O dia estava bonito e Jesus aproveitava
as pausas de descanso e das refeições para perguntar pormenores do seu
nascimento. Aqueles que nós já conhecemos e Jesus também sabia.
Chegados à gruta, nas proximidades de
Belém, encontraram já algum gado no exterior e, lá dentro, algumas mantas e um
par de sandálias, sinais de que alguém estaria por ali perto. De facto, logo se
aperceberam de um vulto deitado no solo e de uns olhos temerosos. Com um gesto
do dedo indicador sobre a boca uma mulher pediu silêncio enquanto mostrava um
recém-nascido que dormia a seu lado. Pouco depois, chegou um homem, de nome
Ocozias, trazendo numa mão uma vasilha de leite e, na outra, uma corda atrás da
qual surgiu uma vaca. Assim que viu Jesus e seus pais caiu de joelhos, chorando
de alegria.
Ocozias deu-se a conhecer como um dos
pastores que tinham vindo à gruta para adorar o Rei dos judeus. Já lá iam oito
anos! Reconhecera Maria e José, mas admirava-se do porte e do tamanho de Jesus,
da sua sabedoria, da sua graça... Disse-lhes que tinha o costume de visitar a
gruta todos os anos para recordar aquele dia inesquecível. Logo que se
apercebera da proximidade do parto da sua mulher, ansiava levá-la à gruta do
“seu Senhor” onde ambos rezariam para encomendar o filho à proteção do Messias.
E aí estava o Menino, tão crescido já, tão normal. Exatamente como há oito
anos, mas sem o coro dos Anjos. Quem diria que era o próprio Deus? E o seu
filho que nascera horas antes! Que alegria!
Mostrou-lhes
ainda alguns desenhos que fizera, numa penha recolhida da gruta para os
proteger dos estragos do tempo. Eram toscos, de traços irregulares, distorcidos
por alguma areia mais grossa que ficara sob o negro de fumo do pau meio
queimado que servira para escrever.
Jesus estava feliz. Ali estava o que
procurava: a história do seu nascimento. Reconhecia-a, tal como os pais lhe tinham contado, naqueles desenhos e na criança recém-nascida que sua mãe
acarinhava.
Jesus
disse a Ocozias que estava muito contente por ter nascido, que tinha vindo ao
mundo para salvar os homens, a ele e à sua família também. Acrescentou que os
pais que cuidam e educam bem dos filhos os preparam para serem bons. Ocozias
concordava e pediu ao Menino que os abençoasse aos três. Jesus ficou
enternecido com quanto Ocozias lhe dizia e assegurou-lhe que seria abençoado
por ensinar a verdade aos seus filhos.
Ocozias pediu a José e Maria para
passarem ali a noite com Jesus. Voltou a oferecer-lhes leite fresco da sua vaca
e Maria ajudou Judite a cuidar do seu bebé. José abençoou os alimentos que
partilharam. E assim passaram a noite com esta simplicidade e alegria. Não
apareceram mais pastores, nem reis, nem anjos. Mas Jesus estava ali. Jesus está
sempre para aqueles que O procuram.
Isabel Vasco Costa
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