Não, não vou falar das prendas, das iluminações, das promoções, das férias do Natal, dos telefonemas aos amigos, dos jantares das empresas, do encontro da família para a consoada, do Pai Natal, nem tão pouco do Presépio.
Não, não vou falar sobre a história do Natal, envolvendo um Homem e uma Mulher que tendo um Filho, viveram e trabalharam discretamente, provavelmente levando uma vida familiar e social pouco diferente da nossa.
Não, não vou falar do trabalho, daquele trabalho em que todos contribuem para todos, com a sua profissão e em família, em sermos úteis aos outros que desconhecemos e em sermos prestáveis aos que amamos, que com esforço e dedicação, nos dão sustentabilidade e dignidade, como na Família de Nazaré.
Não, não vou falar do que é ser pai, ser mãe, e ter uma família, a espectativa e as inquietações do nascer com toda a sua alegria explosiva e do que é viver na luta de um recomeçar, gratificações e desilusões, e morrer no sofrimento e tranquilidade final, reabilitação de um percurso percorrido, deixando tantas marcas em outros que o continuarão, de pais para filhos, de amigos para amigos, de colegas para colegas de profissão, perenizando o seu saber e a sua memória.
Não, não vou falar de modelos de pais e filhos, de modelos de amizade, de modelos profissionais, de modelos de pessoas que vivem, lutam, aprendem, que com esforço e generosidade procuram manter e desenvolver a estrutura e os laços familiares, sociais e profissionais, contra dificuldades e sacrifícios, acreditando estar a construir um futuro melhor com melhores pessoas.
Não, não vou falar do que é viver com os outros e para os outros, o prazer da partilha, dos afectos, da proximidade, do estar junto física e emocionalmente numa renovação enriquecedora gratificante.
Não, não vou falar do que é amar, do que é sofrer a ajudar, do que é não ter para dar, do que é acreditar para atingir.
Não, não vou falar do Natal, não tenho nada para dizer, nada para viver, nada em que acreditar, um inicio e um fim para me sustentar.
Agora, já não tenho tempo para falar do Natal, o tempo passou e morro sozinho!
A. Manuel dos Santos
Médico Psiquiatra
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