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quinta-feira, 25 de abril de 2024

Não esquecer o 25 de abril

Nasci depois da revolução. O que conheço, o que sei, foi a partir de uma memória partilhada por outros, desencadeada por perguntas que pessoal e profissionalmente fui fazendo.

Hoje sei que a forma como nos relacionamos com a data não pode ser a mesma de há 50 anos; mas deve igualmente ser cuidada, estudada, prolongada, celebrada, dialogada e apresentada a cada ano.

Quando o meu filho tinha dois anos estive na Avenida da Liberdade com ele. Dei-lhe um cravo para a mão e descemos, ele de carrinho, eu a empurrar na certeza de que apenas a multidão o encantava e a flor que tinha na mão chamava pelo vermelho da cor.

Hoje vou, no meio da avenida, falar-lhe do que ali vamos celebrar e deixar que as perguntas próprias dos 8 anos lhe abram caminho na vista e no coração.

Nunca deixo de me emocionar quando uma causa comum nos prende, nos une, nos faz caminhar. E ali há essa esperança, afirmada entre desconhecidos que se conhecem, mesmo que por horas, mesmo que unidos apenas por uma rua com cravos vermelhos. Nunca ficamos pelo «apenas».

Na Agência Ecclesia, ao longo destes dias, muitas foram as fontes que foram falando sobre a forma de revisitar esta data, de identificar as forças que ajudaram a estruturar o caminho feito até ai, e desde então.

Paulo Fontes e a tentativa de os católicos “modernizarem as estruturas” no Estado Novo; Carta Pastoral sobre o Contributo dos Cristãos para a Vida Social e Política – 1974; Carta Pastoral no décimo aniversário da «Pacem in Terris» – 1973; o contributo do movimento GRAAL para “explicar os valores da revolução”; a forma como os documentos publicados pelos bispos em 1973 e 1974 revelavam o desejo de pluralismo de opções políticas; a revolução cultural de 1971 antes da revolução militar de 1974 revisitada por Alfredo Teixeira, são diferentes vozes que quisemos ouvir.

Esta é uma data que nunca está terminada, nunca se esgotarão as vozes, o seu alcance. Que nunca se esgote também a liberdade de a abordarmos, cuidarmos, estudarmos, celebrarmos e dialogarmos sobre ela.

Desejo-lhe um excelente dia!

Lígia Silveira

 


www.agencia.ecclesia.pt

      



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