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domingo, 20 de janeiro de 2019

Tempos de esperança

Decorria o ano de 1219, em plena época das Cruzadas, em clima de violência e de conflito, quando Francisco de Assis, decidiu dar a sua contribuição para promover a paz, e foi ao encontro do Sultão, com a bênção e permissão do então Papa Honório III.

Assim, enquanto o poder disputava entre si as terras conquistadas, o “Pobre de Assis” de forte visão evangelizadora, partiu para Damietta, perto do Cairo, para conversar com o Sultão do Egito, Malik al Kamil, fazendo com que o Evangelho se encontrasse com o Alcorão. Foi um gesto inesperado, cheio de boas intenções e implicações, mas que permaneceu por muito tempo “pouco glorioso”, sendo considerado até mesmo pela maioria como um fracasso.

Porém, hoje é considerado como o primeiro pilar na esteira do diálogo inter-religioso islâmico-cristão e oitocentos anos mais tarde, no Paquistão – por iniciativa da Comissão Nacional para o Diálogo Inter-religioso e o Ecumenismo, no seio da Conferência dos Bispos do Paquistão – uma série de importantes iniciativas e celebrações, voltam a relançar a mensagem universal de tolerância, de amizade, do compromisso comum pela paz.

A inauguração deste ano especial dedicado ao diálogo ocorreu em Lahore, na presença de Dom Sebastian Shaw, arcebispo da cidade, do presidente da Conferência Episcopal do Paquistão e do padre Francis Nadeem, Custódio dos Frades Capuchinhos paquistaneses, e secretário executivo da Comissão. Estiveram também presentes numerosos franciscanos, religiosas, sacerdotes, leigos e eminentes estudiosos muçulmanos oriundos de cidades como Sialkot, Gujranwala e Islamabad.

O capuchino Shahzad Khokher apresentou o contexto histórico e o significado deste encontro, narrado num livro da Livraria Editora Vaticana (LEV), intitulado “Bento XVI e São Francisco”, de Gianfranco Grieco, que investiga a teologia, a catequese e a espiritualidade do Papa emérito sobre o Pobrezinho de Assis, toda focada no fortalecimento do diálogo inter-religioso, tema caro também ao Papa Bergoglio, que do Frade Santo, escolheu o nome.


O arcebispo Shaw encorajou todos os presentes a “serem embaixadores da paz” e o Padre Nadeem anunciou que em 2019 o evento será celebrado em todo o Paquistão, com diversas atividades: seminários para crianças, jovens, estudantes universitários, envolvendo sempre mais cristãos e muçulmanos.

“Pretendemos alcançar – disse ele – também aqueles 30% de líderes religiosos muçulmanos que são hostis em relação aos cristãos. Como São Francisco, sem medo, com a ajuda dos muçulmanos que estão do nosso lado, desejamos encontrá-los para promover a paz e a harmonia no Paquistão”.

Muhammad Asim Makhdoom, famoso estudioso entre os muitos líderes islâmicos presentes, concordou: “Promoveremos juntos a missão de São Francisco e do Sultão. Cabe a nós enfrentar os que espalham ódio e preconceito entre as religiões. Cabe a nós comprometemo-nos seriamente este ano para convencer outras pessoas a unirem-se a este movimento que promove o diálogo inter-religioso, a paz e a harmonia social, enquanto nós celebramos o 800º aniversário daquele encontro histórico.”

São tempos de esperança de uma paz que urge se alcançada, pois o mal é a ausência de um bem que os homens tardam em fazer acontecer.

Mariano Romero



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