Com Minha Mãe Estarei, no Céu, no Céu

Há alguns dias tive oportunidade de assistir a uma cerimónia fúnebre que muito me sensibilizou, pela sua sobriedade, simplicidade e espírito sobrenatural. Entre muitos outros tocou-me particularmente, a música tocada no final, ou seja: “Com minha Mãe estarei, na santa glória um dia, junto à Virgem Maria, no Céu triunfarei. No Céu, no Céu, com minha mãe estarei…” Com minha Mãe estarei, em seu colo materno, em seu coração terno, sem fim descansarei… Saí reconfortada e em paz com este doce cântico tão bonito, na certeza de que a excelente pessoa em causa, muito humana e solidária, a quem muito devo, já estaria junto da nossa Mãe do Céu. Durante alguns dias esta música de vez em quanto surgia no meu pensamento. Logo resolvi que o melhor mesmo, era passar para a escrita. Mas também não sabia como abordar. Depois pensei interiormente que o Espírito Santo se encarregaria de me conceder algumas luzes. Sentia necessidade de escrever sobre o bem, sobre a solidariedade escondida, sem protagonismo, muito sentida no fundo do coração. E recordei as palavras de Jesus: “Tudo o que fizestes a um destes pequeninos, meus irmãos, foi a mim que o fizestes”. Na verdade a caridade é o mais importante para Jesus. Recordo ainda outras palavras Suas, que são uma enorme lição de solidariedade, do modo como devemos agir, que constituem verdadeiras pérolas maravilhosas, de uma enorme riqueza, que o evangelista S. Marcos tão bem enunciou: “Porque tive fome e deste-me de comer, tive sede e deste-me de beber, era peregrino e recolheste-me, estava nu e deste-me de vestir, adoeci e visitaste-me, estive na prisão e foste ter comigo”.

O Papa Francisco afirma na Exortação apostólica Gaudium Evangelii, citando um texto do Concílio Vaticano II: “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e daqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Jesus, e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração…” O Papa indica “um caminho que para ser percorrido eficazmente precisa de vigor espiritual, de coragem, de profecia e da alegria verdadeira que só brotam no coração de quem compreende bem o desejo de Jesus”.

Não é fácil cumprir o desejo de Jesus. Mas tenho, ao longo da vida, podido admirar inúmeras vezes, com uma enorme admiração, o espírito de sacrifício, de entrega, o amor existente em prol do bem-estar de quem mais precisa a diferentes níveis. Em silêncio, sem esperar qualquer tipo de reconhecimento ou de proveito. E preenche-nos o coração observar tanta generosidade. Poderia enunciar inúmeros casos. Mas hoje sinto necessidade de falar da família. Há alguns dias tive oportunidade de conhecer uma mãe de oito filhos que ficou viúva muito cedo. Como se desdobrou e trabalhou com uma fé e uma esperança enormes, para que nada lhes faltasse e crescessem enquanto pessoas de bem, com os valores, as regras e as normas a que o pai os tinha habituado. Graças a Deus, a família e os amigos ajudaram e colaboraram para que esta família não ficasse desamparada. E quanta solidariedade existiu entre os irmãos que colaboravam nas diferentes tarefas domésticas, os mais velhos ajudavam os mais novos, ajudando-os igualmente nos estudos. E o tempo passou… A mãe hoje encontra-se reformada. Ajuda imenso, os inúmeros netos que tem. Uma família muito numerosa, onde reina a alegria, a solidariedade e a boa disposição. Onde, apesar das dificuldades sentidas, nunca a esperança desapareceu. E humildemente refere esta mãe, que recebeu mais do que deu. Agradece ao marido, que, desde o Céu nunca os desamparou, com a intercessão da Virgem Maria. Hoje, avó, para além da ocupação com os netos, colabora igualmente numa instituição de solidariedade social para idosos, retribuindo assim todo o bem que recebeu. É bom saber que existem casos positivos, que há pessoas boas que ajudam outras a levar a vida em frente nos momentos mais difíceis. Foi bom ver como uma família se mobilizou para ajudar os entes queridos, que vivenciavam uma situação muito difícil, com a morte precoce do marido que sustentava o lar, conseguindo assim dar a volta por cima, sendo hoje uma família, equilibrada, feliz onde impera o amor, a fé, a solidariedade e uma enorme entrega ao próximo.

Termino este artigo denominado: “Com minha Mãe estarei no Céu, no Céu”, recordando ainda uma outra parte da letra da canção: “Com minha Mãe estarei, palavra deliciosa, que em hora trabalhosa sempre recordarei. Com minha Mãe estarei e a fé viva, ardente com que firme, valente, o mal evitarei”. Que Santa Maria Rainha da Esperança e da Família nos ajude a todos nos momentos mais difíceis da nossa vida, rogando por nós.

Maria Helena Paes