DA PAZ
Nota
da Comissão Nacional Justiça e Paz sobre a mensagem do Papa para o Dia Mundial
da Paz
A Comissão Nacional Justiça e Paz quer, através desta nota, chamar a atenção
para a oportunidade da mensagem do Papa para o 52º Dia Mundial da Paz
(celebrado a 1 de janeiro de 2019), mensagem que tem por título: A Boa
Política Está ao Serviço da Paz.
São várias as circunstâncias que marcam a atualidade e que tornam
particularmente oportuna esta mensagem, relativa à política e à paz: o
crescente absentismo eleitoral e desinteresse na participação política; a
frequência de atitudes que denotam falta de ética da parte de políticos de quem
se esperaria um comportamento exemplar; a marginalização de jovens vítimas do
desemprego; o apoio que em muitos países recolhem discursos baseados na
hostilidade aos estrangeiros e fomentadores de ódio; a violência verbal para
com adversários políticos; a persistência de guerras perante o alheamento de
muitos responsáveis políticos; o comércio de armas, clandestino ou com a
cumplicidade de governos indiferentes ao destino que a estas é dado.
Neste contexto, queremos pôr em relevo alguns dos aspetos da referida mensagem:
Deve ser reafirmada a dignidade da política («uma forma eminente de caridade»)
como serviço à vida e dignidade das pessoas, aos direitos humanos fundamentais
(os quais não podem ser desligados dos deveres respetivos) e à paz.
A política assim concebida leva a estabelecer entre as gerações presentes e as
gerações futuras laços de confiança e gratidão.
A boa política promove a participação política dos jovens. Reconhece as
capacidades de cada pessoa e encoraja os talentos e vocações dos jovens, porque
«cada um pode contribuir com uma pedra para a construção da casa comum»
e «cada mulher, cada homem e cada geração encerram em si uma promessa que
pode libertar novas energias relacionais, intelectuais, culturais e espirituais».
A boa política promove a confiança no outro. Vivemos hoje um clima de
desconfiança enraizada no medo do outro ou do estrangeiro que se manifesta em
atitudes de fechamento ou nacionalismo que colocam em questão a fraternidade
universal, de que o nosso mundo globalizado tanto precisa.
A paz não é um simples equilíbrio de forças, nem pode assentar na ameaça e medo
de retaliações. Manter o outro sob ameaça é reduzi-lo a objeto e negar a sua
dignidade.
Merecem
especial cuidado e proteção as crianças vítimas da guerra (uma em cada seis, no
mundo inteiro), algumas delas arregimentadas como soldados ou reféns de grupos
armados.
A paz
supõe uma conversão do coração e do espírito e nas suas vertentes pessoal e
comunitária inclui três dimensões indissociáveis: a paz com o outro (o
familiar, o amigo, o estrangeiro, o pobre, a pessoa que sofre), a paz com a
criação (um dom de Deus por que somos responsáveis enquanto habitantes do mundo
e construtores do futuro) e a paz consigo mesmo (o que supõe a recusa da
intransigência, da cólera e da impaciência).
A
política da paz apoia-se e renova-se no espírito do Magnificat que
Maria, Rainha da Paz, canta por nós e por todas as gerações: «…exaltou os
humildes…aos famintos encheu de bens…lembrado da sua misericórdia, como tinha
prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência para sempre» (Lc,
49-55).
Lisboa,
1 de janeiro de 2019
A Comissão
Nacional Justiça e Paz
CNJP - Comissão Nacional Justiça e Paz
Conferência Episcopal Portuguesa
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