IV Domingo da Páscoa
1 - Eu não sou gregário! Não gosto
de andar atrás dos outros. Não gosto de andar por caminhos feitos, gosto de ser
eu a fazer os meus próprios caminhos!
Estas palavras ouvi-as há muitos anos
a um intelectual que assim tentava defender-se de um convite que lhe lancei
para continuar a frequentar a Missa dominical que tinha abandonado, como se
fosse coisa inútil. E acrescentava que, na sua juventude, tinha
muitas vezes comido o pão que o diabo amassou, e agora sentia-se no direito de
comer o pão que ele próprio amassava. Fechado em seus esquemas, este homem
rejeitava assim o Pão vivo descido do céu, o único pão que dá Vida Eterna a
quem o comer. A sua recusa lembrou-me o Cântico Negro de José Régio, no
qual o poeta diz e repete àqueles que o convidam: não vou por aí!
2 - Nós cristãos, somos gregários, ou
seja, reconhecemo-nos, sem complexos de inferioridade e com muita honra, como
ovelhas do rebanho de um único Pastor: Deus Pai, manifestado no Seu Filho Jesus
Cristo. Somos cristãos porque reconhecemos em Jesus de Nazaré, crucificado em
Jerusalém, o nosso Senhor e o Cristo, o Messias que veio ao mundo para nos
salvar, ou seja, para nos reconduzir da situação de perdição onde nos lançaram os
nossos pecados e o pastoreio dos maus pastores, e nos reconduzir para Si, o verdadeiro
Pastor e Guardião das nossas almas. Ele, o Filho Unigénito, um só Deus com
o Pai e com o Espírito Santo, suportou os nossos pecados no Seu Corpo sobre o
madeiro da cruz, resgatou-nos da escravidão do pecado com o Seu Sangue e
curou-nos pelas suas chagas. Assim nós, as ovelhas desgarradas que Ele reuniu e
agora está conduzindo para o Pai, seguimo-l’O como nosso Redentor e Pastor, pois
nos reconhecemos como membros do Seu rebanho, ou seja, da Sua Igreja.
3 – O reconhecimento de Jesus Cristo
como Pastor tem a ver com o entendimento da nossa vida como um percurso. É
também consequência de acreditarmos em Deus Pai Criador, e na Morte e na Ressurreição
de Cristo, Seu Filho. Todos entendemos, sem grande dificuldade, que a nossa vida
na terra é uma caminhada da qual desconhecemos o início e o fim, como começa e como
termina. Viver é caminhar. Mas, de onde? E para onde? De onde vimos e para onde
vamos?
Vimos do coração amoroso de Deus que
nos criou. Como cantamos num salmo, Ele nos fez, a Ele pertencemos, somos Seu
povo e ovelhas do Seu rebanho. Aparecemos neste mundo cheios de
fragilidades e inteiramente dependentes do amor e dos cuidados dos pais e dos
familiares, vizinhos e conhecidos e, á medida que crescemos, experimentamos a
necessidade imperiosa e também a grande dificuldade de lhes retribuirmos o amor que deles recebemos! O medo de morrer
que nos fecha em nós mesmos impedindo-nos de amar, transforma tantas vezes as
nossas vidas num marasmo ou num rodopio louco que, de facto, não nos levam a
lado nenhum. O reconhecimento da nossa incapacidade de enfrentar a morte
abre-nos à fé na morte de Cristo por nós, por amor de nós, e na Sua ressurreição.
Nisto conhecemos o Amor: Jesus deu a Sua vida por nós, e ressuscitou para
nossa justificação. Ele é o bom e o verdadeiro Pastor que caminha à frente
da Sua Igreja no vale tenebroso da morte e nos conduz para a Vida, no seio do
Pai. E a vida dos cristãos transforma-se assim no discipulado amoroso, no
seguimento de Cristo vencedor da morte que nos faz participantes da Sua
vitória.
4 – Eu vim para que as minhas
ovelhas tenham Vida, e a tenham em abundância. Estas palavras do Senhor com
que termina o Evangelho do próximo domingo resumem a vida e a inteira missão de
Cristo no mundo. Neste Evangelho podemos ver também quais são as
características do Bom Pastor e das Suas ovelhas. Ele entra pela porta e é
reconhecido pelas suas ovelhas que amorosamente chama pelo nome, e caminha à
sua frente. Elas conhecem a Sua voz e seguem-n’O, e reconhecem n’Ele a Porta
pela qual entram e saem para encontrar pastagem.
Meus queridos irmãos e irmãs: vós
conheceis a voz de Cristo Senhor nosso? Para O seguirdes, é absolutamente
necessário que O escuteis quando vos fala nos acontecimentos das vossas vidas; precisais
de aprender a escutá-l’O nas palavras da Sagrada Escritura que a Mãe Igreja vos
dá como alimento, domingo após domingo, dia após dia. Porque existem no mundo
muitos falsos pastores que em muitas circunstâncias dizem também as mesmas
palavras do Senhor, tal discernimento não é coisa fácil. Mas se O reconheceis
como a Porta das ovelhas e aprendeis a entrar e a sair por Ele e O tomais como
exemplo a seguir, felizes de vós, ovelhas que Cristo apascenta! Habitareis para
sempre na Casa do Senhor, pois Ele, na comunhão da Igreja, vos guiará até à
plena comunhão com o Pai, no Espírito Santo, no Reino dos Céus!
+ J. Marcos
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