A propósito do livro Envolva-se, de Sheryl Sandberg
Roma, 11 de Julho de 2013
O livro se chama “Envolva-se” (tradução livre do original Lean In) e a autora é uma das bandeiras do feminismo jovem nos Estados Unidos: Sheryl Sandberg, a número dois do Facebook.
O livro incentiva as mulheres a levar mais a sério a carreira e a
não perder a ambição de conquistar postos cada vez mais altos. Como
destaca a agência Aceprensa (“Mulheres directoras: falta de ambição ou de
tempo?”, 03/04/2013), “acrescentam-se às pinceladas de psicologia
feminina alguns dados estatísticos e explicações de outros
estereótipos”.
A directora de operações do Facebook não é a única que, no primeiro
quadrimestre de 2013, lidera a bandeira do feminismo estadunidense.
Marissa Meyer é CEO do Yahoo! e seu nome percorreu toda a imprensa
mundial quando decidiu trazer de volta para os escritórios, a partir de
Junho deste ano, todos os empregados da empresa que trabalhavam de casa.
Francesco Tortora, no Corriere della Sera de 12 de Março,
avaliou a decisão de Marissa como “uma verdadeira tragédia para as
mulheres que têm filhos pequenos e que não têm com quem deixá-los”.
Indo além dos erros estatísticos do livro de Sandberg (a directora da
TIME Ideias, Ruth Davis Konigsberg, evidenciou que as equiparações
salariais entre homens e mulheres mencionadas pela número dois do
Facebook não são reais, com base em dados do US Bureau of Statistics) e
dos comentários sobre o diagnóstico equivocado feito em “Envolva-se”
(por exemplo, de executivas como Jody Greenstone Miller, fundadora do
Bussines Talent Group), a principal “contestação” ao livro veio de uma
ex-“super gestora”.
Erin Callan foi directora financeira do Lehman Brothers e publicou um artigo no The New York Times
("Is there life after work?", 10/03/2013) em que abertamente convida as
mulheres a não desperdiçar todas as suas energias na carreira, porque
não vale a pena nem melhora a vida.
“Desde que abandonei o meu trabalho no Lehman, tive todo o tempo para
reflectir sobre a proporção de tempo dedicada ao trabalho em comparação
com o tempo que eu dediquei à minha vida. Algumas vezes, vejo garotas
jovens que dizem que me admiram pelo que eu consegui. Trabalhei
duramente durante 20 anos e agora posso passar os próximos 20 fazendo
outras cosas. Mas isto não é equilíbrio. Não desejo isso a ninguém. Até
pouco tempo atrás, eu pensava que focar na carreira era a coisa mais
importante para ter sucesso. Mas agora estou começando a entender que
desperdicei o melhor da minha vida. Eu tinha talento, era inteligente e
estava cheia de energia. Não devia ter sido tão extremista”, escreve
Callan no The New York Times.
E prossegue: “O mais importante é que eu perdi a chance de ter um
filho completamente meu”. Explica-se: actualmente, ela está recorrendo a
um tratamento de fertilização in vitro, moralmente reprovável, para
conseguir o que, na sua idade actual, a natureza lhe nega.
Indo além da dialéctica de posições, o que realmente está no centro da
questão é a estabilidade e a realização específica da mulher no
trabalho, partindo da sua condição concreta de mulher. Sheelah
Kolhatkar, no The Business Week, escreveu: “Durante muitos
séculos, sempre foi o homem que trabalhou até morrer. Talvez seja um
perverso triunfo do feminismo que as mulheres agora se sintam livres
fazendo a mesma coisa”.
in
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