Missa na Casa Santa Marta: papa Francisco explica que a oração não é pedir coisas a Deus, mas "negociar" com ele corajosamente, até cansá-lo
Cidade do Vaticano, 01 de Julho de 2013
Rezem, rezem, rezem. Com coragem, insistentemente,
"negociando" com Deus. A exortação do papa Francisco na missa de hoje na
Casa Santa Marta é clara: não devemos nos dirigir a Deus com orações
“descartáveis”, mas rezar até o ponto de ser inconvenientes com ele. A
missa foi concelebrada com mons. Brian Farrell e com o cardeal Kurt
Koch, acompanhado por um grupo de sacerdotes e de colaboradores do
Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos.
O convite do Santo Padre parte da primeira leitura do dia, Génesis
18, 16-33, que conta a história de Abraão: com coragem e persistência,
ele se volta a Deus para salvar Sodoma da destruição. "Abraão é um bravo
e reza com coragem", disse o pontífice; ele "sente a força de falar
cara a cara com o Senhor e procura defender a cidade", inclusive com
certa obstinação.
Existem diferentes tipos de coragem, explicou o papa: "Quando falamos
de coragem, sempre pensamos na coragem apostólica, em ir pregar o
evangelho, essas coisas... Mas há também a coragem diante do Senhor:
aquela parresia diante do Senhor, de se dirigir a Ele corajosamente para
pedir as coisas".
Talvez, acrescentou o Santo Padre, seja algo "um pouco engraçado". O
próprio Abraão, na leitura de hoje, "fala com o Senhor de maneira
especial", disse o papa, a ponto de às vezes não sabermos se estamos
"diante de um homem de oração ou de um comprador fenício, que vai
puxando o preço para baixo, pechinchando. Ele insiste: de cinquenta,
consegue baixar o preço para dez".
"É engraçado", reiterou o papa, mas "está tudo bem", porque se realça
a “atitude teimosa” que é necessária no diálogo com Deus. Às vezes, nós
nos voltamos a Ele para "pedir uma coisa para uma pessoa" e acabamos
pedindo outra, e outra e mais outra. "Isso não é a oração", disse o papa
Francisco. "Se você quer uma graça do Senhor, você tem que pedir com
coragem e fazer o que Abraão fez, com insistência".
Jesus nos ensina a orar com essa insistência, contando e reforçando
episódios como o da viúva que recorre ao juiz, ou do homem que vai bater
à porta do amigo à noite, ou da mulher siro-fenícia que pede
repetidamente a cura da filha. Esta insistência "é muito cansativa",
disse o papa, mas "esta é a oração, isto é pedir uma graça de Deus".
Santa Teresa também "fala da oração como uma negociação com o Senhor",
diz Francisco. Isto só é possível quando se tem "a familiaridade com
Deus".
Rezar, portanto, "é negociar com Deus, até ser inoportunos com o
Senhor", insistiu Bergoglio: é "louvar o Senhor nas suas coisas boas e
pedir que Ele dê aquelas coisas lindas a nós. E se Ele é tão
misericordioso, tão bom, pedir que nos ajude".
O papa fez um pedido pessoal e espontâneo no fim da homilia: "Eu
gostaria que, hoje, todos nós, durante cinco minutos, não precisa mais
do que isto, pegássemos a bíblia e, lentamente, rezássemos o Salmo 102:
‘Bendiz o Senhor, ó minha alma! Que tudo o que há em mim bendiga o seu
nome! Não te esqueças de todos os seus benefícios. Ele perdoa todas as
culpas, sara todas as feridas, salva a tua vida do fosso, te circunda de
bondade e de misericórdia...’ ”.
Recitando essas palavras, explicou o Santo Padre, "vamos aprender as
coisas que temos que dizer a Deus quando pedimos uma graça: ‘Tu, que és
misericordioso, tu que me perdoas,me dá essa graça’, como pediu Abraão,
como pediu Moisés". Assim, concluiu Francisco, "vamos em frente na
oração, corajosos, com esses ‘argumentos’ que vêm directo do próprio
coração de Deus".
in
Sem comentários:
Enviar um comentário