Cinco anos depois do incêndio
Manuel Pinto | 2 Dez 2024
A reabertura da catedral de Notre-Dame de Paris, reconstruída e remodelada, acontecerá já no próximo sábado, 7 de dezembro, ao fim da tarde, numa cerimónia presidida pelo arcebispo de Paris, Laurent Ulrich, e com a presença do Presidente da República, Emmanuel Macron. No ato participam ainda numerosos chefes de Estado e de governo, funcionários e mecenas, convidados conjuntamente pelo Estado francês e pela diocese, representantes de todas as paróquias de Paris, membros do cabido da catedral e do clero parisiense.
Os atos inaugurais de cunho religioso têm lugar no dia seguinte, domingo, 8 de dezembro, com uma missa solene que inclui a consagração do altar-mor, e serão presididos pelo arcebispo de Paris. São esperados cerca de 170 bispos de França e de dioceses do estrangeiro, bem como um presbítero e fiéis de cada uma das 106 paróquias da diocese local. Macron volta a marcar presença nos atos de culto.
Os interessados em visitar a “nova” catedral, reconstruída em cinco anos, depois do incêndio de 2019, poderão já tentar a sua sorte a partir do próximo domingo, 8 de dezembro, o próprio dia da inauguração. Na primeira semana, os horários são especiais (parte da tarde até às 22h), entrando no ritmo normal a partir de 16 de dezembro (das 7h45 às 19h).
A diocese de Paris divulgou, entretanto, na sua página digital, um calendário de conferências e colóquios que se estendem pelo ano de 2025, sobre temas tão diversos como o restauro de Notre-Dame – o estaleiro do século (14 de janeiro); rearranjo do interior da catedral (12 de fevereiro); as tapeçarias (26 de março); e pensar a catedral do século XXI (21 de maio).
Entre o passado e o futuro
Com estes atos religiosos e civis de reabertura (de facto, o edifício da catedral, ‘les murs’, é da responsabilidade dos serviços do estado), concretiza-se o desejo do Presidente Macron de terminar os trabalhos de reconstrução em 2024. Mas o percurso feito implicou um esforço gigantesco em múltiplas frentes, importantes decisões a tomar e não poucas polémicas.
A mudança de arcebispo, um novo governo e uma nova insistência do Presidente fizeram, a dado momento, reverter de novo a orientação. Foi o arcebispo em sintonia com Macron que, perante a Comissão Nacional para o Património e a Arquitetura, terá tido as palavras decisivas: “Não me parece apropriado que a reconstrução desta catedral danificada não traga a marca da época que a restaurou. Nos vitrais de Notre-Dame de Paris, há alguns do século XIII, há alguns do século XVII, há alguns dos séculos XIX e XX; porque não do século XXI?”.
Assim foi para seis dos painéis. O sétimo, alusivo à Árvore de Jessé, esse, manter-se-á como estava antes do incêndio.
O Papa não quis ir à festa
Emanuel Macron empenhou-se, desde o primeiro dia, não apenas em assegurar que as obras se fariam no prazo pré-definido, mas intervindo também, direta ou indiretamente, em alguns aspetos. Quis também que o ato inaugural tivesse pompa e circunstância, pelo que terá feito tudo o que estava ao seu alcance para assegurar que o Papa Francisco viesse presidir à inauguração e reabertura da catedral, atendendo à projeção universal do monumento.
Porém, na entrevista com os jornalistas na viagem de regresso a vários países asiáticos, em 13 de setembro último, o Papa disse, de forma terminante, que não iria a Paris. Já no início de novembro, por alturas da assembleia dos bispos, o presidente da Conferência dos Bispos de França, Éric de Moulins-Beaufort, dizia aos jornalistas que “nunca se colocou verdadeiramente a questão” de o Papa se juntar às celebrações em Notre-Dame. “Por uma razão simples: a estrela da reabertura de Notre-Dame é Nossa Senhora” e não o Papa. Francisco “compreendeu isso desde o início”, acrescentou.
Quem não terá gostado nada desta decisão, segundo vários meios de comunicação social franceses, terá sido o Presidente da França, para quem a justificação oficial (de que, neste fim de semana de 7 e 8 de dezembro, se realizaria em Roma um consistório para a investidura de 21 novos cardeais) não era razoável, dado que a reabertura de Notre Dame se encontra definida há muitos meses.
A situação tornou-se ainda mais delicada quando Francisco anunciou a intenção de visitar a ilha da Córsega, território francês, uma semana depois. Isso supõe, protocolarmente, que seja o Presidente do Estado que recebe a dirigir o convite à Santa Sé e ser suposto que o próprio Presidente se desloque à Córsega para receber o Papa.
Algumas fontes, entre as quais The Times, de Londres, interpretam que o Papa não gostaria de se intrometer num mega-acontecimento que está politizado e em que o Presidente francês é o grande protagonista. No entanto, importa ter em conta que o atual Papa tomou como orientação não visitar grandes nações ocidentais, preferindo as periferias. É verdade que já esteve por duas vezes em França, desde que iniciou o seu pontificado, mas não em visita oficial ao país: em Estrasburgo, em 2024, para visitar o Conselho da Europa e o Parlamento Europeu e em Marselha, em 2023, para intervir nos Encontros do Mediterrâneo. Mas que há, nesta ida à Córsega, uma assertividade das opções deste Papa, isso dificilmente pode ser negado.
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