Visita do Papa Francisco aos dois Grã-Rabinos de Israel
Jerusalém, 26 de Maio de 2014 (Zenit.org)
Prezados Grã-Rabinos de Israel,
Irmãos e irmãs!
Sinto-me particularmente feliz por poder encontrar-me convosco hoje:
estou-vos agradecido pela recepção calorosa e pelas amáveis palavras
de boas-vindas que me dirigistes.
Como sabeis, desde o tempo em que era Arcebispo de Buenos Aires, pude
contar com a amizade de muitos irmãos judeus. Hoje estão aqui dois
Rabinos amigos. Junto com eles, organizámos frutuosas iniciativas de
encontro e diálogo e, com eles, vivi também significativos momentos de
partilha no plano espiritual. Nos primeiros meses de pontificado, pude
receber várias organizações e representantes do judaísmo mundial. Como
já sucedia com os meus antecessores, são numerosos estes pedidos de
encontro, vindo somar-se às muitas iniciativas que têm lugar a nível
nacional ou local. Tudo isso atesta o desejo recíproco de nos
conhecermos melhor, de nos ouvirmos, de construirmos vínculos de
verdadeira fraternidade.
Este caminho de amizade constitui um dos frutos do Concílio Vaticano II, nomeadamente da Declaração Nostra aetate,
que teve tanto peso e cujo cinquentenário recordaremos no próximo ano.
Na realidade, estou convencido de que o sucedido durante as últimas
décadas nas relações entre judeus e católicos tenha sido um verdadeiro
dom de Deus, uma das maravilhas por Ele realizadas, pela qual somos
chamados a bendizer o seu nome: «Louvai o Senhor dos senhores, / porque o
seu amor é eterno! / Só Ele faz grandes maravilhas, / porque o seu amor
é eterno!» (Sal 136, 3-4).
Mas é um dom de Deus que não poderia manifestar-se sem o empenho de
muitíssimas pessoas corajosas e generosas, tanto judias como cristãs. Em
particular, desejo mencionar aqui a importância assumida pelo diálogo
entre o Grã-Rabinato de Israel e a Comissão da Santa Sé para as Relações
Religiosas com o Judaísmo. Diálogo este, que, inspirado pela visita do
Santo Padre João Paulo II à Terra Santa, teve início em 2002, encontrando-se já no décimo segundo ano de vida. Apraz-me pensar, a respeito doBar Mitzvah da
tradição judaica, que o mesmo já esteja próximo da idade adulta: tenho
confiança que possa continuar e tenha um futuro brilhante pela frente.
Não se trata apenas de estabelecer, num plano humano, relações de
respeito mútuo: somos chamados, como cristãos e como judeus, a
interrogarmo-nos em profundidade sobre o significado espiritual do
vínculo que nos une. É um vínculo que vem do Alto, ultrapassa a nossa
vontade e permanece íntegro, não obstante todas as dificuldades de
relacionamento vividas, infelizmente, na história.
Do lado católico, há seguramente a intenção de considerar plenamente o
sentido das raízes judaicas da própria fé. Estou confiante, com a vossa
ajuda, que também do lado judaico se mantenha e, se possível, aumente o
interesse pelo conhecimento do cristianismo, mesmo nesta terra bendita
onde o cristianismo reconhece as suas origens e, especialmente, entre as
jovens gerações.
O conhecimento recíproco do nosso património espiritual, o apreço por
aquilo que temos em comum e o respeito no que nos divide poderão servir
de guia para o sucessivo desenvolvimento das nossas relações futuras,
que entregamos nas mãos de Deus. Juntos, poderemos dar uma grande
contribuição para a causa da paz; juntos, poderemos, num mundo em rápida
mudança, testemunhar o significado perene do plano divino da criação;
juntos, poderemos opor-nos, firmemente, a todas as formas de
anti-semitismo e restantes formas de discriminação. O Senhor nos ajude a
caminhar, com confiança e fortaleza de ânimo, pelas suas vias. Shalom!
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(26 de Maio de 2014) © Innovative Media Inc.
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