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domingo, 20 de fevereiro de 2022

Sem Fonteiras

Por vezes ouvimos repetir, nos círculos sociais por onde passamos: – «ninguém é insubstituível». Discordamos de tal afirmação. Cada vida humana é única, irrepetível e tem o seu toque próprio.

No entanto há pessoas que trilham os caminhos deste mundo duma forma mais elevada, semeando a beleza e a fraternidade. Fazem silêncio de si próprios, na humildade de quem não está à espera de aplausos. A sua meta é amar e servir, esvaziando-se de si para ter espaço aberto, no coração, e acolher todos, sejam eles de perto ou de longe. Era assim o Sr. Padre José Moreira Martinho – coração e braços abertos, sempre, para quem dele se abeirava ou para quem ele suspeitasse que precisava de ajuda.

Mas porquê?

Porque, para ele, todos eram irmãos, não se importando com diferenças sociais ou religiosas. A entrega aos outros era a ordem do dia.

Todo o seu percurso teve uma marca profunda em que a dimensão humana foi sempre relevante, não só a nível pastoral mas também no âmbito da promoção social e cultural, das famílias e das comunidades. Era aquele que no “aqui e agora”, ao longo de muitos anos, estava presente junto das pessoas, nas paróquias e nas freguesias onde trabalhou, nas obras que desenvolveu.

Podemos afirmar, sem exagero, que para ele era sempre “dia santo”, porque era dia de amar os outros e construir um mundo mais justo e mais belo.

Nascido a 27 de Outubro de 1925, em Lisboa, foi depois para Parada do Côa, do Concelho de Almeida.

Em 1937 entrou no Seminário do Fundão percorrendo com muito êxito os anos de formação, até ser ordenado em 15 de Agosto de 1945. Nunca mais parou de construir, de promover a Paz e o Bem, por onde foi passando.

Particularmente em S. Romão, onde esteve como pároco de 1950 a 2018, tivemos oportunidade de o conhecer melhor, de muito aprender com ele e de crescermos nos valores humanos e cristãos. Fomos ouvindo testemunhos de muitas pessoas que falavam de quantas vezes ele lhes acudia em situações de privação, de crianças e jovens que para ele corriam para sentirem o seu carinho paternal, acolher um conselho oportuno, ou um apoio para a sua vida familiar e profissional.

Quando completou 90 anos registámos uma afirmação que nos deixou cheios de alegria:

– «Sou um padre muito feliz e o dedo de Deus esteve presente no momento em que optei por ir para o Seminário».

Partiu agora, a 18 de Janeiro de 2022, com os seus 96 anos, para a tal viagem que, no infinito, se desenha o eterno. Fica-nos muita saudade, mas muita gratidão, por termos conhecido e vivido momentos tão ricos, ao lado de um HOMEM, com letra maiúscula, inteiro, reto e generoso sem limite, que soube gastar a vida e, por isso, viveu e partiu feliz!

 

Casal Nuno e Maria Helena Osório Gonçalves

 

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