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domingo, 20 de janeiro de 2019

Bons Auspícios

Era o último domingo do tempo do Natal, dia do Batismo de Jesus, cujo nome foi fixado pelo próprio Deus através do Anjo que o deu a conhecer a José e que lhe disse: “Dar-lhe-ás o nome de Jesus”. Com a escolha do nome não só se designava uma pessoa, mas pretendia-se indicar para além disso, algo próprio e exclusivo dela, expressando a sua própria natureza, a sua missão ou as suas qualidades mais características. O significado de Jesus é Salvador. Com Jesus chegou a salvação ao mundo inteiro: Deus exaltou-o e deu-lhe o nome que sobreleva a todo o nome, para que ao referir o nome de Jesus, todo o joelho se dobre nos céus, na terra e nos infernos. Assim o nome de Jesus, ao significar salvador, indicava o que Jesus é. (Cf. Vida de Jesus, de F. Fernández Carvajal). “Perde o medo de chamar o Senhor pelo seu nome – Jesus – e de lhe dizer que o amas” ( S. Josemaria in Caminho, nº 303). Neste dia tão especial, em que resolvi que estaria com uma amiga quase centenária, almoçando na sua companhia na residência onde presentemente vivia. Aproveitei para assistir aí à missa. Ela gostava de sentir a minha presença. Quando estava a chegar, veio-me ao pensamento a frase: “Bons Auspícios”. Fiquei com a certeza que tudo iria correr pelo melhor. E assim foi. A minha amiga estava bem arranjada e sorridente, parecendo emanar uma saúde invejável para a sua idade, a recuperar de uma pequena intervenção. Que bom. “Depois da tempestade vem a bonança”, como refere o ditado. Gostei imenso de ver os residentes, presentes na refeição, darem a sua colaboração, melhor ou pior, dependendo do grau de patologia de que sofriam. E tudo tinha um ar sobrenatural, de alegria e de cor. Este dia recorda-nos o nosso batismo, o grande dom que recebemos, não esquecendo a data em que foi celebrado. Certamente os nossos pais tiveram o cuidado de nos batizar, sempre que possível, quando tínhamos uma tenra idade. Também lhes devemos este cuidado, o grande dom que recebemos, que tem consequências na nossa vida enquanto cristãos. Recordo a frase que se ouviu vinda do Céu, quando Jesus saiu da água, depois de receber o batismo ministrado por S. João Batista nas águas do rio Jordão, tendo-se Jesus recolhido em oração e neste diálogo com seu Pai do Céu, teve lugar uma das mais belas manifestações do mistério da Santíssima Trindade. E viu o Espírito de Deus que descia em forma de pomba e vinha sobre Ele. Uma voz do Céu testemunhou: Este é o meu Filho muito amado, no qual pus as minhas complacências.

A nossa dignidade maior é a condição em que através do batismo nos tornamos filhos de Deus. A dignidade do batizado encontra-se muitas vezes velada, na existência comum como refere S. João numa das suas cartas: Olhai que amor nos teve o Pai para chamar-nos filhos de Deus, pois, somo-lo realmente! Queridos, agora somos filhos de Deus e ainda não se manifestou o que seremos

Voltei ao momento presente. A missa estava quase a terminar. Tornava-se necessário dedicar atenção à minha amiga. Ainda assim, teci uma consideração que me veio interiormente ao pensamento, ou seja, a pergunta apesar de todo o amor que recebemos de Jesus, se sabemos descansar em Cristo, se sabemos deixar nas Suas mãos as dificuldades existentes? E logo veio-me ao pensamento um ponto de reflexão de Forja, 290: “A alegria, o otimismo sobrenatural e humano, são compatíveis com o cansaço físico, com a dor, com as lágrimas – porque temos coração -, com as dificuldades na nossa vida interior ou na tarefa apostólica”. Voltei-me para a minha amiga, em cadeira de rodas, feliz porque tinha companhia, referindo: “Estou em cadeira de rodas, mas se quisesse já poderia andar de braço dado, acompanhada”. Talvez por ter pensado positivamente na frase ´bons auspícios´, eu própria sentia-me em melhores condições psíquicas para nos animarmos mutuamente, recriando a esperança no futuro. O almoço foi muito tranquilo, cheio de boas recordações que vivenciámos em conjunto. Na verdade os mais velhos têm tantos conhecimentos e lembranças de vida a transmitir! Saí enriquecida, acreditando que tinha recebido mais do que tinha dado.

Depois, decidi, aproveitando o bom tempo que se fazia sentir e a proximidade da zona de Belém, fazer uma bela caminhada à beira Tejo. Foi muito bom sentir o sol e em simultâneo um vento frio, e observar as águas em tom muito azul do rio, e do céu. Quantas famílias por ali passeavam, corriam, andavam de bicicleta, usufruindo de um excelente dia de descanso e de inverno. No entanto, tinha chegado o momento de regressar, e de dedicar atenção à minha própria família.

Maria Helena Paes



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