Discurso do Santo Padre no encontro com a classe dirigente e com o corpo diplomático, domingo, 29 de novembro
Centroafrica (República Africana Central),
29 de Novembro de 2015
(ZENIT.org)
Apresentamos o texto completo do discurso do Santo Padre
pronunciado no encontro com a classe dirigente e com o corpo diplomático
no Palácio Presidencial de Bangui, República Centro-Africana, domingo,
29 de novembro.
Senhora Chefe de Estado da Transição,
Distintas Autoridades,
Ilustres membros do Corpo Diplomático,
Dignos representantes das Organizações Internacionais,
Amados Irmãos Bispos,
Senhoras e Senhores!
Feliz por estar aqui convosco, quero em primeiro lugar manifestar o
meu vivo apreço pela calorosa recepção que me reservastes e agradeço à
Senhora Chefe de Estado da Transição pela sua amável saudação de boas
vindas. Deste lugar que, de certo modo, é a casa de todos os
centro-africanos, tenho o prazer de exprimir, por seu intermédio e
através das outras Autoridades do país aqui presentes, a minha estima e
proximidade espiritual a todos os vossos cidadãos. Quero igualmente
saudar os membros do Corpo Diplomático, bem como os representantes das
Organizações Internacionais, cujo trabalho nos recorda o ideal de
solidariedade e cooperação que deve ser cultivado entre os povos e as
nações.
Com a República Centro-Africana que, não obstante as dificuldades, se
encaminha gradualmente para a normalização da sua vida sociopolítica,
piso pela primeira vez esta terra, depois do meu predecessor São João
Paulo II. É como peregrino de paz que venho, e apóstolo de esperança que
me apresento. Por isso mesmo, me congratulo com os esforços feitos
pelas várias Autoridades nacionais e internacionais, a começar pela
Senhora Chefe de Estado da Transição, para guiar o país nesta fase. O
meu desejo ardente é que as diferentes consultas nacionais que serão
realizadas dentro de algumas semanas permitam ao país empreender
serenamente uma nova fase da sua história.
Para iluminar o horizonte, temos o lema da República Centro-Africana,
que reflecte a esperança dos pioneiros e o sonho dos pais fundadores:
«Unidade – Dignidade – Trabalho». Hoje, mais do que ontem, esta trilogia
exprime as aspirações de cada centro-africano e constitui,
consequentemente, uma bússola segura para as Autoridades, que têm o
dever de guiar os destinos do país. Unidade, dignidade, trabalho! Três
palavras densas de significado, cada uma das quais representa seja um
canteiro de obras seja um programa nunca concluído, um compromisso a
executar constantemente.
Primeiro, a unidade. Esta é, como se sabe, um valor fulcral para a
harmonia dos povos. Trata-se de viver e construir a partir da
maravilhosa diversidade do mundo circundante, evitando a tentação do
medo do outro, de quem não nos é familiar, de quem não pertence ao nosso
grupo étnico, às nossas opções políticas ou à nossa confissão
religiosa. A unidade exige, pelo contrário, que se crie e promova uma
síntese das riquezas que cada um traz consigo. A unidade na diversidade é
um desafio constante, que requer criatividade, generosidade, abnegação e
respeito pelo outro.
Depois, a dignidade. É precisamente este valor moral – sinónimo de
honestidade, lealdade, garbo e honra – que caracteriza os homens e
mulheres conscientes tanto dos seus direitos como dos seus deveres e que
os leva ao respeito mútuo. Cada pessoa tem a própria dignidade. Soube,
com prazer, que a República Centro-Africana é o país do «Zo kwe zo», o
país onde cada pessoa é uma pessoa. Então, que tudo se faça para tutelar
a condição e a dignidade da pessoa humana. E quem tem os meios para
levar uma vida decente, em vez de estar preocupado com os privilégios,
deve procurar ajudar os mais pobres a terem, também eles, acesso a
condições de vida respeitosas da dignidade humana, nomeadamente através
do desenvolvimento do seu potencial humano, cultural, económico e
social. Por conseguinte, o acesso à instrução e à assistência sanitária,
a luta contra a malnutrição e o empenho por garantir a todos uma
habitação decente deveriam aparecer na vanguarda dum desenvolvimento
cuidadoso da dignidade humana. Em última análise, a dignidade do ser
humano é trabalhar pela dignidade dos seus semelhantes.
Por último, o trabalho. É pelo trabalho que podeis melhorar a vida
das vossas famílias. São Paulo disse: «Não compete aos filhos entesourar
para os pais, mas sim aos pais para os filhos» (2 Cor 12, 14). O
esforço dos pais exprime o seu amor pelos filhos. E também vós,
centro-africanos, podeis melhorar esta terra maravilhosa, explorando
sensatamente os seus abundantes recursos. O vosso país situa-se numa
área considerada como um dos dois pulmões da humanidade, por causa da
sua excepcional riqueza de biodiversidade. A tal propósito, a que já me
referi na Encíclica Laudato si’, tenho particularmente a peito chamar a
atenção de todos – cidadãos, responsáveis do país, parceiros
internacionais e sociedades multinacionais – para a grave
responsabilidade que vos cabe na exploração dos recursos ambientais, nas
opções e projectos de desenvolvimento que, duma forma ou doutra,
afectam a terra inteira. O trabalho de construção duma sociedade
próspera deve ser uma obra solidária. Desde há muito tempo que a
sabedoria do vosso povo compreendeu esta verdade, traduzindo-a neste
provérbio: «As formigas são pequenas, mas, em grande número, conseguem
trazer a presa para o seu buraco».
É supérfluo, sem dúvida, sublinhar a importância crucial do
comportamento e administração das Autoridades públicas. Estas deveriam
ser as primeiras a encarnar, coerentemente, na sua vida os valores da
unidade, da dignidade e do trabalho, para servir de modelo aos seus
compatriotas.
A história da evangelização desta terra e a história sociopolítica do
país dão testemunho do compromisso da Igreja na linha destes valores da
unidade, da dignidade e do trabalho. Ao mesmo tempo que faço memória
dos pioneiros da evangelização na República Centro-Africana, saúdo os
meus irmãos Bispos que detém presentemente a responsabilidade daquela.
Com eles, renovo a disponibilidade da Igreja presente nesta nação a
contribuir cada vez mais para a promoção do bem comum, nomeadamente
através da busca da paz e reconciliação. Tenho a certeza de que as
Autoridades centro-africanas actuais e futuras terão solicitamente a
peito garantir à Igreja condições favoráveis ao cumprimento da sua
missão espiritual. Assim ela poderá contribuir cada vez mais para
«promover todos os homens e o homem todo» (Populorum progressio, 14),
para usar a feliz expressão do meu predecessor, o Beato Paulo VI, que
foi o primeiro Papa dos tempos modernos que, há cerca de 50 anos, veio à
África encorajá-la e confirmá-la no bem ao despontar duma nova
alvorada.
Por minha vez, quero neste momento congratular-me com os esforços
envidados pela comunidade internacional, aqui representada pelo Corpo
Diplomático e os membros de várias Missões das Organizações
Internacionais. Encorajo-a vivamente a avançar sempre mais pelo caminho
da solidariedade, fazendo votos de que a sua obra, unida à acção das
Autoridades centro-africanas, ajude o país a progredir sobretudo na
reconciliação, no desarmamento, na consolidação da paz, na assistência
sanitária e no cultivo duma sã administração a todos os níveis.
Ao concluir, gostaria de reafirmar a minha alegria por visitar este
país maravilhoso, situado no coração da África, pátria dum povo
profundamente religioso, com um rico património natural e cultural. Nele
vejo um país cumulado dos benefícios de Deus. Possa o povo
centro-africano, bem como os seus dirigentes e todos os seus parceiros
apreciar, no seu justo valor, estes benefícios, trabalhando sem cessar
pela unidade, a dignidade humana e a paz fundada na justiça. Deus vos
abençoe a todos. Obrigado.
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