Francisco respondeu a 11 questões que incluíram temas como celibato, tolerância zero aos casos de abuso sexual, sínodo da família e divorciados que voltaram a se casar
Roma, 27 de Maio de 2014 (Zenit.org) Sergio Mora
Na viagem de volta da Terra Santa a Roma, a bordo do Boeing
777 da companhia israelita El-Al, o papa Francisco saudou os
jornalistas que o acompanharam no voo e respondeu a onze perguntas sem
fugir de nenhum tema. Não faltaram no papa, segundo as agências, “o
candor e o senso de humor que o caracterizam”.
Sobre o encontro que se realizará em Junho no Vaticano entre o
presidente de Israel, Shimon Peres, e o do Estado Palestino, Abbu Mazen,
o Santo Padre redimensionou o fato esclarecendo que não é uma mediação
de paz: "Nós vamos nos reunir para rezar. Depois, todos voltam para a
sua casa". Mas completou: "Eu acho que a oração é importante, e é
importante que nós rezemos juntos".
Sobre a proposta de Paulo VI de fazer de Jerusalém uma cidade com
status internacional, Francisco disse: "Há muitas propostas. O Vaticano
tem a sua posição do ponto de vista religioso: uma cidade de paz para as
três religiões (...) É necessário ter muita coragem e eu rezo muito a
nosso Senhor para que esses presidentes tenham a coragem de ir em
frente".
Outro tema levantado durante o voo foi o celibato eclesiástico. O
papa recordou aos jornalistas que não se trata de um "dogma de fé" e que
existem sacerdotes casados em diversos ritos orientais da Igreja
católica. Por não ser um dogma, é um tema que sempre pode ser discutido.
No entanto, o papa observou que os temas “em cima da mesa” neste
momento são outros. Francisco reiterou, ainda assim, que o celibato “é
uma regra de vida; eu o aprecio muito e acredito que é um dom para a
Igreja".
Outra das perguntas tratou dos casos de abusos sexuais por parte de
clérigos. O papa reforçou a postura de “tolerância zero” a qualquer
eclesiástico que cometa esse crime e acrescentou que, em Junho, receberá
no Vaticano um grupo de seis vítimas de abusos sexuais e as convidará
para a missa quotidiana que ele celebra na Casa Santa Marta. O papa
revelou que existem três bispos sendo investigados, mas não esclareceu
se por terem cometido abusos ou por terem ocultado abusos de outros
clérigos. “Ninguém tem privilégios. É um crime horrível que trai o Corpo
do Senhor”, disse o papa, declarando também que os abusos, por
profanarem as vítimas e, nelas, o Corpo de Cristo, "são piores do que as
missas negras".
Sobre a possibilidade de outro papa renunciar e se tornar emérito a
exemplo de Bento XVI, Francisco disse que o predecessor abriu esta
possibilidade. “Temos que ver o papa emérito como uma instituição. Só
Deus sabe se haverá outras [renúncias], mas a porta está aberta".
Francisco afirmou que não tem um programa prefixado e que, no momento
oportuno, "farei o que nosso Senhor me disser: rezar e tentar encontrar a
vontade de Deus. Mas acredito que Bento XVI não foi um caso único".
O papa Francisco respondeu também sobre a reforma da Cúria Romana:
“Chegamos a um bom ponto. Consultamos toda a Cúria e agora começamos a
estudar as coisas para tornar a organização mais ágil; por exemplo,
unificando alguns dicastérios”.
Um dos pontos-chave, disse o papa, "é o económico. Por isso é que o
dicastério de economia tem que trabalhar com a Secretaria de Estado". Em
breve, Francisco dedicará quatro dias de trabalho ao tema e, em Setembro, outros quatro. "Ainda não vemos todos os resultados, mas a
parte económica é a que veio à luz primeiro (...) O caminho da persuasão
é muito importante", porque "há algumas pessoas que ainda não vêem com
clareza". Sobre o Instituto para as Obras de Religião (IOR), conhecido
popularmente como “o banco vaticano”, Francisco disse que "foram
fechadas 1600 contas bancárias, de pessoas que não tinham direito [a
manter contas na instituição]. O IOR deve servir para ajudar a Igreja.
Quem tem direito [a manter contas] são os bispos e as dioceses, os
empregados do Vaticano e as viúvas deles, as embaixadas e mais ninguém".
Quanto ao Sínodo da Família, o papa declarou que ele tratará “das
riquezas e da situação actual da família: mas eu não gostei de ver que
muitas pessoas, inclusive na Igreja, disseram que o sínodo é para dar a
comunhão aos divorciados que voltaram a se casar, como se tudo se
reduzisse a uma casuística. Hoje sabemos que a família está em crise, é
uma crise mundial, os jovens não querem se casar e apenas vivem juntos.
Não gostaria que caíssemos nesta casuística de poder ou não poder dar a
comunhão”.
(27 de Maio de 2014) © Innovative Media Inc.
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