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sexta-feira, 12 de julho de 2013

Super Gestora x Mulher Maravilha: quando a realização feminina consistiu em fazer o que os homens faziam

A propósito do livro Envolva-se, de Sheryl Sandberg


Roma, 11 de Julho de 2013


O livro se chama “Envolva-se” (tradução livre do original Lean In) e a autora é uma das bandeiras do feminismo jovem nos Estados Unidos: Sheryl Sandberg, a número dois do Facebook.

O livro incentiva as mulheres a levar mais a sério a carreira e a não perder a ambição de conquistar postos cada vez mais altos. Como destaca a agência Aceprensa (“Mulheres directoras: falta de ambição ou de tempo?”, 03/04/2013), “acrescentam-se às pinceladas de psicologia feminina alguns dados estatísticos e explicações de outros estereótipos”.

A directora de operações do Facebook não é a única que, no primeiro quadrimestre de 2013, lidera a bandeira do feminismo estadunidense. Marissa Meyer é CEO do Yahoo! e seu nome percorreu toda a imprensa mundial quando decidiu trazer de volta para os escritórios, a partir de Junho deste ano, todos os empregados da empresa que trabalhavam de casa. Francesco Tortora, no Corriere della Sera de 12 de Março, avaliou a decisão de Marissa como “uma verdadeira tragédia para as mulheres que têm filhos pequenos e que não têm com quem deixá-los”.

Indo além dos erros estatísticos do livro de Sandberg (a directora da TIME Ideias, Ruth Davis Konigsberg, evidenciou que as equiparações salariais entre homens e mulheres mencionadas pela número dois do Facebook não são reais, com base em dados do US Bureau of Statistics) e dos comentários sobre o diagnóstico equivocado feito em “Envolva-se” (por exemplo, de executivas como Jody Greenstone Miller, fundadora do Bussines Talent Group), a principal “contestação” ao livro veio de uma ex-“super gestora”.

Erin Callan foi directora financeira do Lehman Brothers e publicou um artigo no The New York Times ("Is there life after work?", 10/03/2013) em que abertamente convida as mulheres a não desperdiçar todas as suas energias na carreira, porque não vale a pena nem melhora a vida.

“Desde que abandonei o meu trabalho no Lehman, tive todo o tempo para reflectir sobre a proporção de tempo dedicada ao trabalho em comparação com o tempo que eu dediquei à minha vida. Algumas vezes, vejo garotas jovens que dizem que me admiram pelo que eu consegui. Trabalhei duramente durante 20 anos e agora posso passar os próximos 20 fazendo outras cosas. Mas isto não é equilíbrio. Não desejo isso a ninguém. Até pouco tempo atrás, eu pensava que focar na carreira era a coisa mais importante para ter sucesso. Mas agora estou começando a entender que desperdicei o melhor da minha vida. Eu tinha talento, era inteligente e estava cheia de energia. Não devia ter sido tão extremista”, escreve Callan no The New York Times.

E prossegue: “O mais importante é que eu perdi a chance de ter um filho completamente meu”. Explica-se: actualmente, ela está recorrendo a um tratamento de fertilização in vitro, moralmente reprovável, para conseguir o que, na sua idade actual, a natureza lhe nega.

Indo além da dialéctica de posições, o que realmente está no centro da questão é a estabilidade e a realização específica da mulher no trabalho, partindo da sua condição concreta de mulher. Sheelah Kolhatkar, no The Business Week, escreveu: “Durante muitos séculos, sempre foi o homem que trabalhou até morrer. Talvez seja um perverso triunfo do feminismo que as mulheres agora se sintam livres fazendo a mesma coisa”.



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