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domingo, 29 de novembro de 2015

Papa: É como peregrino de paz que venho, e apóstolo de esperança que me apresento

Discurso do Santo Padre no encontro com a classe dirigente e com o corpo diplomático, domingo, 29 de novembro

Centroafrica (República Africana Central), 29 de Novembro de 2015 (ZENIT.org)

Apresentamos o texto completo do discurso do Santo Padre pronunciado no encontro com a classe dirigente e com o corpo diplomático no Palácio Presidencial de Bangui, República Centro-Africana, domingo, 29 de novembro.

Senhora Chefe de Estado da Transição,
Distintas Autoridades,
Ilustres membros do Corpo Diplomático,
Dignos representantes das Organizações Internacionais,
Amados Irmãos Bispos,
Senhoras e Senhores!

Feliz por estar aqui convosco, quero em primeiro lugar manifestar o meu vivo apreço pela calorosa recepção que me reservastes e agradeço à Senhora Chefe de Estado da Transição pela sua amável saudação de boas vindas. Deste lugar que, de certo modo, é a casa de todos os centro-africanos, tenho o prazer de exprimir, por seu intermédio e através das outras Autoridades do país aqui presentes, a minha estima e proximidade espiritual a todos os vossos cidadãos. Quero igualmente saudar os membros do Corpo Diplomático, bem como os representantes das Organizações Internacionais, cujo trabalho nos recorda o ideal de solidariedade e cooperação que deve ser cultivado entre os povos e as nações.

Com a República Centro-Africana que, não obstante as dificuldades, se encaminha gradualmente para a normalização da sua vida sociopolítica, piso pela primeira vez esta terra, depois do meu predecessor São João Paulo II. É como peregrino de paz que venho, e apóstolo de esperança que me apresento. Por isso mesmo, me congratulo com os esforços feitos pelas várias Autoridades nacionais e internacionais, a começar pela Senhora Chefe de Estado da Transição, para guiar o país nesta fase. O meu desejo ardente é que as diferentes consultas nacionais que serão realizadas dentro de algumas semanas permitam ao país empreender serenamente uma nova fase da sua história.

Para iluminar o horizonte, temos o lema da República Centro-Africana, que reflecte a esperança dos pioneiros e o sonho dos pais fundadores: «Unidade – Dignidade – Trabalho». Hoje, mais do que ontem, esta trilogia exprime as aspirações de cada centro-africano e constitui, consequentemente, uma bússola segura para as Autoridades, que têm o dever de guiar os destinos do país. Unidade, dignidade, trabalho! Três palavras densas de significado, cada uma das quais representa seja um canteiro de obras seja um programa nunca concluído, um compromisso a executar constantemente.

Primeiro, a unidade. Esta é, como se sabe, um valor fulcral para a harmonia dos povos. Trata-se de viver e construir a partir da maravilhosa diversidade do mundo circundante, evitando a tentação do medo do outro, de quem não nos é familiar, de quem não pertence ao nosso grupo étnico, às nossas opções políticas ou à nossa confissão religiosa. A unidade exige, pelo contrário, que se crie e promova uma síntese das riquezas que cada um traz consigo. A unidade na diversidade é um desafio constante, que requer criatividade, generosidade, abnegação e respeito pelo outro.

Depois, a dignidade. É precisamente este valor moral – sinónimo de honestidade, lealdade, garbo e honra – que caracteriza os homens e mulheres conscientes tanto dos seus direitos como dos seus deveres e que os leva ao respeito mútuo. Cada pessoa tem a própria dignidade. Soube, com prazer, que a República Centro-Africana é o país do «Zo kwe zo», o país onde cada pessoa é uma pessoa. Então, que tudo se faça para tutelar a condição e a dignidade da pessoa humana. E quem tem os meios para levar uma vida decente, em vez de estar preocupado com os privilégios, deve procurar ajudar os mais pobres a terem, também eles, acesso a condições de vida respeitosas da dignidade humana, nomeadamente através do desenvolvimento do seu potencial humano, cultural, económico e social. Por conseguinte, o acesso à instrução e à assistência sanitária, a luta contra a malnutrição e o empenho por garantir a todos uma habitação decente deveriam aparecer na vanguarda dum desenvolvimento cuidadoso da dignidade humana. Em última análise, a dignidade do ser humano é trabalhar pela dignidade dos seus semelhantes.

Por último, o trabalho. É pelo trabalho que podeis melhorar a vida das vossas famílias. São Paulo disse: «Não compete aos filhos entesourar para os pais, mas sim aos pais para os filhos» (2 Cor 12, 14). O esforço dos pais exprime o seu amor pelos filhos. E também vós, centro-africanos, podeis melhorar esta terra maravilhosa, explorando sensatamente os seus abundantes recursos. O vosso país situa-se numa área considerada como um dos dois pulmões da humanidade, por causa da sua excepcional riqueza de biodiversidade. A tal propósito, a que já me referi na Encíclica Laudato si’, tenho particularmente a peito chamar a atenção de todos – cidadãos, responsáveis do país, parceiros internacionais e sociedades multinacionais – para a grave responsabilidade que vos cabe na exploração dos recursos ambientais, nas opções e projectos de desenvolvimento que, duma forma ou doutra, afectam a terra inteira. O trabalho de construção duma sociedade próspera deve ser uma obra solidária. Desde há muito tempo que a sabedoria do vosso povo compreendeu esta verdade, traduzindo-a neste provérbio: «As formigas são pequenas, mas, em grande número, conseguem trazer a presa para o seu buraco».

É supérfluo, sem dúvida, sublinhar a importância crucial do comportamento e administração das Autoridades públicas. Estas deveriam ser as primeiras a encarnar, coerentemente, na sua vida os valores da unidade, da dignidade e do trabalho, para servir de modelo aos seus compatriotas.

A história da evangelização desta terra e a história sociopolítica do país dão testemunho do compromisso da Igreja na linha destes valores da unidade, da dignidade e do trabalho. Ao mesmo tempo que faço memória dos pioneiros da evangelização na República Centro-Africana, saúdo os meus irmãos Bispos que detém presentemente a responsabilidade daquela. Com eles, renovo a disponibilidade da Igreja presente nesta nação a contribuir cada vez mais para a promoção do bem comum, nomeadamente através da busca da paz e reconciliação. Tenho a certeza de que as Autoridades centro-africanas actuais e futuras terão solicitamente a peito garantir à Igreja condições favoráveis ao cumprimento da sua missão espiritual. Assim ela poderá contribuir cada vez mais para «promover todos os homens e o homem todo» (Populorum progressio, 14), para usar a feliz expressão do meu predecessor, o Beato Paulo VI, que foi o primeiro Papa dos tempos modernos que, há cerca de 50 anos, veio à África encorajá-la e confirmá-la no bem ao despontar duma nova alvorada.

Por minha vez, quero neste momento congratular-me com os esforços envidados pela comunidade internacional, aqui representada pelo Corpo Diplomático e os membros de várias Missões das Organizações Internacionais. Encorajo-a vivamente a avançar sempre mais pelo caminho da solidariedade, fazendo votos de que a sua obra, unida à acção das Autoridades centro-africanas, ajude o país a progredir sobretudo na reconciliação, no desarmamento, na consolidação da paz, na assistência sanitária e no cultivo duma sã administração a todos os níveis.

Ao concluir, gostaria de reafirmar a minha alegria por visitar este país maravilhoso, situado no coração da África, pátria dum povo profundamente religioso, com um rico património natural e cultural. Nele vejo um país cumulado dos benefícios de Deus. Possa o povo centro-africano, bem como os seus dirigentes e todos os seus parceiros apreciar, no seu justo valor, estes benefícios, trabalhando sem cessar pela unidade, a dignidade humana e a paz fundada na justiça. Deus vos abençoe a todos. Obrigado.

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Papa: Fidelidade significa seguir o caminho da santidade

Discurso do Santo Padre no encontro com os sacerdotes, os religiosos, as religiosas e os seminaristas, sábado, 28 de novembro

Uganda, 29 de Novembro de 2015 (ZENIT.org)

Apresentamos a íntegra do discurso do Santo Padre no encontro com os sacerdotes, os religiosos, as religiosas e os seminaristas na Catedral de St. Mary, Kampala, Uganda, pronunciado neste sábado, 28 de Novembro.

Deixarei, ao Bispo encarregado da vida consagrada, a mensagem que escrevi para vós, a fim de ser publicada.

Peço desculpa por voltar à minha língua materna, mas não sei falar bem o inglês.

Nesta noite, quero dizer-vos três coisas. A primeira: no livro do Deuteronómio, Moisés lembra ao seu povo: «Não esqueçais». E repete-o várias vezes no livro: «Não esqueçais». Não esqueçais tudo aquilo que Deus fez pelo seu povo. Assim a primeira coisa que vos quero dizer é que tenhais, que peçais a graça da memória. Como disse aos jovens, no sangue dos católicos ugandeses está misturado o sangue dos mártires. Não percais a memória desta semente, para que assim possais continuar a crescer. O principal inimigo da memória é o esquecimento, mas não é o mais perigoso. O inimigo mais perigoso de memória é habituar-se a herdar os bens dos nossos pais. A Igreja no Uganda não deve jamais habituar-se a uma recordação distante dos seus mártires. Mártir significa testemunha. A Igreja no Uganda, para ser fiel a esta memória, deve continuar a ser testemunha. Não deve viver dos rendimentos. As glórias do passado foram o início, mas vós deveis construir as glórias futuras. E esta é a tarefa que a Igreja vos confia: sede testemunhas, como o foram os mártires que deram a vida pelo Evangelho.

Mas, para ser testemunha – é a segunda palavra que vos quero dizer –, é necessária a fidelidade. Fidelidade à memória, fidelidade à própria vocação, fidelidade ao zelo apostólico. Fidelidade significa seguir o caminho da santidade. Fidelidade significa fazer aquilo que fizeram as testemunhas anteriores: ser missionários. Aqui no Uganda talvez haja dioceses que têm muitos sacerdotes, e dioceses que têm poucos; fidelidade significa oferecer-se ao Bispo para ir para outra diocese que precise de missionários. Isto não é fácil. Fidelidade significa perseverança na vocação. E aqui quero agradecer de maneira especial o exemplo de fidelidade que me deram as Irmãs da Casa da Caridade: fidelidade aos pobres, aos doentes, aos mais necessitados, porque neles está Cristo. O Uganda foi irrigado pelo sangue dos mártires, das testemunhas. Hoje é necessário continuar a irrigá-lo; e por isso novos desafios, novas testemunhas, novas missões. Caso contrário, perdereis a grande riqueza que tendes, e a «pérola da África» acabará conservada num museu. É que o demónio ataca assim, pouco a pouco. Estou a falar não só para os sacerdotes, mas também para os religiosos. Mas foi aos sacerdotes que quis referir de modo especial o problema da missionariedade: que as dioceses com muito clero o disponibilizem para aquelas que têm menos clero. Desta forma o Uganda continuará a ser missionário.

Uma memória, que significa fidelidade. E fidelidade, que só é possível com a oração. Se um religioso, uma religiosa, um sacerdote deixa de rezar ou reza pouco, porque diz que tem muito trabalho, já começou a perder a memória, já começou a perder a fidelidade. Oração, que significa também humilhação, a humilhação de ir regularmente ter com o confessor para lhe dizer os próprios pecados. Não se pode mancar com ambas as pernas. Nós, religiosos, religiosas, sacerdotes, não podemos levar uma vida dupla. Se és pecador, se és pecadora, pede perdão; mas não tenhas escondido aquilo que Deus não quer; não tenhas escondida a falta de fidelidade. Não fechas no armário a memória.

Memória, novos desafios – fidelidade à memória – e oração. E a oração começa sempre por reconhecer-se pecador. Com estas três colunas, a «pérola da África» continuará a ser pérola e não apenas uma palavra do dicionário. Os mártires, que deram força a esta Igreja, vos ajudem a continuar com a memória, a fidelidade e a oração.

E peço-vos, por favor, que não vos esqueçais de rezar por mim. Obrigado.
Agora convido-vos a rezar todos juntos uma Ave-Maria à Virgem Mãe: «Ave Maria…».

Discurso preparado pelo Santo Padre
Queridos religiosos,
Queridos seminaristas!

Estou feliz por estar convosco e agradeço as vossas cordiais boas-vindas. De modo particular, agradeço àqueles que falaram e deram testemunho das vossas esperanças e preocupações e sobretudo da alegria que inspira o vosso serviço ao povo de Deus no Uganda.

Alegro-me também por o nosso encontro ter lugar na véspera do primeiro Domingo do Advento, um tempo que nos convida a olhar para um novo começo. Preparamo-nos, também durante este Advento, para cruzar o limiar do Ano do Jubilar extraordinário da Misericórdia, que proclamei para toda a Igreja.

Aproximando-nos do Jubileu da Misericórdia, queria fazer-vos duas perguntas. A primeira: quem sois vós, como presbíteros ou futuros presbíteros e como pessoas consagradas? Em determinado sentido, a resposta é fácil: sois certamente homens e mulheres cujas vidas foram moldadas por um «encontro pessoal com Jesus Cristo» (Evangelii gaudium, 3).Jesus tocou os vossos corações, chamou-vos pelo nome e pediu-vos para O seguirdes, de coração indiviso, ao serviço do seu povo santo.

A Igreja no Uganda foi abençoada, na sua breve mas veneranda história, com um grande número de testemunhas – fiéis leigos, catequistas, sacerdotes e religiosos – que deixaram tudo por amor de Jesus: casa, família e, no caso dos mártires, a própria vida. Na vossa vida gasta tanto no ministério sacerdotal como na consagração religiosa, sois chamados a continuar esta grande herança, sobretudo através de actos simples de serviço humilde. Jesus quer servir-Se de vós para continuar a tocar os corações de cada vez mais pessoas: quer servir-Se da vossa boca para proclamar a sua palavra de salvação, dos vossos braços para abraçar os pobres que Ele ama, das vossas mãos para construir comunidades de autênticos discípulos-missionários. Oxalá nunca esqueçamos que o nosso «sim» a Jesus é um «sim» ao seu povo. As nossas portas, as portas das nossas igrejas, mas de modo especial as portas dos nossos corações devem permanecer constantemente abertas ao povo de Deus, ao nosso povo. Porque isso é o que nós somos.

A segunda pergunta que vos queria fazer nesta tarde é: Que mais sois chamados a fazer na vivência da vossa vocação específica? Porque há sempre algo mais que podemos fazer, mais uma milha a percorrer no nosso caminho.

O povo de Deus, antes, todos os povos anseiam por uma vida nova, pelo perdão e a paz. Infelizmente, no mundo, existem tantas situações preocupantes que necessitam das nossas preces, a começar pelas realidades mais vizinhas. Rezo, antes de mais nada, pelo amado povo do Burundi, para que o Senhor suscite nas Autoridade e em toda a sociedade sentimentos e propósitos de diálogo e colaboração, de reconciliação e paz. Se é nosso dever acompanhar quem sofre, então devemos – à semelhança da luz que filtra através dos vitrais desta Catedral – deixar que a força sanadora de Deus passe por nós.Em primeiro lugar, devemos deixar que as ondas de sua misericórdia manem sobre nós, nos purifiquem e restaurem, para podermos levar a mesma misericórdia aos outros, especialmente a quantos se encontram em tantas periferias geográficas e existenciais.

Bem sabemos, todos nós, como isto pode ser difícil! Há tanto trabalho a fazer. Ao mesmo tempo, a vida moderna oferece tantas distracções que podem obnubilar a nossa consciência, dissipar o nosso zelo e até atrair-nos para aquela «mundanidade espiritual» que corrói os fundamentos da vida cristã. O esforço de conversão – conversão que é o coração do Evangelho (cf. Mc 1, 15) – deve ser mantido todos os dias, na luta por reconhecer e superar aqueles hábitos e formas de pensar que podem alimentar a preguiça espiritual. Temos necessidade de examinar a nossa consciência quer como indivíduos quer como comunidade.

Como já acenei, estamos a entrar no Advento, que é tempo dum novo começo. Na Igreja, gostamos de dizer que a África é o continente da esperança, e com boas razões. A Igreja, nestas terras, é abençoada com uma colheita abundante de vocações religiosas. Quero, nesta tarde, oferecer uma palavra especial de encorajamento aos seminaristas e noviços aqui presentes. A vocação de Deus é uma fonte de alegria e um apelo a servir. Jesus diz-nos que «a boca fala da abundância do coração» (Lc 6, 45).Que o fogo do Espírito Santo purifique os vossos corações, para serdes testemunhas jubilosas e convictas da esperança que nos dá o Evangelho. Tendes uma belíssima palavra para anunciar. Que vós possais anunciá-la sempre, sobretudo com a integridade e a convicção que dimana da vossa vida.

Queridos irmãos e irmãs, a minha visita ao Uganda é breve, e hoje foi um dia longo! Mas considero o nosso encontro desta tarde a coroação deste dia belíssimo em que pude ir como peregrino ao Santuário dos Mártires Ugandeses, em Namugongo, e encontrar-me com muitíssimos jovens que são o futuro da nação e da Igreja. Na verdade, deixarei a África com grande esperança na colheita que a graça de Deus está a preparar no vosso meio! Peço a cada um de vós para rezar por uma abundante efusão de zelo apostólico, por uma jubilosa perseverança na vocação que recebestes, e sobretudo pelo dom dum coração puro sempre aberto às necessidades de todos os nossos irmãos e irmãs. Desta forma, a Igreja no Uganda mostrar-se-á verdadeiramente digna da sua gloriosa herança e poderá enfrentar os desafios do futuro com firme esperança nas promessas de Cristo. Recordar-me-ei de todos nas minhas orações, e peço-vos que rezeis por mim!

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Francisco pede aos ugandenses para que não esqueçam os pobres

Discurso do Santo Padre em visita à Casa de Caridade de Nalukolongo, sábado, 28 de novembro

Uganda, 29 de Novembro de 2015 (ZENIT.org)

Apresentamos a íntegra do discurso do Santo Padre pronunciado neste sábado, 28 de novembro, em visita à Casa de Caridade de Nalukolongo, Kampala, Uganda

Queridos amigos!

Obrigado pela vossa recepção calorosa. Grande era o meu desejo de visitar esta Casa da Caridade, que o Cardeal Nsubuga fundou aqui em Nalukolongo. Este lugar sempre apareceu associado com o empenho da Igreja a favor dos pobres, dos deficientes e dos doentes. Aqui, nos primeiros tempos, crianças foram resgatadas da escravidão e mulheres receberam uma educação religiosa. Saúdo as Irmãs do Bom Samaritano, que continuam esta obra estupenda, e agradeço os seus anos de serviço silencioso e feliz no apostolado. E aqui, aqui está presente Jesus, porque Ele disse que sempre estará presente entre os pobres, os doentes, os encarcerados, os deserdados, aqueles que sofrem. Aqui está jesus.

Saúdo também os representantes de muitos outros grupos de apostolado, que cuidam das necessidades dos nossos irmãos e irmãs no Uganda. Penso, em particular, no grande e frutuoso trabalho feito com as pessoas doentes do SIDA. Sobretudo saúdo a quem habita nesta Casa e noutras como esta, e a quantos beneficiam das obras da caridade cristã. É que esta é mesmo uma casa! Aqui podeis encontrar carinho e solicitude; aqui podeis sentir a presença de Jesus, nosso irmão, que ama a cada um de nós com um amor que é próprio de Deus.

A partir desta Casa, quero hoje dirigir um apelo a todas as paróquias e comunidades presentes no Uganda – e no resto da África – para que não esqueçam os pobres, não esqueçam os pobres! O Evangelho impõe-nos sair para as periferias da sociedade a fim de encontrarmos Cristo na pessoa que sofre e em quem passa necessidade. O Senhor diz-nos, em termos inequívocos, que nos julgará sobre isto. É triste quando as nossas sociedades permitem que os idosos sejam descartados ou esquecidos. É reprovável quando os jovens são explorados pela escravidão actual do tráfico de seres humanos. Se olharmos atentamente para o mundo ao nosso redor, parece que, em muitos lugares, campeiam o egoísmo e a indiferença. Quantos irmãos e irmãs nossos são vítimas da cultura actual do «usa e joga fora», que gera desprezo sobretudo para com crianças nascituras, jovens e idosos.

Como cristãos, não podemos ficar simplesmente a olhar, ficar a olhar o que acontece sem nada fazer. Qualquer coisa tem de mudar! As nossas famílias devem tornar-se sinais ainda mais evidentes do amor paciente e misericordioso de Deus não só pelos nossos filhos e os nossos idosos, mas por todos aqueles que passam necessidade. As nossas paróquias não devem fechar as portas e os ouvidos ao grito dos pobres. Trata-se da via-mestra do discipulado cristão. É assim que damos testemunho do Senhor que veio, não para ser servido, mas para servir. Assim mostramos que as pessoas contam mais do que as coisas, e que aquilo que somos é mais importante do que o que possuímos. De facto, é justamente naqueles que servimos que Cristo Se nos revela cada dia a Si mesmo e prepara a recepção que esperamos ter um dia no seu Reino eterno.

Queridos amigos, através de gestos simples, através de actos simples e devotos que honram a Cristo nos seus irmãos e irmãs mais pequeninos, fazemos entrar a força do seu amor no mundo e mudamo-lo realmente. Mais uma vez vos agradeço pela vossa generosidade e pela vossa caridade. Lembrar-vos-ei sempre nas minhas orações e peço-vos, por favor, que rezeis por mim. Confio-vos todos à terna protecção de Maria, nossa Mãe, e dou-vos a minha bênção.

Omukama Abakuume! [Deus vos proteja!]

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Papa: O dom do Espírito Santo é-nos concedido para ser partilhado

Homilia do Papa na Santa Missa pelos mártires ugandeses, sábado, 28 de novembro

Uganda, 29 de Novembro de 2015 (ZENIT.org)

Apresentamos a íntegra da homilia do Santo Padre Francisco pronunciada neste sábado, 28 de novembro, no Santuário Católico dos Mártires de Namugongo, Uganda.

«Ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo» (Act 1, 8).

Desde a Idade Apostólica até aos nossos dias, surgiu um grande número de testemunhas que proclamam Jesus e manifestam a força do Espírito Santo. Hoje lembramos, com gratidão, o sacrifício dos mártires ugandeses, cujo testemunho de amor a Cristo e à sua Igreja chegou, justamente, até «aos confins do mundo». Recordamos também os mártires anglicanos, cuja morte por Cristo dá testemunho do ecumenismo do sangue. Todas estas testemunhas cultivaram o dom do Espírito Santo na sua vida e, livremente, deram testemunho da sua fé em Jesus Cristo, mesmo a preço da vida, e vários deles numa idade muito jovem.

Também nós recebemos o dom do Espírito para nos fazer filhos e filhas de Deus, mas também para dar testemunho de Jesus e torná-Lo conhecido e amado em todos os lugares. Recebemos o Espírito, quando renascemos no Baptismo e quando fomos reforçados com os seus dons na Confirmação. Cada dia somos chamados a aprofundar a presença do Espírito Santo na nossa vida, a «reavivar» o dom do seu amor divino para sermos, por nossa vez, fonte de sabedoria e de força para os outros.

O dom do Espírito Santo é-nos concedido para ser partilhado. Une-nos uns aos outros como fiéis e membros vivos do Corpo místico de Cristo. Não recebemos o dom do Espírito só para nós mesmos, mas para nos edificarmos uns aos outros na fé, na esperança e no amor. Penso nos Santos José Mkasa e Carlos Lwanga que, depois de ter sido instruídos na fé pelos outros, quiseram transmitir o dom que receberam. Fizeram-no em tempos perigosos: não só a vida deles estava ameaçada, mas também a vida dos mais novos, confiados aos seus cuidados. Dado que tinham cultivado a fé e crescido no amor a Deus, não tiveram medo de levar Cristo aos outros, inclusive a preço da vida. A fé deles tornou-se testemunho; venerados hoje como mártires, o seu exemplo continua a inspirar muitas pessoas no mundo. Continuam a proclamar Jesus Cristo e a força da Cruz.

Se nós, como os mártires, reavivarmos diariamente o dom do Espírito que habita nos nossos corações, tornar-nos-emos certamente naqueles discípulos-missionários que Cristo nos chama a ser. Sê-lo-emos sem dúvida para as nossas famílias e os nossos amigos, mas também para aqueles que não conhecemos, especialmente para quantos poderiam ser pouco benévolos e até mesmo hostis para connosco. Esta abertura aos outros começa na família, nos nossos lares, onde se aprende a caridade e o perdão, e onde, no amor dos nossos pais, se aprende a conhecer a misericórdia e o amor de Deus. A referida abertura exprime-se também no cuidado pelos idosos e os pobres, as viúvas e os órfãos.

O testemunho dos mártires mostra a quantos, ontem e hoje, ouviram a sua história que os prazeres mundanos e o poder terreno não dão alegria e paz duradouras. Mas são a fidelidade a Deus, a honestidade e integridade da vida e uma autêntica preocupação pelo bem dos outros que nos trazem aquela paz que o mundo não pode oferecer. Isto não diminui a nossa solicitude por este mundo, como se nos limitássemos a olhar para a vida futura; pelo contrário, dá uma finalidade à vida neste mundo e ajuda-nos a ir ter com os necessitados, a cooperar com os outros em prol do bem comum e a construir uma sociedade mais justa, que promova a dignidade humana, sem excluir ninguém, que defenda a vida, dom de Deus, e proteja as maravilhas da natureza, a criação, a nossa casa comum.

Queridos irmãos e irmãs, esta é a herança que recebestes dos mártires ugandeses: vidas marcadas pela força do Espírito Santo, vidas que ainda hoje testemunham o poder transformador do Evangelho de Jesus Cristo. Não tomamos posse desta herança com uma comemoração passageira ou conservando-a num museu como se fosse uma jóia preciosa. Mas honramo-la verdadeiramente, como honramos todos os Santos, quando levamos o seu testemunho de Cristo para os nossos lares e a nossa vizinhança, para os locais de trabalho e a sociedade civil, quer permaneçamos em nossas casas, quer tenhamos de ir até ao canto mais remoto do mundo.

Que os mártires ugandeses juntamente com Maria, Mãe da Igreja, intercedam por nós, e o Espírito Santo acenda em nós o fogo do amor divino.

Omukama Abawe Omukisa! [Deus vos abençoe!]

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Programa do Papa na República Centro-Africana

Domingo, 29 de novembro – Francisco deixa Uganda e chega a República Centro-Africana

Roma, 29 de Novembro de 2015 (ZENIT.org)

Domingo, 29 de novembro
09:00 cerimónia de despedida no Aeroporto de Entebbe
09:15 Partida de avião de Entebbe para República Centro-Africana
República Centro-Africana
10:00 Chegada ao aeroporto internacional "M'Poko" em Bangui. Cerimónia de boas-vindas
11:00 Visita de cortesia ao presidente do estado de transição no Palácio Presidencial " la Renaissance
11:30 Encontro com lideranças e corpo diplomático (Discurso do Santo Padre)
12:15 Visita ao campo de refugiados
13:00 Encontro com os Bispos da República Centro-Africano
16:00 Encontro com as comunidades evangélicas na sede da FATEB (Faculdade de Teologia Evangélica de Bangui) (Discurso do Santo Padre)
17:00 Santa Missa com os sacerdotes, religiosas, catequistas e jovens na Catedral de Bangui (Homilia do Santo Padre)
19:00 Confissão de alguns jovens e início da vigília de oração na esplanada da Catedral (Discurso do Santo Padre)

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Folha Paroquial de S. José de 29 de novembro de 2015


Chamados do e para o povo

1. Partir de Cristo para as periferias
Começa o mês de Dezembro e também o ano litúrgico com o Advento. O fim do ano civil está à porta. No hemisfério norte temos o inverno e no sul, o verão. Na mudança de estação acontece o Natal, para os cristãos memória do nascimento de Jesus Cristo. Para toda a humanidade uma data significativa pelo peso que os países do mediterrâneo tiveram na evolução da civilização mundial, apesar da diversidade cultural e religiosa. Mas a que se deveu esta evolução? Sem querer exaltar o meu credo cristão, vou realçar nesta nota dois factores importantes, senão decisivos, para isto assim acontecer.

Primeiro, o acontecimento histórico da pessoa de Jesus Cristo, nascido na plenitude dos tempos de acordo com a revelação cristã, embora nem o povo das suas origens biológicas nem a terra onde nasceu estivessem no centro da civilização mediterrânica, pois o centro politico era Roma e não Belém ou Jerusalém e o centro cultural era Atenas. Mas a narrativa da sua vida e mensagem foram uma novidade nunca vista. Não foram o poder económico ou politico nem muito menos o fruir dos prazeres da natureza que orientaram a sua vida e mensagem, mas o remar contra a corrente e a paixão pelo bem da humanidade até ao dom da própria vida.

Mais cedo ou mais tarde, tudo teria terminado, perdido a sua força exemplar, se tudo tivesse ficado pela morte prematura e violenta de Jesus. E passo ao segundo factor decisivo, o chamamento de alguns discípulos, que viram, ouviram e tocaram a pessoa de Jesus, mas também foram testemunhas da sua ressurreição, que culminou com a vinda do Espírito prometido e os tornou testemunhas intrépidas, prontas a obedecer antes a Deus que aos homens, sem por isso serem revolucionários ou terroristas, dispostos a imitar o Mestre pelo dom da vida, pela fé em Jesus e o amor ao próximo.

Embora nestes dois mil anos após a morte de Jesus nem todos os que se disseram ou dizem seus discípulos o foram de verdade, no entanto, sempre, em todas as épocas e lugares, houve e há discípulos a sério e à letra do Mestre Jesus. Aponto apenas para o atual sucessor do apóstolo Pedro, o Papa Francisco, que, apesar da idade, tem um discurso e gestos que chamam a atenção para os simples e os poderosos deste mundo. Na mais recente viagem a três países de África, Quénia, Uganda e República Centro-africana, como há poucas semanas a países pobres e violentos da América Latina, ele, sem medo do terrorismo ou das guerrilhas, foi mostrar-se solidário para com os pobres e apelar à reconciliação dos povos e das religiões, para que cesse a exploração da natureza e dos pobres e se fomente o encontro e diálogo entre as religiões, agora muçulmanos e cristãos e entre países pobres e ricos. No Quénia, a 2 de abril do corrente ano, radicais islâmicos mataram 147 estudantes cristãos no campus de uma universidade. A resposta dos cristãos não é o apelo à violência, que nunca é solução, mas à reconciliação pelo encontro, o diálogo e o respeito mútuo. Há lugar para todos.

2. Chamados do povo para o servir
No dia 8 de dezembro, solenidade da Imaculada Conceição, padroeira e rainha de Portugal, data em que o Papa abre a Porta Santa da Basílica de S. Pedro e dá início ao Ano Jubilar da Misericórdia, em Beja ordenamos seis presbíteros, que há vários anos estão a discernir a sua vocação e a formar-se entre nós, mas não têm as suas raízes familiares no Alentejo. Três vieram do Brasil, membros do Instituto de vida consagrada Milícia de Cristo. Os seus nomes são Adriano, Adenilson e Diogo. Dos outros três, um veio de Lamego, o Amadeu, outro de Lisboa, o Luís e outro da Nigéria, o Godfrey. De origens diferentes, chamados do meio do povo, não para ser servidos, mas para ser enviados em serviço do povo, um serviço de alta qualidade, pois não possuem prata ou ouro, mas o Espírito de Jesus, que oferece a sua vida pelo povo, para que este tenha vida e a tenha em abundância (cf At 3,6).

Esta qualidade de vida restitui a todos os que os recebem a dignidade de filhos de Deus e irmãos uns dos outros. E não realizam esta missão como pessoas desesperadas, sem alternativas de vida, amargas, violentas, mas com alegria, preferindo antes sofrer que fazer sofrer, procurando realizar nas suas vidas o que Jesus proclama nas bem-aventuranças: Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus. Felizes os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu. Felizes sereis, quando vos insultarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o género de calúnias contra vós, por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque grande será a vossa recompensa no Céu; pois também assim perseguiram os profetas que vos precederam (Mt 5, 8-12).

A diocese de Beja alegra-se com este dom precioso da vocação sacerdotal destes jovens, felicita as suas famílias e pede a Deus que esta meia dúzia de discípulos de Jesus, chamados do meio do povo por intermédio da Igreja de Beja, se tornem ministros da misericórdia de Deus.

Neste dia 8 de dezembro, há 50 anos, encerrava em Roma o Concílio Ecuménico Vaticano II, que o bom Papa João XXIII havia anunciado a 25 de janeiro de 1959 e no discurso de abertura, a 11 de outubro de 1962, afirmava discordar dos profetas da desgraça (IV,3) e que a Igreja devia afirmar a verdade e validade do Evangelho usando mais o remédio da misericórdia que o da severidade (VII, 2). Isto mesmo pretende o Papa Francisco com o Ano Jubilar da Misericórdia, que hoje se inicia. É pela misericórdia que Deus manifesta o seu poder.



† António Vitalino, bispo de Beja


Mensagem para o Ano da Misericórdia

A misericórdia do Pai, a paz de Jesus Cristo Nosso Senhor, e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco!


Queremos convidar-vos, queridos irmãos e irmãs, a celebrar e a viver intensamente, com toda a Igreja, o Ano Jubilar da Misericórdia promulgado pelo Papa Francisco, para comemorar os 50 anos da conclusão do Segundo Concílio do Vaticano. Inaugurado por S. João XXIII e concluído pelo beato Paulo VI, o último Concílio Ecuménico preparou a Igreja para estes novos tempos, em que devemos anunciar o mesmo Evangelho de sempre em contextos muito diferentes daqueles que foram os da cristandade. O tempo da cristandade passou e o Papa Francisco não se cansa de nos lembrar a urgência de recentrar a vida e a ação da Igreja no essencial, para que possamos revelar e oferecer ao mundo, com mais eficácia, o tesouro da misericórdia de Deus. Essa renovação profunda deve começar, necessariamente, por cada um de nós. Por isso vos pedimos: abri os corações à misericórdia do Senhor para vos tornardes, em Cristo, misericordiosos como o Pai.


1. A misericórdia revela Deus

De facto, para sermos cristãos, não nos basta saber coisas acerca de Deus, de Cristo e da Igreja; cada um de nós precisa de viver a experiência concreta da Sua misericórdia que nos liberta do poder das trevas e nos faz passar para o Reino de Seu Filho muito amado (cf. Cl.1,13). A nós, que estávamos mortos em nossos pecados, Deus, que é rico em misericórdia, vivificou-nos juntamente com Cristo e com Ele nos ressuscitou e nos fez sentar nos céus (cf Ef 2,1.4-6). Se nestas palavras de S. Paulo reconheces a tua história e o programa da tua vida futura, feliz de ti que alcançaste misericórdia! Sê misericordioso, porque, segundo a promessa do Senhor, sempre alcançarás misericórdia (cf Mt 5,7).


Para podermos alcançar misericórdia e testemunhá-la ao mundo, serve precisamente este Ano Jubilar. Por meio dele, Cristo Bom Pastor vem à procura das suas ovelhas transviadas. Deixa-te encontrar por Ele, sai dos esquemas egocêntricos e mesquinhos em que te resguardas, abre-te à largueza da Sua graça, deixa-te apascentar e conduzir por Ele até à casa do Pai, que te espera transbordante de amor e de perdão, para te abraçar e te revestir da dignidade própria dos seus filhos, tal como vemos na parábola do filho pródigo. 


2. A Igreja, estalagem da misericórdia

Constituída por pecadores que acolheram o Evangelho e estão a caminho da Terra Prometida, a Igreja é, no dizer do Papa Francisco, como um hospital de campanha ou como a estalagem da parábola do Bom Samaritano, onde o Senhor nos recebe misericordiosamente e cura as nossas feridas. A Igreja é o lugar de encontro de Deus com o homem e do homem com Deus, o lugar da graça e da misericórdia. Nela, Jesus é o rosto do Pai misericordioso que nos atrai, e, como Ele próprio afirmou, a porta pela qual entramos para ser salvos. Por Ele entramos na comunhão da Igreja ao sermos batizados e ao renovarmos o Batismo no sacramento da Reconciliação. Por Ele, impelidos pelo Seu Espírito, saímos como Igreja enviada ao mundo para dar testemunho da Sua misericórdia e anunciar o Evangelho. 


A propósito, transcrevemos aqui o que diz o Santo Padre na bula de proclamação do Jubileu: a arquitrave que suporta a vida da Igreja é a misericórdia. Toda a sua ação pastoral deveria estar envolvida pela ternura com que se dirige aos crentes; no anúncio e testemunho que oferece ao mundo, nada pode ser desprovido de misericórdia. A credibilidade da Igreja passa pela estrada do amor misericordioso e compassivo.


Citando a encíclica Dives in Misericordia de S. João Paulo II, continua o Papa: «A Igreja vive uma vida autêntica quando professa e proclama a misericórdia, o mais admirável atributo do Criador e do Redentor, e quando aproxima os homens das fontes da misericórdia d

o Salvador, das quais ela é depositária e dispensadora».

Por isso, onde a Igreja estiver presente, aí deve ser evidente a misericórdia do Pai. Nas nossas paróquias, nas comunidades, nas associações e nos movimentos – em suma, onde houver cristãos –, qualquer pessoa deve poder encontrar um oásis de misericórdia. (Cf Bula O Rosto da Misericórdia nn. 10 ss)


3 – Acolher, cultivar e testemunhar

Para que estas palavras se tornem realidade nas nossas paróquias e na nossa diocese procure cada um acolher a misericórdia, cultivar a misericórdia sobretudo na igreja e na família, e dar testemunho da misericórdia.


Convertamo-nos à misericórdia de Deus que nos revela a nossa miséria, nos põe na humildade e nos mostra a necessidade absoluta de sermos salvos desta ilusão hoje tão propagada de que não precisamos d’Ele para ser felizes. Reconciliemo-nos com Deus confessando os nossos pecados e recebendo o Seu perdão no Sacramento da Reconciliação. 


Cultivemos no seio de cada comunidade cristã a misericórdia pois não tem condições para se desenvolver fora dela. A ácida atmosfera do mundo em que vivemos é adversa à cultura da misericórdia, mas o mundo precisa dos seus frutos para subsistir. A árvore da misericórdia dá frutos na terra, mas tem no céu as suas raízes e alimenta-se do Espírito que nos é dado gratuitamente por Jesus Cristo. A Igreja é a estufa, o ambiente propício onde esta frágil planta pode desenvolver-se, florescer e frutificar. É nela que recebemos o Espírito Santo e aprendemos a não julgar, a perdoar, a orar em comum, a praticar a correção fraterna. É em comunidade que aprendemos a ser solícitos pelo bem dos outros, aceitando-os como são, ajudando-os e servindo-os, esquecendo-nos de nós mesmos, é lá que aprendemos a amar os inimigos e a dar a própria vida imitando o Senhor Jesus. 


Convidamos-vos a aprender de cor e a praticar as catorze obras de misericórdia, corporais e espirituais. As corporais são: dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, vestir os nus, dar pousada aos peregrinos, assistir aos enfermos, visitar os presos, sepultar os mortos. E as espirituais são estas: dar bom conselho, ensinar os ignorantes, corrigir os que erram, consolar os tristes, perdoar as injúrias, sofrer com paciência as fraquezas do próximo, rogar a Deus por vivos e defuntos. Podemos resumi-las em catorze verbos: alimentar, dessedentar, agasalhar, albergar, curar, visitar e sepultar; aconselhar, ensinar, corrigir, consolar, perdoar, suportar e orar.


Testemunhemos a misericórdia! Ao longo dos tempos, conforme as circunstâncias, para além da prática individual e discreta que só Deus conhece, os cristãos encontraram formas organizadas e públicas de praticar as obras de misericórdia. Desde o século XVI as Santas Casas da Misericórdia, fundadas por todo o lado em Portugal, tornaram-se expressões eficientes da caridade cristã para com os necessitados. E agora, quanta assistência se faz nos Centros Sociais e em muitas instituições cristãs de solidariedade cujo único objetivo é fazer o bem a quem precisa, dentro e fora da Igreja, em Portugal e no mundo! Quantos Institutos e Congregações Religiosas, quantas organizações da Igreja Católica auxiliam os pobres e necessitados e são, em todo o mundo, sinais da misericórdia de Deus e da solicitude da Mãe Igreja para com os pobres? Hoje, entre nós, talvez não seja preciso multiplicar as Instituições que se dedicam à prática da Caridade, mas é necessário que sejam revitalizadas pela seiva do Espírito, para que a sua ação não fique reduzida a mero altruísmo. É por amor a Cristo presente nos pobres e necessitados que nós cristãos praticamos as obras de misericórdia. Sem isso, seríamos erradamente louvados pelos homens que, ao ver as nossas boas obras, devem glorificar o Pai que está nos céus, e não a nós.


4. Peregrinações do Ano Jubilar

Vivamos os breves meses deste Ano Jubilar em conversão sincera. Façamos uma peregrinação jubilar e atravessemos a Porta da Misericórdia para recebermos o dom da indulgência plenária, importantíssima não apenas para nos fazer progredir na comunhão com o Senhor, mas também para edificar a comunhão nas nossas comunidades cristãs.


Para recebermos a graça da indulgência plenária que nos liberta de qualquer resíduo das consequências do pecado e nos habilita para agirmos com caridade, cultivando a comunhão fraterna, além de uma confissão bem-feita, detestando o pecado e com firme propósito de emenda e de participar na Eucaristia e comungar sacramentalmente, é necessário também proclamar o Credo e rezar pelas intenções do Papa. 


Para além da abertura solene da Porta da Misericórdia no domingo dia 13 de dezembro e da dedicação do novo altar da Sé, celebração duplamente importante para a qual todos estão convidados, apresentamos-vos o programa das peregrinações jubilares dos diversos arciprestados da diocese à nossa catedral: Odemira, em 21 de Fevereiro; Almodôvar, em 28 de Fevereiro; Moura, em 6 de Março; Beja, em 13 de Março; Santiago do Cacém, em 3 de Abril e Cuba, em 17 de Abril.


Além destas, estão programadas também outras peregrinações que vos anunciamos desde já: encerramento do Ano da Vida Consagrada em 30 de janeiro; Forum Jovem em 19 de março, e Jubileu dos Diáconos em 29 de maio. Outras ainda serão anunciadas oportunamente.


Lembramos a Peregrinação Diocesana ao Santuário de Fátima em 25 e 26 de Junho, (Jubileu Mariano), na qual confiaremos a Nossa Senhora as conclusões do Sínodo Diocesano. 


Os párocos terão o cuidado de preparar convenientemente estas peregrinações, para que os fiéis possam receber abundantemente as graças deste jubileu.

A Virgem Santa Maria, Mãe de misericórdia, que na sua imagem peregrina nos está visitando como que a preparar-nos para o início do Ano Jubilar, interceda por todos nós e abençoe as famílias, as paróquias e todas as comunidades da nossa diocese. 

† António Vitalino e † J. Marcos


"Todos os fiéis da África Central se mobilizarão para ver o Papa"

Entrevista ao Ímã Kobine Oumar Layama e ao Pastor Nicolas Guérékoyaméné-Gbangou sobre a situação do país e a iminente visita do Santo Padre a Bangui

Madrid, 27 de Novembro de 2015 (ZENIT.org) Ivan de Vargas

O arcebispo de Bangui, Dom Dieudonné Nzapalainga, o presidente do Conselho Islâmico, Imã Oumar Kobine Layama e o presidente da Aliança Evangélica, Pastor Nicolas Guérékoyaméné-Gbangou, fundaram em 2013 a Plataforma Inter-religiosa da República Centro-africana. Uma organização inter-religiosa que representa as três principais religiões do país e promove o diálogo como medida preventiva contra a violência religiosa e como meio para buscar a paz.

No meio da guerra, os três líderes religiosos concordaram em trabalhar juntos para enfrentar a crescente instabilidade na República Centro-Africana. Desde então eles continuam a persuadir muçulmanos, católicos e protestantes para evitar mais violência e a vingança entre as suas comunidades religiosas.

Os três líderes viajam pelo país, visitando cidades e vilas para conversar com as comunidades sobre a paz, o respeito mútuo, a tolerância e a confiança. Além disso, a ação tem impulsionado uma decisão unânime do Conselho de Segurança das Nações Unidas a estabelecer uma força de manutenção da paz.

A República Central Africana, um país no coração da África devastado pela violência, atravessa a pior crise de sua história. Nesta entrevista exclusiva, realizada durante recente visita a Madrid para participar de um fórum organizado pelo KAICIID, o Imã Oumar Kobine Layama e o Pastor Nicolas Guérékoyaméné-Gbangou explicaram a ZENIT a situação que enfrentam suas comunidades e as expectativas sobre a iminente visita do Papa Francisco a Bangui.

Qual é a situação na República Centro-Africana?
Ímã Oumar Kobine Layama: Atualmente, o que está acontecendo tem sido uma surpresa para todos nós. Há um grande esforço por parte da Plataforma, da comunidade internacional e da sociedade civil para alcançar a paz no país. Infelizmente, os inimigos da paz ainda estão lá para colocá-la em perigo, apesar dos esforços feitos por todos os interessados ​​para denunciar os crimes, o ódio. Esta situação nos convida a refletir, nos pede, mais uma vez, para ver o que devemos fazer para pedir à comunidade internacional que nos ajude a restaurar a paz.
Pastor Nicolas Guérékoyaméné-Gbangou: os cálculos políticos questionam os esforços feitos tanto pelo governo como pelas diferentes religiões na República Centro-Africana. Nós nos aproximamos das eleições gerais e por isso, compreendemos a agitação. Mas não podemos compreender e aceitar a atitude das pessoas que se dizem patriotas e utilizam a violência para tentar tomar o poder ou pôr em perigo a vida da população. Os líderes religiosos não podem entender isso e muito menos admitir.

Muitos meios de comunicação estão dizendo que há um conflito religioso em curso no país. O que vocês acham?
Ímã Oumar Kobine Layama: Esta é uma manipulação dos políticos. Quando observamos a composição do Seleka, percebemos que não é uma milícia cem por cento muçulmana. Parte de seus membros pertencem a outras religiões. Portanto, não é um grupo muçulmano. É secular. Também entre os anti-Balaka há membros muçulmanos. Estes grupos rebeldes não são movidos por qualquer componente religioso. Eles fazem o que é proibido por todas as religiões. Portanto, não se pode dizer que a religião provocou essa rebelião. A frente do Seleka, não está uma pessoa religiosa, assim como os anti-Balaka. Há certas pessoas que pertencem a uma ou outra religião, mas a causa é puramente política.
Pastor Nicolas Guérékoyaméné-Gbangou: líderes religiosos muçulmanos, católicos e protestantes se uniram desde 2012, e até hoje, para trabalhar pela paz. E todo esse esforço se concretizou em setembro com o Dia da Paz, como parte da semana internacional sobre o mesmo assunto que teve lugar em Bangui.

As pessoas usam os mais fracos para deslizar no campo religioso e provocar hostilidades a fim de obter poder. Mas estamos otimistas. Nós acreditamos que não conseguirão, porque na África Central há 52% de protestante, 29% de católicos e 15% de muçulmanos, o que representa 96% da população total. O que isso significa? Mostra que as pessoas da África Central são profundamente religiosas. Chegará um momento em que os cristãos dirão: "Eu não sou um inimigo dos muçulmanos". E o muçulmano: "Eu não sou um inimigo do cristão".

Diante do que está acontecendo, é possível alcançar uma solução negociada?
Pastor Nicolas Guérékoyaméné-Gbangou: cristãos, muçulmanos e aqueles que não creem dialogam e dialogam sem parar, regularmente. São os políticos que usam os grupos armados para impedir esse diálogo. Ainda assim, acreditamos que vai chegar um momento em que os grupos armados se cansarão de lutar, eles vão enfraquecer e abandonarão as armas.

Por meio da força das palavras, os líderes religiosos irão desarmar os corações dos violentos para que um dia possam novamente viver juntos na República Centro Africana.

O que esperar da visita do Papa Francisco ao país?
Pastor Nicolas Guérékoyaméné-Gbangou: O Papa Francisco nos deu a honra de nos receber no Vaticano por duas vezes. Para nós, os três membros da Plataforma Inter-religiosa, é apenas um retorno de tudo o que ele nos deu. Todos os fiéis da África Central se mobilizarão para ver o Papa Francisco.
Acreditamos que mais uma vez repetirá as belas mensagens de paz que lançou ao nosso povo, a fim que os centro africanos deixem as armas e voltem a viver juntos.

Gostariam de transmitir uma mensagem para a comunidade internacional?
Ímã Oumar Kobine Layama: Pedimos à comunidade internacional para ajudar a população a se recuperar, a libertar-se dos grupos armados, ambos os grupos rebeldes Seleka como anti-Balaka. Que ajude as pessoas, porque elas realmente querem viver juntas.
Pastor Nicolas Guérékoyaméné-Gbangou: A mensagem que eu gostaria de transmitir à comunidade internacional é de que estamos cansados. Cansados de promessas não cumpridas. Cansados porque as resoluções da ONU não são cumpridas na íntegra. Cansados porque não temos a liberdade de movimento e queremos recupera-la. Esperamos todos esses gestos da comunidade internacional. Muito obrigado.



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Ecumenismo e diálogo inter-religioso: uma urgência na África

A paz no continente africano, como no resto do mundo, é condicionada pelas relações entre as religiões

Roma, 27 de Novembro de 2015 (ZENIT.org)

Vão adiante na África, infelizmente, experiências de tipo fundamentalista que tornam difícil qualquer tipo de cooperação. Ainda estão abertas as feridas dos ataques no Westgate Mall, na Universidade de Garissa e em Mandera, que o pontífice recordou em seu discurso aos representantes das outras religiões em Nairóbi. Ao escolher a nunciatura apostólica como o local do evento ecuménico e inter-religioso, o papa Francisco deu à sua viagem apostólica um significado simbólico muito forte para a cultura africana.

Quando você quer estabelecer um vínculo de amizade sincera e familiaridade com a outra parte, você o convida à sua casa. A missão diplomática da Santa Sé na capital do Quénia é para os quenianos como "a casa do papa" em seu país. O observador e comentarista Ryszard Kapuscinski observou que o africano crê na existência de três mundos diferentes, mas ligados entre si: a realidade visível e tangível, os antepassados ​​mortos e o mundo espiritual. À cabeça desses três mundos está o Ser Supremo.


Sobre o mistério de Deus, cada comunidade tem sua própria cultura, sistema de crenças e costumes e sua própria linguagem e tabus, formando um emaranhado incrivelmente complicado. Os grandes antropólogos nunca falaram de "religião africana" em geral. A essência da África reside na sua variedade ilimitada. Essa variedade, no entanto, tem um denominador comum na forte religiosidade, em contraste com o Ocidente laico.


E é através das religiões que o papa espera estimular o diálogo, a reconciliação, a justiça e a paz na África. A Igreja católica na África é encorajada a continuar construindo pontes de amizade e, através de um ecumenismo espiritual orante e do discernimento da vontade de Deus, envolver-se no "ministério da reconciliação" (2 Cor 5,18) que nos foi confiado por Cristo.


Esta é a base do compromisso ecuménico de que o bispo de Roma é o intérprete e promotor. "Não podemos lutar pela reconciliação, pela justiça e pela paz na África sozinhos como Igreja", disse dom John Onaiyekan, arcebispo de Abuja, Nigéria, no segundo Sínodo da África.


O cardeal nigeriano considerava especialmente o islão se expandindo por todo o continente negro, assim como o catolicismo, em detrimento das religiões tradicionais africanas. Um dos pontos controversos do diálogo é o da solicitação de "reciprocidade" do mundo islâmico, não apenas em liberdade de culto, mas também ao compartilhar a fé, propondo-a em vez de impô-la.


Nos países de maioria muçulmana, existe a discriminação também nos direitos civis. Longe de confirmar a "morte de Deus", o recente surto do fundamentalismo religioso mostra a vitalidade do fenómeno da fé. A paz na África e nas outras partes do mundo é muito condicionada pelas relações entre as religiões.


Promover o valor do diálogo, portanto, é necessário para que os crentes trabalhem juntos em associações dedicadas à paz e à justiça, com espírito de confiança mútua, de apoio, educando as famílias nos valores da escuta paciente e do respeito recíproco. O diálogo com as outras religiões, especialmente o islão e as religiões tradicionais africanas, faz parte integrante da pregação do Evangelho e da atividade pastoral da Igreja em nome da reconciliação e da paz.

Padre Afonso Maria de Bruno

(27 de Novembro de 2015) © Innovative Media Inc.
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