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sábado, 13 de dezembro de 2014

Não vou falar do Natal!

Não, não vou falar das prendas, das iluminações, das promoções, das férias do Natal, dos telefonemas aos amigos, dos jantares das empresas, do encontro da família para a consoada, do Pai Natal, nem tão pouco do Presépio.

Não, não vou falar sobre a história do Natal, envolvendo um Homem e uma Mulher que tendo um Filho, viveram e trabalharam discretamente, provavelmente levando uma vida familiar e social pouco diferente da nossa.

Não, não vou falar do trabalho, daquele trabalho em que todos contribuem para todos, com a sua profissão e em família, em sermos úteis aos outros que desconhecemos e em sermos prestáveis aos que amamos, que com esforço e dedicação, nos dão sustentabilidade e dignidade, como na Família de Nazaré.

Não, não vou falar do que é ser pai, ser mãe, e ter uma família, a espectativa e as inquietações do nascer com toda a sua alegria explosiva e do que é viver na luta de um recomeçar, gratificações e desilusões, e morrer no sofrimento e tranquilidade final, reabilitação de um percurso percorrido, deixando tantas marcas em outros que o continuarão, de pais para filhos, de amigos para amigos, de colegas para colegas de profissão, perenizando o seu saber e a sua memória.

Não, não vou falar de modelos de pais e filhos, de modelos de amizade, de modelos profissionais, de modelos de pessoas que vivem, lutam, aprendem, que com esforço e generosidade procuram manter e desenvolver a estrutura e os laços familiares, sociais e profissionais, contra dificuldades e sacrifícios, acreditando estar a construir um futuro melhor com melhores pessoas.

Não, não vou falar do que é viver com os outros e para os outros, o prazer da partilha, dos afectos, da proximidade, do estar junto física e emocionalmente numa renovação enriquecedora gratificante.

Não, não vou falar do que é amar, do que é sofrer a ajudar, do que é não ter para dar, do que é acreditar para atingir.

Não, não vou falar do Natal, não tenho nada para dizer, nada para viver, nada em que acreditar, um inicio e um fim para me sustentar.

Agora, já não tenho tempo para falar do Natal, o tempo passou e morro sozinho!
 

A. Manuel dos Santos
Médico Psiquiatra


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