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quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Alegrias do Natal e questões postas a João

As leituras do III domingo do Advento a pedir alegria e a fazer perguntas fazem pensar, hoje e no passado. Há mais gente a viver alegrias ou tristezas, prazeres consumistas ou sofrimento e pobreza? Muitos sofrem e outros à volta gozam em «alegria de Carnaval», como lhe chamou o Papa em Córsega (15.12.2024). Tantas cenas dos ecrãs mostram pessoas tristes, sem alimentos, sem abrigo, sem cuidados de saúde, sob ameaças de violências e riscos de morte. Entretanto, os mesmos ecrãs entristecem, ainda mais, os sofredores agredindo-os com cenas contrastantes de «tanta gente com a ânsia de consumismo»; que é «mal que todos os cristãos, padres, bispos, cardeais, todos nós, mesmo o Papa», podem ter, como o Papa alertou. As observações do que se vê no dia a dia são leituras da realidade que alegram e entristecem. O bem feito aos frágeis e sofredores dá alegria aos corações dos que fazem o bem e dos que recebem a ajuda, «porque quem vive para si mesmo nunca será feliz». «Vi aqui muitas crianças (…); façam filhos, eles serão a vossa alegria e consolação no futuro» disse, ainda, o Papa que na Córsega como em Timor-Leste se via muitas crianças. As notícias frequentes de realidades egocêntricas sufocam as pessoas com espetáculos tóxicos e doentios; e escondem o bem realizado para alegrar e socorrer as necessidades dos pobres.  

O termo inglês scan, tão usado hoje, significaria ler e ver com cuidado para descobrir o bom sentido da realidade que pode estar oculto. A origem do termo vem do latim scandere que em poética significa saltar e subir o ritmo para obter outro sentido bom que sem essa subida não aparece. Esta etimologia da leitura da realidade, do viver atual e da vida de há séculos, recorda um certo João que batizava no Jordão. Ontem como hoje, não faltam leitores da vida dos homens. Olham à volta para as multidões ou para as televisões e telemóveis, leem livros e jornais, e fixam-se na vida dos ricos e dos pobres, dos que ainda trabalham à jorna, os que cultivam as terras doutros donos; dos servos da gleba a trabalhar 12-16 horas por dia, em oficinas, fábricas e campos, a dormir em cabanas, palheiros ou ao relento olhando para os que vivem na abundância e alegria de circo. Alguns com a missão de profetas olham os sofrimentos desta gente, a adoecer por falta de agasalho, a sofrer de fome e de não ter alimentos. Vêm os que se queixavam e os que tentam revoltar-se, os que morrem de fraquezas e doenças, e os que sucumbem aos maus-tratos dos poderosos que não elevam o seu pensar e cismam que têm que ser assim. Outros que observam, sobem o olhar, vêm outro sentido de viver e, profeticamente, convidam todos à sua volta a ver esse sentido novo, a Boa Nova. A visão do João Batista era semelhante à de muitos outros de séculos longínquos, Amós, Isaías e outros de visão penetrante como Balaão que ouve as palavras de Deus (Nm. 24, 15-17). Alguns ouvem falar de sentido elevado e correm a perguntar a esse João de há dois mil anos, no vale do Jordão, o que podem melhorar. E perguntas surpreendentes não param: «e nós que devemos fazer» para viver com mais alegria? Diziam: nós e não: o que devem fazer os políticos, os corruptos, os ricaços, e os cheios de dinheiro sujo? É de esperar que estes façam eles a mesma pergunta: e nós que devemos fazer para ter e dar alegria?

O João que respondia, já fazia o bem que mandava fazer: “Quem tiver duas túnicas» (hoje seria quem tiver várias casas), dê uma a quem não tem e faça o mesmo com os alimentos; e um João de hoje acrescentará: dê escolas e cuidados de saúde a quem não tem. E nós? Perguntavam os dos impostos e governantes? E também os do poder político armado vieram perguntar: e nós? Nem hoje faltariam perguntas de gente das religiões, partidos políticos no poder, de gestores, educadores, responsáveis do bem de todos; dos donos de multinacionais gigantes, de pais que «não fazem filhos» (Papa Francisco). Mas, a quem fazer, hoje, as perguntas sobre o que cada um deve fazer? Terá que ser a Alguém que já faça o bem. E se esse Alguém for o humilde Menino do Natal que veio para fazer o Bem e o receber em cada pequenino! Afinal, Aquele de quem João disse que tira o pecado do mundo, “revogando a sentença de condenação” e remindo a pena de todos com a oferta da própria vida. Para isso nasceu e foi reclinado na manjedoura no curral do seu Natal e, pregado no madeiro da Cruz, morreu por amor. O Menino do Natal ressuscitou! Alegrai-vos! É Natal! Fazei o bem a todos, pequenos e grandes!  Novena do Natal, 2024

Pe. Aires Gameiro

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