Entrevista a Imma Martínez Vives, jovem católica
Uma jovem russa no campo |
Actualizado 1 de Março de 2014
Navas González / Aleteia
“Parece um paradoxo, mas num momento onde perdeste toda a fé (digamos humana), no qual não vês nada, no qual estás “morta em vida”, no fundo, talvez sem ser consciente, de alguma maneira sabes que Deus está ali e o teu desejo d’Ele salva-te. Não sei como explica-lo, ainda que seja um mero desejo de sobrevivência, quando estás perdida na obscuridade, esperas, esperas que tudo passe”. Assim explica a jovem espanhola Imma Martínez Vives a sua experiência de fé no meio da depressão, na seguinte entrevista a Aleteia.
“Penso que isso é a fé: crer sem ver, esperar quando te parece que não se pode esperar nada”, acrescenta esta jovem de 26 anos, integradora Social e actualmente estudante do Curso Universitário de Educação Social.
- Quando começaste a encontrar-te mal e porquê?
- Comecei a encontrar-me mal aos 15 anos aproximadamente, no contexto da mudança pessoal que supõe a adolescência. Tive uma depressão que foi aumentando em intensidade com o passar do tempo.
- Como soubeste que tinhas uma depressão?
- Não tinha uma causa específica com a qual se costuma associar uma depressão, talvez por isso foi mais difícil saber detectar o que me estava acontecendo. Agora, visto desde longe, penso que além da causa física (pois tenho transtorno bipolar, coisa que me predispõe a ter períodos depressivos), o que a provocou foi um cúmulo de coisas: a mudança da adolescência (que alguns rapazes e raparigas vivem com muita dificuldade), o facto de ter um carácter muito reservado, a dificuldade de expressar tudo o que me passava por dentro e uma alta sensibilidade a tudo, os complexos que costumam aparecer na adolescência, a procura do sentido da vida numa etapa onde se tomam decisões importantes…
E talvez agravou-se pelo facto de não saber pôr nome ao problema e um tratamento. Para saber que tens uma depressão, além dos indicadores da conduta (tristeza profunda, isolamento físico e emocional, etc.), é conveniente ir a um psicólogo e psiquiatra (no caso de que seja conveniente a administração de psicofármacos).
- Que te ajudou a enfrentá-la?
- Creio que quando uma depressão é grave, sem medicação não se pode superar. Evidentemente, a medicação não é uma solução mágica, assim que não substitui o grande trabalho pessoal interior de luta. Basicamente, uma luta com si mesma e contra o sentimento dominante de tristeza.
Comecei a medicar-me. Não foi fácil, pois há que encontrar a medicação adequada e a dose equilibrada… Também pode resultar difícil encontrar um bom profissional que siga uma terapia de que gostes ou te vá bem segundo a tua maneira de ser (pois existem muitos tipos de terapias e teorias psicológicas muito diferentes entre elas, algumas quase opostas, e segundo qual escolhas pode “estropear-te” ainda mais).
A partir deste passo, a aceitação creio que é o mais importante, pois começas a apagar o sentimento de culpa profundo que costumam ter as pessoas com depressão. Aceitei que o que me passava não era culpa minha, que não tinha um problema de falta de vontade nem de imaturidade.
Outra parte muito importante para vencer uma depressão é ter próximo pessoas que te queiram, que te ajudem (ainda que não saibam como, pois não é nada fácil tratar uma persona que sofre de depressão, já que costuma rejeitar todo o tipo de ajuda e encerrar-se em si mesma). Simplesmente, pessoas que estejam ali, mostrando o seu carinho.
No meu caso, não estaria hoje bem sem o apoio da minha família e especialmente de uma amiga, que nunca atirou a toalha comigo.
- Como o tomam as pessoas?
- Creio que às pessoas, em geral, custa-lhes entender o que é uma depressão (estou consciente de que custa se não se viveu na primeira pessoa) e qualquer conduta que a sociedade tipifica como “não normal”. As pessoas costumam ver-te como uma pessoa débil, sem vontade, quer dizer, reduz-se a pessoa à sua vontade, sem ter em conta tantos aspectos físicos e psicológicos. Eu também pensava algo assim e, talvez por isso, custou-me tanto aceitar que tinha uma depressão.
Penso que isto passa porque ainda temos demasiados preconceitos e ignorância a respeito dos transtornos ou patologias mentais, especialmente porque não é algo palpável como, por exemplo, a pessoa que tem a perna rota. Devemos aprender a ver mais além da parte física ou comportamental da pessoa, e vê-la em toda a sua plenitude.
Outras pessoas sim que vêem o problema, que algo falha, que não é um tema puramente comportamental mas não sabem como actuar ou ajudar, pois não é nada fácil. A respeito disto, animo a pedir ajuda e conselho aos profissionais, se tem alguma pessoa próxima que padece de uma depressão. Desta maneira, poderão ajudá-la de uma maneira muito mais eficaz.
- Que papel joga a fé?
- A fé é básica. Sem ela não se segue em frente. A fé te dá a esperança. Parece um paradoxo, mas num momento onde perdeste toda a fé (digamos humana), no qual não vês nada, no qual estás “morta em vida”, no fundo, talvez sem ser consciente, de alguma maneira sabes que Deus está ali e o teu desejo d’Ele te salva. Não sei como explica-lo, ainda que seja um mero desejo de sobrevivência, quando estás perdida na obscuridade, esperas, esperas que tudo passe.
Penso que isso é a fé: crer sem ver, esperar quando te parece que não se pode esperar nada. Pois, ao fim e ao cabo, estamos criados para ser felizes amando e sendo amados e no mais profundo do coração este anseio é tão forte que pode mais que qualquer obscuridade.
- Como te encontras agora e que esperas do futuro?
- Agora encontro-me bem. Aprendi da minha experiência, especialmente, aprendi a empatizar com as pessoas que sofrem e tenho uma sensibilidade especial para com elas. Mais que empatia gosto mais de usar o termo compaixão, que significa sofrer com o outro. O que se passa, é que actualmente este termo associa-se com uma atitude negativa, a respeito de ver o outro como ser inferior e realmente penso que não é assim.
Creio que é por isso que me dedico a trabalhar e a formar-me no campo social. Penso que qualquer dificuldade, por muito grave que seja, ainda que não seja nada fácil, se pode superar se se quer. Com a ajuda de Deus, por suposto, que se manifesta de tantas maneiras, em tantas pessoas! Talvez às vezes não nos damos conta de que está, porque esperamos um milagre espectacular e Ele é muito discreto, está, só há que fixar-se bem.
Creio que o milagre maior é a capacidade de amar do ser humano e, no meu caso mais particular, ter superado uma forte depressão.
No futuro espero poder trazer mais que um grãozinho de areia para construir um mundo melhor, olhar de uma maneira mais humana as pessoas, procurar o que nos une e rejeitar a dinâmica actual da confrontação. No referente à profissão, espero ser Educadora Social e trabalhar neste âmbito.
E, sobretudo, a nível pessoal, espero poder enfrentar qualquer adversidade que chegue e valorizar tantas coisas maravilhosas que tenho.
Navas González / Aleteia
“Parece um paradoxo, mas num momento onde perdeste toda a fé (digamos humana), no qual não vês nada, no qual estás “morta em vida”, no fundo, talvez sem ser consciente, de alguma maneira sabes que Deus está ali e o teu desejo d’Ele salva-te. Não sei como explica-lo, ainda que seja um mero desejo de sobrevivência, quando estás perdida na obscuridade, esperas, esperas que tudo passe”. Assim explica a jovem espanhola Imma Martínez Vives a sua experiência de fé no meio da depressão, na seguinte entrevista a Aleteia.
“Penso que isso é a fé: crer sem ver, esperar quando te parece que não se pode esperar nada”, acrescenta esta jovem de 26 anos, integradora Social e actualmente estudante do Curso Universitário de Educação Social.
- Quando começaste a encontrar-te mal e porquê?
- Comecei a encontrar-me mal aos 15 anos aproximadamente, no contexto da mudança pessoal que supõe a adolescência. Tive uma depressão que foi aumentando em intensidade com o passar do tempo.
- Como soubeste que tinhas uma depressão?
- Não tinha uma causa específica com a qual se costuma associar uma depressão, talvez por isso foi mais difícil saber detectar o que me estava acontecendo. Agora, visto desde longe, penso que além da causa física (pois tenho transtorno bipolar, coisa que me predispõe a ter períodos depressivos), o que a provocou foi um cúmulo de coisas: a mudança da adolescência (que alguns rapazes e raparigas vivem com muita dificuldade), o facto de ter um carácter muito reservado, a dificuldade de expressar tudo o que me passava por dentro e uma alta sensibilidade a tudo, os complexos que costumam aparecer na adolescência, a procura do sentido da vida numa etapa onde se tomam decisões importantes…
E talvez agravou-se pelo facto de não saber pôr nome ao problema e um tratamento. Para saber que tens uma depressão, além dos indicadores da conduta (tristeza profunda, isolamento físico e emocional, etc.), é conveniente ir a um psicólogo e psiquiatra (no caso de que seja conveniente a administração de psicofármacos).
- Que te ajudou a enfrentá-la?
- Creio que quando uma depressão é grave, sem medicação não se pode superar. Evidentemente, a medicação não é uma solução mágica, assim que não substitui o grande trabalho pessoal interior de luta. Basicamente, uma luta com si mesma e contra o sentimento dominante de tristeza.
Comecei a medicar-me. Não foi fácil, pois há que encontrar a medicação adequada e a dose equilibrada… Também pode resultar difícil encontrar um bom profissional que siga uma terapia de que gostes ou te vá bem segundo a tua maneira de ser (pois existem muitos tipos de terapias e teorias psicológicas muito diferentes entre elas, algumas quase opostas, e segundo qual escolhas pode “estropear-te” ainda mais).
A partir deste passo, a aceitação creio que é o mais importante, pois começas a apagar o sentimento de culpa profundo que costumam ter as pessoas com depressão. Aceitei que o que me passava não era culpa minha, que não tinha um problema de falta de vontade nem de imaturidade.
Outra parte muito importante para vencer uma depressão é ter próximo pessoas que te queiram, que te ajudem (ainda que não saibam como, pois não é nada fácil tratar uma persona que sofre de depressão, já que costuma rejeitar todo o tipo de ajuda e encerrar-se em si mesma). Simplesmente, pessoas que estejam ali, mostrando o seu carinho.
No meu caso, não estaria hoje bem sem o apoio da minha família e especialmente de uma amiga, que nunca atirou a toalha comigo.
- Como o tomam as pessoas?
- Creio que às pessoas, em geral, custa-lhes entender o que é uma depressão (estou consciente de que custa se não se viveu na primeira pessoa) e qualquer conduta que a sociedade tipifica como “não normal”. As pessoas costumam ver-te como uma pessoa débil, sem vontade, quer dizer, reduz-se a pessoa à sua vontade, sem ter em conta tantos aspectos físicos e psicológicos. Eu também pensava algo assim e, talvez por isso, custou-me tanto aceitar que tinha uma depressão.
Penso que isto passa porque ainda temos demasiados preconceitos e ignorância a respeito dos transtornos ou patologias mentais, especialmente porque não é algo palpável como, por exemplo, a pessoa que tem a perna rota. Devemos aprender a ver mais além da parte física ou comportamental da pessoa, e vê-la em toda a sua plenitude.
Outras pessoas sim que vêem o problema, que algo falha, que não é um tema puramente comportamental mas não sabem como actuar ou ajudar, pois não é nada fácil. A respeito disto, animo a pedir ajuda e conselho aos profissionais, se tem alguma pessoa próxima que padece de uma depressão. Desta maneira, poderão ajudá-la de uma maneira muito mais eficaz.
- Que papel joga a fé?
- A fé é básica. Sem ela não se segue em frente. A fé te dá a esperança. Parece um paradoxo, mas num momento onde perdeste toda a fé (digamos humana), no qual não vês nada, no qual estás “morta em vida”, no fundo, talvez sem ser consciente, de alguma maneira sabes que Deus está ali e o teu desejo d’Ele te salva. Não sei como explica-lo, ainda que seja um mero desejo de sobrevivência, quando estás perdida na obscuridade, esperas, esperas que tudo passe.
Penso que isso é a fé: crer sem ver, esperar quando te parece que não se pode esperar nada. Pois, ao fim e ao cabo, estamos criados para ser felizes amando e sendo amados e no mais profundo do coração este anseio é tão forte que pode mais que qualquer obscuridade.
- Como te encontras agora e que esperas do futuro?
- Agora encontro-me bem. Aprendi da minha experiência, especialmente, aprendi a empatizar com as pessoas que sofrem e tenho uma sensibilidade especial para com elas. Mais que empatia gosto mais de usar o termo compaixão, que significa sofrer com o outro. O que se passa, é que actualmente este termo associa-se com uma atitude negativa, a respeito de ver o outro como ser inferior e realmente penso que não é assim.
Creio que é por isso que me dedico a trabalhar e a formar-me no campo social. Penso que qualquer dificuldade, por muito grave que seja, ainda que não seja nada fácil, se pode superar se se quer. Com a ajuda de Deus, por suposto, que se manifesta de tantas maneiras, em tantas pessoas! Talvez às vezes não nos damos conta de que está, porque esperamos um milagre espectacular e Ele é muito discreto, está, só há que fixar-se bem.
Creio que o milagre maior é a capacidade de amar do ser humano e, no meu caso mais particular, ter superado uma forte depressão.
No futuro espero poder trazer mais que um grãozinho de areia para construir um mundo melhor, olhar de uma maneira mais humana as pessoas, procurar o que nos une e rejeitar a dinâmica actual da confrontação. No referente à profissão, espero ser Educadora Social e trabalhar neste âmbito.
E, sobretudo, a nível pessoal, espero poder enfrentar qualquer adversidade que chegue e valorizar tantas coisas maravilhosas que tenho.
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