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quinta-feira, 6 de março de 2014

El País publica uma surpreendente reportagem sobre a falta de ajudas a mulheres que não querem abortar

Centrado na Red Madre 

Red Madre, com gabinetes em toda a Espanha, atendeu 20.000
mulheres desde a sua fundação em 2007
Actualizado 5 de Março de 2014

ReL

Uma certa surpresa causou a publicação a toda a página no diário El País de uma reportagem que leva por título: “Faltam ajudas à maternidade”. El País, navio insígnia da multinacional espanhola PRISA, com uma linha editorial de apoio permanente às posturas pró-aborto, cedeu as suas páginas para dar voz à Fundação Red Madre (www.redmadre.es) e às mulheres que passaram por uma gravidez imprevista e que não queriam abortar.

Escrito com grande profissionalismo pela jornalista María R. Sahuquillo, assinala que "a Fundação Red Madre, contrária ao aborto, crê que a reforma da lei é um avanço, ainda que não inclui as medidas prometidas de apoio a grávidas".

De seguida, reproduzimos integralmente a reportagem de El País pelo seu interesse jornalístico:

“Faltam ajudas à maternidade”
Antonio Torres, presidente da Fundação Red Madre, tem claro o seu diagnóstico: para evitar o aborto a solução consiste em impulsionar mais políticas sociais de apoio à futura mãe.

“À margem de ideologias e crenças, o que está claro é que em Espanha faltam ajudas à maternidade”, disse.

Red Madre (nascida da associação ultraconservadora Foro da Família), que tem programas de assistência a mães em diferentes cidades, é uma das entidades para as quais a Administração deriva as mulheres que procuram apoio depois de uma gravidez não desejada e figura no envelope de informação que recebe toda aquela que solicita um aborto.

Também é uma das organizações às quais o Ministério de Justiça solicitou um relatório sobre o anteprojecto de lei do aborto.

Torres e a sua equipa, que consideram a reforma, em parte, como um avanço (é muito mais restritiva que a actual), explicam que essa análise evita opinar sobre a interrupção da gravidez e centra-se em destacar que a nova lei carece de planos, programas e ajudas que consideram vitais.

Para eles essa é o grande assunto pendente e não abordado. “O Estado não destina mais de um milhão de euros em todo o conjunto do Estado às mamãs que não desejam abortar e por outro lado financia os abortos”, critica Carmina García-Valdés, directora-geral da fundação, num dos gabinetes da sua sede em Madrid (na foto).

“Depois de uma gravidez imprevista, às mulheres apenas se lhes dá outra opção que é abortar. É essa solidão, essa carência de apoios o que as leva a abortar. E isso não é ideologia, é uma visão baseada na nossa experiência”, incide também Torres.

Desde a sua criação em 2007, Red Madre recebeu 20.000 mulheres que solicitaram participar em algum dos seus programas de ajuda; 15.000 delas estavam grávidas, afirmam. “Oito de cada 10 decidiram seguir em frente e ser mamãs de um filho vivo”, assegura Torres.

María e Rita (de 30 e 26 anos) aguardam com os seus filhos na sala de espera da organização, decorada como um quarto de crianças. A primeira afirma que, apesar de que a sua situação económica era muito complicada, não planeou interromper a sua gravidez. Rita, dominicana, tampouco.

Ambas explicam que recebem da Red Madre comida e fraldas ao menos uma vez por mês. “Também brinquedos e roupa”, disse María, que foi à fundação enviada pelo psicólogo do seu centro de saúde. A organização, apontam as suas responsáveis, nutre-se de voluntários e de doações; tanto de material como de fundos. A maioria, indicam, privadas.

As subvenções públicas com as quais conta, insistem, “são insuficientes”. Em 2013 a Comunidade de Madrid, por exemplo, deu-lhes 140.000 euros. A federação obteve uns 170.000 para repartir entre os 40 gabinetes que tem em outras cidades.

O que não pode ser é que uma mulher aborte sem saber que tem outras opções. Entre outras coisas saber como se está desenvolvendo o filho que leva dentro com um diagnóstico verdadeiro, porque isto nem sempre é assim”, comenta García-Valdés.

Torres crê que o debate sobre o anteprojecto da lei do aborto (aprovado em Conselho de Ministros em Dezembro, mas que deve passar pelos relatórios prescritivos e pelos trâmites parlamentares — não está sendo de todo rigoroso nem completo; mas sim demasiado político.

Explica que no documento que entregaram à Justiça (em elaboração) propuseram um catálogo de medidas concretas de apoio à maternidade. “A lei que se está planeando não cumpre aquilo que o PP prometeu, que é o que nós defendemos: implementar políticas reais e eficazes de apoio à maternidade para que quando uma mulher quiser ser mãe possa fazê-lo sem ser penalizada. Não custa tanto. 100 milhões de euros por ano dariam uma volta à situação. Precisam-se também políticas de conciliação laboral, infantários… Somos um dos países da Europa que piores indicadores têm neste sentido. Porque não copiar o que outros têm de bom?”, disse.

“Investir em maternidade é investir no progresso, em crescimento social e económico, e parece que isso não se está tendo em conta”, reclama García-Valdés.

“Nós não julgamos as mulheres. As mamãs vivem o aborto como um drama. A pena é que não se estão procurando pontos em comum e este poderia ser um. Podemos estar em desacordo na premissa fundamental, que é quando há um ser humano. Para nós o há desde o momento da concepção, para outros, não. Mas no que sim podemos estar de acordo é em que quando uma mulher quiser ser mãe se a apoie. Se hoje o PP fizesse uma lei de apoio à maternidade seria, rigorosa, boa, ninguém a revogaria. Seria o avanço mais importante em Espanha”, insiste.



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