Homilia pronunciada pelo Papa Francisco na Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo
Cidade do Vaticano, 01 de Julho de 2013
Apresentamos o texto da homilia pronunciada pelo Papa
Francisco na Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e Santa Missa
e imposição do pálio aos novos arcebispos metropolitanos celebrada
sábado, 29 de Junho, na Basílica Vaticana.
Senhores Cardeais,
Eminentíssimo Metropolita Ioannis,
Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio,
Amados irmãos e irmãs!
Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio,
Amados irmãos e irmãs!
Celebramos a solenidade dos Apóstolos São Pedro e São Paulo,
padroeiros principais da Igreja de Roma; uma festa tornada ainda mais
jubilosa pela presença de Bispos de todo o mundo. Uma enorme riqueza que
nos faz reviver, de certa forma, o evento de Pentecostes: hoje, como
então, a fé da Igreja fala em todas as línguas e quer unir os povos numa
só família.
Saúdo cordialmente e com gratidão a Delegação do Patriarcado de
Constantinopla, guiada pelo Metropolita Ioannis. Agradeço ao Patriarca
ecuménico Bartolomeu I este novo gesto fraterno. Saúdo os Senhores
Embaixadores e as Autoridades civis. Um obrigado especial ao Thomanerchor, o Coro da Thomaskirche [Igreja de São Tomé] de Lípsia – a igreja de Bach – que anima a Liturgia e constitui mais uma presença ecuménica.
Três pensamentos sobre o ministério petrino, guiados pelo verbo «confirmar». Em que é chamado a confirmar o Bispo de Roma?
1. Em primeiro lugar, confirmar na fé. O Evangelho fala da confissão de Pedro: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo» (Mt 16,
16), uma confissão que não nasce dele, mas do Pai celeste. É por causa
desta confissão que Jesus diz: «Tu és Pedro, e sobre esta Pedra
edificarei a minha Igreja» (16, 18). O papel, o serviço eclesial de
Pedro tem o seu fundamento na confissão de fé em Jesus, o Filho de Deus
vivo, tornada possível por uma graça recebida do Alto. Na segunda parte
do Evangelho de hoje, vemos o perigo de pensar de forma mundana. Quando
Jesus fala da sua morte e ressurreição, do caminho de Deus que não
corresponde ao caminho humano do poder, voltam ao de cima em Pedro a
carne e o sangue: «Pedro começou a repreendê-Lo, dizendo: (…) Isso nunca
Te há-de acontecer!» (16, 22). E Jesus tem uma palavra dura:
«Afasta-te, Satanás! Tu és para Mim um estorvo» (16, 23). Quando
deixamos prevalecer os nossos pensamentos, os nossos sentimentos, a
lógica do poder humano e não nos deixamos instruir e guiar pela fé, por
Deus, tornamo-nos pedra de tropeço. A fé em Cristo é a luz da nossa vida
de cristãos e de ministros na Igreja!
2. Confirmar no amor. Na segunda leitura, ouvimos as palavras comoventes de São Paulo: «Combati o bom combate, terminei a corrida, permaneci fiel» (2 Tm 4,
7). Qual combate? Não é o das armas humanas, que, infelizmente, ainda
ensanguenta o mundo, mas o combate do martírio. São Paulo tem uma única
arma: a mensagem de Cristo e o dom de toda a sua vida por Cristo e pelos
outros. E foi precisamente este facto de expor-se em primeira pessoa,
deixar-se consumar pelo Evangelho, fazer-se tudo para todos sem se
poupar, que o tornou credível e edificou a Igreja. O Bispo de Roma é
chamado a viver e confirmar neste amor por Cristo e por todos, sem
distinção, limite ou barreira. E não só o Bispo de Roma, mas todos vós,
novos arcebispos e bispos, tendes o mesmo dever: deixar-se consumar pelo
Evangelho, fazer-se tudo para todos. O dever de não se poupar, de se
esquecer de si ao serviço do povo santo e fiel de Deus.
3. Confirmar na unidade. Aqui detenho-me a considerar o
gesto que realizámos. O Pálio é símbolo de comunhão com o Sucessor de
Pedro, «princípio e fundamento perpétuo e visível da unidade de fé e
comunhão» (Conc. Ecum. Vat. II, Lumen gentium,
18). E hoje a vossa presença, amados Irmãos, é o sinal de que a
comunhão da Igreja não significa uniformidade. Referindo-se à estrutura
hierárquica da Igreja, o Concílio Vaticano II afirma que o Senhor
«constituiu [os Apóstolos] em colégio ou grupo estável e deu-lhes como
chefe a Pedro, escolhido de entre eles» (ibid., 19). Confirmar
na unidade: o Sínodo dos Bispos, em harmonia com o primado. Devemos
avançar por esta estrada da sinodalidade, crescer em harmonia com o
serviço do primado. E continua o Concílio: «Este colégio, enquanto
composto por muitos, exprime a variedade e universalidade do Povo de
Deus» (ibid., 22). Na Igreja, a variedade, que é uma grande
riqueza, sempre se funde na harmonia da unidade, como um grande mosaico
onde todos os ladrilhos concorrem para formar o único grande desígnio de
Deus. E isto deve impelir a superar sempre todo o conflito que possa
ferir o corpo da Igreja. Unidos nas diferenças: não há outra estrada
para nos unirmos. Este é o espírito católico, o espírito cristão:
unir-se nas diferenças. Este é o caminho de Jesus! O Pálio, se é sinal
da comunhão com o Bispo de Roma, com a Igreja universal, com o Sínodo dos Bispos é também um compromisso que obriga cada um de vós a ser instrumento de comunhão.
Confessar o Senhor deixando-se instruir por Deus, consumar-se por
amor de Cristo e do seu Evangelho, ser servidores da unidade: estas são
as incumbências que os Apóstolos São Pedro e São Paulo confiam a cada um
de nós, amados Irmãos no Episcopado, para serem vividas por cada
cristão. Sempre nos guie e acompanhe com a sua intercessão a Santíssima
Mãe de Deus: Rainha dos Apóstolos, rogai por nós! Amen.
in
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