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quinta-feira, 12 de junho de 2014

O papa Francisco não se esquece do Haiti e não quer que o mundo se esqueça

Entrevista com o cardeal haitiano Chibly Langlois, que tomou posse, em Roma, da Basílica de San Giacomo in Augusta


Cidade do Vaticano, 11 de Junho de 2014 (Zenit.org) Sergio Mora


A nomeação de um cardeal haitiano pelo papa Francisco é um chamamento para que o Haiti não seja esquecido. O papa não se esqueceu do Haiti nem dos seus sofrimentos depois do terremoto de quatro anos atrás e quer que as pessoas também não se esqueçam.

As declarações, feitas a ZENIT, são do cardeal haitiano Chibly Langlois, 55 anos, que esteve em Roma nesta semana para tomar posse, no último dia 7 de Junho, da igreja designada a ele como cardeal, San Giacomo in Augusta, na Via del Corso, área central da Cidade Eterna.

Compartilhamos com nossos leitores a entrevista que o cardeal Langlois nos concedeu.

ZENIT: Como o senhor recebeu a notícia da sua nomeação?
Card. Langlois: Eu fiquei sabendo que tinha sido nomeado cardeal pelas felicitações dos amigos, por telefone e por e-mail. É a primeira vez que é nomeado um cardeal haitiano. Muita gente no meu país se perguntava por que nunca tínhamos tido um cardeal. É verdade que nós estamos longe e somos pequenos, mas sempre dizíamos que era preciso esperar o momento certo... E o momento chegou.

ZENIT: O senhor já conhecia o Santo Padre antes do conclave?
Card. Langlois: Não, não conhecia, mas gosto muito dele, assim como do modo como ele se apresenta e do jeito com que ele quer orientar a Igreja hoje, e pelas respostas dele a uma expectativa na Igreja e na sociedade em geral.

ZENIT: Quais são as preocupações actuais da Igreja na região do Caribe?
Card. Langlois: Existe a preocupação de construir uma Igreja que tem que continuar evangelizando, assumir as suas responsabilidades, para que a Boa Nova se transforme em cultura. Que os cristãos reforcem a sua fé e se tornem missionários, porque em nossos dias insistimos que é preciso seguir adiante na linha do documento de Aparecida. Essa linha foi reiterada pelo papa Francisco: que todos os cristãos se sintam missionários da Igreja. A evangelização é uma preocupação para todos e especialmente para mim. Precisamos de homens e mulheres que se sintam convencidos e verdadeiramente chamados a construir a Igreja, para levar adiante a evangelização no país. Também existe uma preocupação com a situação económica, porque as necessidades existem e nós temos que nos organizar no âmbito financeiro para poder realizar tantos trabalhos. Estamos preocupados com a situação social, de reconstruir a nação, porque existe pobreza demais e muita gente não consegue trabalhar nem para ganhar a vida. E para que o país saia do subdesenvolvimento.

ZENIT: Como as pessoas se sentiram depois do impressionante terremoto que assolou o Haiti?
Card. Langlois: A nossa geração não estava acostumada com terremotos tão fortes. Foi necessário esclarecer para a população que era uma catástrofe natural. Havia gente que não queria entender, como se fosse uma espécie de maldição, como se Deus tivesse a culpa. As pessoas acabaram entendendo. E também existe a necessidade de se recuperar. Existem dificuldades para ter acesso a água potável, comida, roupa. Muita gente ainda vive em barracas.

ZENIT: E as vocações?
Card. Langlois: Graças a Deus, temos muitas vocações no Haiti, nas dioceses, nas comunidades religiosas, homens e mulheres. Mas precisamos trabalhar para ter mais caridade.

ZENIT: Receberam ajuda da Igreja depois do terremoto?
Card. Langlois: Recebemos ajuda das Igrejas irmãs do mundo todo. Vieram muitas organizações, mas, infelizmente, nem todas as ajudas foram bem canalizadas. A maior parte das ONGs se organiza para distribuir as ajudas, mas falta planeamento e, muitas vezes, acontecem duplicações de serviços. Mas temos que agradecer à comunidade internacional e às diversas organizações que ajudam o Haiti nesta situação tão difícil. Eu tenho que dizer, mesmo assim, que esta ajuda não é suficiente. Tem muito trabalho a ser feito na reconstrução, por exemplo. Muitas igrejas estão destruídas, ou precisam ser restauradas. Mais de cem. Já perdemos muito tempo e temos pessoas ansiosas por um lugar onde celebrar as funções religiosas. Neste sentido, as Igrejas irmãs poderão ajudar na reconstrução, com a sua proximidade católica do Haiti. Existem Igrejas, como as da Alemanha e da França, que estão nos ajudando na reconstrução para concretizar os sonhos e os objectivos que nós temos neste sentido.

ZENIT: Existe o perigo de que o Haiti seja esquecido?
Card. Langlois: Sim, esse risco existe, mas eu acho que a nomeação de um cardeal haitiano pela primeira vez na história pode ser entendida como um apelo para que o Haiti não seja esquecido. Eu acho que uma das minhas missões é lembrar que existimos. O papa Francisco não se esqueceu e quer que as pessoas não se esqueçam do Haiti.

O cardeal Chibly Langlois nasceu em La Vallée, diocese de Jacmel, no dia 29 de Novembro de 1958. Cursou os estudos eclesiásticos na capital do país, Porto Príncipe. Recebeu a ordenação sacerdotal em 22 de Setembro de 1991. Fez a licença em teologia pastoral na Pontifícia Universidade Lateranense de Roma. O papa João Paulo II o nomeou bispo de Fort-Liberté em 8 de Abril de 2004 e Langlois recebeu a ordenação episcopal em 6 de Junho do mesmo ano. Bento XVI o transferiu para a diocese de Les Cayes em 15 de Agosto de 2011. Actualmente, é presidente da Conferência Episcopal do Haiti, cargo para o qual foi eleito em 15 de Dezembro de 2011. O papa Francisco o elevou a cardeal em seu primeiro consistório, em 22 de Fevereiro de 2014. O cardeal Chibly Langlois acaba de ser nomeado membro do dicastério Justiça e Paz, da Santa Sé.

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