Era o último domingo do tempo do
Natal, dia do Batismo de Jesus, cujo nome foi fixado pelo próprio Deus através
do Anjo que o deu a conhecer a José e que lhe disse: “Dar-lhe-ás o nome de
Jesus”. Com a escolha do nome não só se designava uma pessoa, mas pretendia-se
indicar para além disso, algo próprio e exclusivo dela, expressando a sua
própria natureza, a sua missão ou as suas qualidades mais características. O
significado de Jesus é Salvador. Com Jesus chegou a salvação ao mundo inteiro: Deus exaltou-o e deu-lhe o nome que
sobreleva a todo o nome, para que ao
referir o nome de Jesus, todo o joelho se dobre nos céus, na terra e nos
infernos. Assim o nome de Jesus, ao significar salvador, indicava o que
Jesus é. (Cf. Vida de Jesus, de F. Fernández Carvajal). “Perde o medo de
chamar o Senhor pelo seu nome – Jesus – e de lhe dizer que o amas” ( S. Josemaria
in Caminho, nº 303). Neste dia tão especial, em que resolvi que estaria
com uma amiga quase centenária, almoçando na sua companhia na residência onde
presentemente vivia. Aproveitei para assistir aí à missa. Ela gostava de sentir
a minha presença. Quando estava a chegar, veio-me ao pensamento a frase: “Bons
Auspícios”. Fiquei com a certeza que tudo iria correr pelo melhor. E assim foi.
A minha amiga estava bem arranjada e sorridente, parecendo emanar uma saúde
invejável para a sua idade, a recuperar de uma pequena intervenção. Que bom.
“Depois da tempestade vem a bonança”, como refere o ditado. Gostei imenso de
ver os residentes, presentes na refeição, darem a sua colaboração, melhor ou
pior, dependendo do grau de patologia de que sofriam. E tudo tinha um ar
sobrenatural, de alegria e de cor. Este dia recorda-nos o nosso batismo, o
grande dom que recebemos, não esquecendo a data em que foi celebrado.
Certamente os nossos pais tiveram o cuidado de nos batizar, sempre que
possível, quando tínhamos uma tenra idade. Também lhes devemos este cuidado, o
grande dom que recebemos, que tem consequências na nossa vida enquanto
cristãos. Recordo a frase que se ouviu vinda do Céu, quando Jesus saiu da água,
depois de receber o batismo ministrado por S. João Batista nas águas do rio
Jordão, tendo-se Jesus recolhido em oração e neste diálogo com seu Pai do Céu,
teve lugar uma das mais belas manifestações do mistério da Santíssima Trindade.
E viu o Espírito de Deus que descia em
forma de pomba e vinha sobre Ele. Uma voz do Céu testemunhou: Este é o meu Filho muito amado, no qual pus as
minhas complacências.
A nossa dignidade maior é a
condição em que através do batismo nos tornamos filhos de Deus. A dignidade do
batizado encontra-se muitas vezes velada, na existência comum como refere S.
João numa das suas cartas: Olhai que amor
nos teve o Pai para chamar-nos filhos de Deus, pois, somo-lo realmente! Queridos, agora somos filhos de Deus e ainda
não se manifestou o que seremos…
Voltei ao momento presente. A
missa estava quase a terminar. Tornava-se necessário dedicar atenção à minha
amiga. Ainda assim, teci uma consideração que me veio interiormente ao
pensamento, ou seja, a pergunta apesar de todo o amor que recebemos de Jesus,
se sabemos descansar em Cristo, se sabemos deixar nas Suas mãos as dificuldades
existentes? E logo veio-me ao pensamento um ponto de reflexão de Forja, 290: “A alegria, o otimismo
sobrenatural e humano, são compatíveis com o cansaço físico, com a dor, com as
lágrimas – porque temos coração -, com as dificuldades na nossa vida interior
ou na tarefa apostólica”. Voltei-me para a minha amiga, em cadeira de rodas,
feliz porque tinha companhia, referindo: “Estou em cadeira de rodas, mas se
quisesse já poderia andar de braço dado, acompanhada”. Talvez por ter pensado positivamente
na frase ´bons auspícios´, eu própria sentia-me em melhores condições psíquicas
para nos animarmos mutuamente, recriando a esperança no futuro. O almoço foi
muito tranquilo, cheio de boas recordações que vivenciámos em conjunto. Na
verdade os mais velhos têm tantos conhecimentos e lembranças de vida a
transmitir! Saí enriquecida, acreditando que tinha recebido mais do que tinha
dado.
Depois, decidi, aproveitando o
bom tempo que se fazia sentir e a proximidade da zona de Belém, fazer uma bela caminhada
à beira Tejo. Foi muito bom sentir o sol e em simultâneo um vento frio, e
observar as águas em tom muito azul do rio, e do céu. Quantas famílias por ali
passeavam, corriam, andavam de bicicleta, usufruindo de um excelente dia de
descanso e de inverno. No entanto, tinha chegado o momento de regressar, e de
dedicar atenção à minha própria família.
Maria Helena Paes |
Sem comentários:
Enviar um comentário