Páginas

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

7MARGENS e TVI/CNN vencem Prémio de Jornalismo na categoria de televisão, com reportagem “A Lista do Padre Carreira”

Direitos Humanos e Integração

 | 10 Dez 2024

Luigi Priolo, último refugiado do Colégio Português, em outubro de 2022, no regresso ao edifício onde esteve escondido graças ao padre Joaquim Carreira, 79 anos depois. Imagem da reportagem A Lista do Padre Carreira.

A reportagem A Lista do Padre Carreira, realizada em parceria entre o 7MARGENS e a TVI/CNN-Portugal, da autoria dos jornalistas António Marujo e Joaquim Franco, do repórter de imagem Miguel Bretiano e do editor de imagem Sérgio Ribeiro, venceu o prémio de jornalismo Direitos Humanos e Integração, na categoria de meios audiovisuais, ex-aequo com o trabalho Afeganistão – dois anos de poder taliban, de José Manuel Rosendo, Sérgio Ramos e Pedro Pessoa, emitida na RTP. A cerimónia de entrega dos prémios, que incluíram ainda distinções nas categorias de Imprensa, Rádio e Imprensa Regional, decorreu ao fim da tarde desta terça-feira, 10 de dezembro, no Palácio das Necessidades, em Lisboa, onde está a sede do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE).

Padre Joaquim Carreira na altura em que foi reitor do Colégio Português de Roma. Foto: Direitos reservados
O padre Joaquim Carreira na altura em que foi
reitor do Colégio Português de Roma.
Foto: Direitos reservados

O trabalho dá a a conhecer o padre Joaquim Carreira, reitor do Colégio Pontifício Português de Roma que, durante o ano lectivo 1943-44, deu refúgio e abrigo a meia centena de perseguidos, antifascistas, judeus e outros resistentes à ocupação nazi-fascista da capital italiana. Para a realizar, os jornalistas consultaram centenas de documentos em arquivos no Vaticano, Roma, Leiria, Fátima e Lisboa, falaram com pessoas que conheceram de perto o padre Carreira, entrevistaram diplomatas e historiadores – como o ex-ministro italiano da Cooperação Internacional e fundador da Comunidade de Sant’Egidio, Andrea Riccardi. A guiá-los, esteve sempre o último refugiado que esteve no Colégio quando adolescente, Luigi Priolo.

Na mesma categoria, estavam nomeadas ainda outras três reportagens, que receberam menções honrosas: “Agente Estrangeiro”: a rede de jornalistas perseguidos por Moscovo que tenta contar a verdade aos russos a partir da Europa, de Helena Lins, André Lico e Afonso Alexandre, emitida na CNN Portugal; Ai Mouraria, Ai Portugal, de Catarina Neves, Carlos Rosa e Vanda Paixão, emitida na SIC; e Um no Meio de muitos, de Ana Luísa Rodrigues, Joana Gonçalves Almeida e Carlos Felgueiras e Sousa, emitida na RTP.

O júri, composto por Guilherme d’Oliveira Martins, Rita Figueiras e Francisco Sena Santos, escolheu, na categoria de Imprensa, a reportagem “A liberdade lá em cima: os pássaros de Gaza”, de Marta Vidal (Expresso) como vencedora. Na mesma categoria, foram distinguidos com menções honrosas os textos “Intensivamente abandonados”, de Tiago Carrasco, publicado na revista Humanista, da Amnistia Internacional; “Portugueses ciganos – uma história com cinco séculos”, de Ana Cristina Pereira, Paulo Pimenta, Teresa Miranda, José Alves e Francisco Lopes, publicada no Público; e “Brincar e estudar dentro da esquadra: em Caxias, polícias e jovens do bairro parecem finalmente unidos”, de Catarina Reis, publicada na Mensagem de Lisboa. O trabalho “De artista e de louco todos temos um pouco”, de Rafael Vieira, publicada na Coimbra Coolectiva, venceu na categoria de Imprensa Regional.

Na Rádio, houve dois vencedores ex-aequo: “Trinta e dois e setecentos, de Margarida David Cardoso, Bernardo Afonso, Nuno Viegas, Joana Teresa Batista, Ricardo Esteves Ribeiro e Maria Almeida, difundida na Fumaça; e Violeta, de Filipe Santa-Bárbara e Margarida Adão, difundida na TSF. Outras duas reportagens receberam menções honrosas: “O que explica o aumento de 25% num ano do número de pessoas em situação de sem abrigo? Quem são?, de Ana Catarina André e Miguel Marques Ribeiro, difundida na Rádio Renascença; e “A Promessa”, de Rita Colaço, difundida na Antena 1.

A Lista do Padre Carreira, Joaquim Franco, Miguel Bretiano, António Marujo, Prémio de Jornalismo Direitos Humanos e Integração

Joaquim Franco, Miguel Bretiano e António Marujo, coautores da reportagem A Lista do Padre Carreira, depois de receberem o prémio. Foto: Direitos reservados.

O prémio de jornalismo Direitos Humanos e Integração, que vai já na sua 19ª edição, é uma iniciativa anual conjunta da Comissão Nacional da UNESCO, presidida pelo embaixador José Filipe Moraes Cabral, e da Estrutura de Missão para a Comunicação Social, dirigida por Sérgio Gomes da Silva, e pretende reconhecer o trabalho desenvolvido por profissionais da comunicação social, a nível nacional, em prol dos direitos humanos e das liberdades fundamentais.

Guilherme d’Oliveira Martins, presidente do júri desde a primeira edição do prémio, destacou, na sua intervenção, a importância do direito à informação consignado na Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada em 10 de dezembro de 1948 na assembleia geral das Nações Unidas, que consagra logo no início que “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos”. Sublinhando que a qualidade dos trabalhos concorrentes é “indiscutivelmente uma marca” deste prémio, sublinhou ainda a importância da ONU para o multilateralismo e de “todos os que continuam a dar o melhor de si para as causas da paz, da democracia e dos direitos humanos”.

Pedro Duarte, ministro dos Assuntos Parlamentares referiu-se aos “tempos muito complexos” que vivemos e que “podem trazer muitos perigos”, para afirmar que o papel do jornalista é “mais relevante hoje e no futuro do que foi no passado”, mesmo apesar dos avanços tecnológicos, pois a “componente humana será sempre fundamental”. Admitindo que a crise que o setor da comunicação social enfrenta continuará ainda, sublinhou que, “se queremos continuar a viver em democracia, este é um dos pilares fundamentais” e pediu: “Vamos todos valorizar esta profissão, porque ela vai ser mais importante do que nunca para todos nós, pelo menos todos nós que somos democratas e gostamos de viver em liberdade.”

A jornalista Marta Vidal, do Expresso, que não pôde estar presente, enviou um texto onde referia a ironia de o prémio ser entregue no MNE, tendo em conta as posições do atual ministro sobre o que se passa na Faixa de Gaza e na Palestina. Referindo-se ao de um “projeto colonial” de Israel com “mais de um ano de genocídio” e 45 mil palestinianos mortos, criticou o facto de o MNE se manter “em silêncio” recusando-se a “impor sanções a Israel” ou a reconhecer a Palestina.

Na mesma linha, Ricardo Esteves Ribeiro, da Fumaça, um dos vencedores na categoria Rádio, referiu os pelo menos 147 jornalistas que já morreram na Faixa de Gaza no último ano, para criticar com veemência o Governo e o Estado português, que acusou de terem “sangue palestiniano nas mãos”.

José Manuel Rosendo, repórter da RTP que tem feito muitas reportagens no Médio Oriente e precisamente nesta terça-feira estava a caminho da Síria, referiu, com Sérgio Ramos, que há muitas regiões do mundo em que os direitos humanos “são impunemente violados”. Na reportagem vencedora, as mulheres afegãs também testemunharam e, “pela coragem que mostram, pelo sofrimento a que estão sujeitas, pela ausência de qualquer expectativa de mudança e [que] mesmo assim resistem e têm esperança” é a elas que a reportagem é dedicada pelos seus autores.

O diretor do 7MARGENS, coautor do outro trabalho vencedor, referiu também o tema da guerra em Gaza. Recordando que a reportagem fala de um padre que ajudou a salvar antifascistas e judeus em Roma, lamentou que hoje, outros judeus façam sofrer os palestinianos. E disse que “talvez mais de 40 mil mortos e tanta destruição depois, seja chegada a hora de Portugal reconhecer o Estado da Palestina”.

Destacando ainda a forma como tantos jornalistas continuam a trabalhar “muitas vezes sem condições, muitas vezes ao arrepio do que muitas administrações ou direções” querem, António Marujo referiu que a reportagem agora premiada sublinha também a importância de trazer a questão religiosa para a praça pública, não na perspetiva das instituições, mas de uma dimensão que “integra radicalmente a nossa condição humana”. O gesto do padre Carreira, acrescentou, revela que ele “não hesitou nas questões fundamentais” da dignidade humana e da hospitalidade a pessoas perseguidas. E concluiu: “Hoje, a humanidade está de novo em causa. Esta reportagem é também uma forma de dizer que não deixo, não deixamos de lutar contra a guerra, a intolerância e o ódio, afirmando o diálogo, a paz e a justiça.”

A Lista do Padre Carreira foi transmitida no dia 31 de maio de 2023, no Jornal Nacional da TVI e disponibilizada dias depois no 7MARGENS, onde se pode ler um texto sobre a sua banda sonora, que inclui peças compostas originalmente e executadas por Ana Fura (Primavera), Celina Ladeiro (A Libertação) e Anton Giulio Priolo (La Parole Perdute), além de músicas tocadas ao vivo também pelo Artemisia String Trio e Elisa Eleonora Papandrea. A reportagem pode ser vista a seguir:





Sem comentários:

Enviar um comentário