Entrevista com o cardeal haitiano Chibly Langlois, que tomou posse, em Roma, da Basílica de San Giacomo in Augusta
Cidade do Vaticano, 11 de Junho de 2014 (Zenit.org) Sergio Mora
A nomeação de um cardeal haitiano pelo papa Francisco é um
chamamento para que o Haiti não seja esquecido. O papa não se esqueceu
do Haiti nem dos seus sofrimentos depois do terremoto de quatro anos
atrás e quer que as pessoas também não se esqueçam.
As declarações, feitas a ZENIT, são do cardeal haitiano Chibly
Langlois, 55 anos, que esteve em Roma nesta semana para tomar posse, no
último dia 7 de Junho, da igreja designada a ele como cardeal, San
Giacomo in Augusta, na Via del Corso, área central da Cidade Eterna.
Compartilhamos com nossos leitores a entrevista que o cardeal Langlois nos concedeu.
ZENIT: Como o senhor recebeu a notícia da sua nomeação?
Card. Langlois: Eu fiquei sabendo que tinha sido nomeado cardeal
pelas felicitações dos amigos, por telefone e por e-mail. É a primeira
vez que é nomeado um cardeal haitiano. Muita gente no meu país se
perguntava por que nunca tínhamos tido um cardeal. É verdade que nós
estamos longe e somos pequenos, mas sempre dizíamos que era preciso
esperar o momento certo... E o momento chegou.
ZENIT: O senhor já conhecia o Santo Padre antes do conclave?
Card. Langlois: Não, não conhecia, mas gosto muito dele, assim como
do modo como ele se apresenta e do jeito com que ele quer orientar a
Igreja hoje, e pelas respostas dele a uma expectativa na Igreja e na
sociedade em geral.
ZENIT: Quais são as preocupações actuais da Igreja na região do Caribe?
Card. Langlois: Existe a preocupação de construir uma Igreja que tem
que continuar evangelizando, assumir as suas responsabilidades, para que
a Boa Nova se transforme em cultura. Que os cristãos reforcem a sua fé e
se tornem missionários, porque em nossos dias insistimos que é preciso
seguir adiante na linha do documento de Aparecida. Essa linha foi
reiterada pelo papa Francisco: que todos os cristãos se sintam
missionários da Igreja. A evangelização é uma preocupação para todos e
especialmente para mim. Precisamos de homens e mulheres que se sintam
convencidos e verdadeiramente chamados a construir a Igreja, para levar
adiante a evangelização no país. Também existe uma preocupação com a
situação económica, porque as necessidades existem e nós temos que nos
organizar no âmbito financeiro para poder realizar tantos trabalhos.
Estamos preocupados com a situação social, de reconstruir a nação,
porque existe pobreza demais e muita gente não consegue trabalhar nem
para ganhar a vida. E para que o país saia do subdesenvolvimento.
ZENIT: Como as pessoas se sentiram depois do impressionante terremoto que assolou o Haiti?
Card. Langlois: A nossa geração não estava acostumada com terremotos
tão fortes. Foi necessário esclarecer para a população que era uma
catástrofe natural. Havia gente que não queria entender, como se fosse
uma espécie de maldição, como se Deus tivesse a culpa. As pessoas
acabaram entendendo. E também existe a necessidade de se recuperar.
Existem dificuldades para ter acesso a água potável, comida, roupa.
Muita gente ainda vive em barracas.
ZENIT: E as vocações?
Card. Langlois: Graças a Deus, temos muitas vocações no Haiti, nas
dioceses, nas comunidades religiosas, homens e mulheres. Mas precisamos
trabalhar para ter mais caridade.
ZENIT: Receberam ajuda da Igreja depois do terremoto?
Card. Langlois: Recebemos ajuda das Igrejas irmãs do mundo todo.
Vieram muitas organizações, mas, infelizmente, nem todas as ajudas foram
bem canalizadas. A maior parte das ONGs se organiza para distribuir as
ajudas, mas falta planeamento e, muitas vezes, acontecem duplicações de
serviços. Mas temos que agradecer à comunidade internacional e às
diversas organizações que ajudam o Haiti nesta situação tão difícil. Eu
tenho que dizer, mesmo assim, que esta ajuda não é suficiente. Tem muito
trabalho a ser feito na reconstrução, por exemplo. Muitas igrejas estão
destruídas, ou precisam ser restauradas. Mais de cem. Já perdemos muito
tempo e temos pessoas ansiosas por um lugar onde celebrar as funções
religiosas. Neste sentido, as Igrejas irmãs poderão ajudar na
reconstrução, com a sua proximidade católica do Haiti. Existem Igrejas,
como as da Alemanha e da França, que estão nos ajudando na reconstrução
para concretizar os sonhos e os objectivos que nós temos neste sentido.
ZENIT: Existe o perigo de que o Haiti seja esquecido?
Card. Langlois: Sim, esse risco existe, mas eu acho que a nomeação de
um cardeal haitiano pela primeira vez na história pode ser entendida
como um apelo para que o Haiti não seja esquecido. Eu acho que uma das
minhas missões é lembrar que existimos. O papa Francisco não se esqueceu
e quer que as pessoas não se esqueçam do Haiti.
O cardeal Chibly Langlois nasceu em La Vallée, diocese de Jacmel, no
dia 29 de Novembro de 1958. Cursou os estudos eclesiásticos na capital
do país, Porto Príncipe. Recebeu a ordenação sacerdotal em 22 de Setembro de 1991. Fez a licença em teologia pastoral na Pontifícia
Universidade Lateranense de Roma. O papa João Paulo II o nomeou bispo de
Fort-Liberté em 8 de Abril de 2004 e Langlois recebeu a ordenação
episcopal em 6 de Junho do mesmo ano. Bento XVI o transferiu para a
diocese de Les Cayes em 15 de Agosto de 2011. Actualmente, é presidente
da Conferência Episcopal do Haiti, cargo para o qual foi eleito em 15 de Dezembro de 2011. O papa Francisco o elevou a cardeal em seu primeiro
consistório, em 22 de Fevereiro de 2014. O cardeal Chibly Langlois acaba
de ser nomeado membro do dicastério Justiça e Paz, da Santa Sé.
(11 de Junho de 2014) © Innovative Media Inc.
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