Na quarta-feira à noite, cuidava eu da máscara de Carnaval
que o meu filho de seis anos queria levar para a escola na manhã seguinte.
Antecipava o dia de brincadeira, com novas vidas possibilitadas pelas
máscaras, comuns e inusitadas, um lanche cheio de coisas boas que as crianças
tanto anseiam e uma liberdade que invejo e desejo preservar na sua inocência,
a par da descoberta do mundo. Acordei com a notícia
que marcou o dia cinzento – no céu de Lisboa. Passei o dia de quinta-feira
inundada em notícias da Ucrânia, a acompanhar reações, condenações de um ato
ditatorial e a perceber que a vida de tantos mudou porque uma pessoa assim
decidiu. Sem escolha, sem margem para negociação, por uma vontade oligarca de
tudo ter e tudo decidir. Pergunto-me que
inocência preservar nas nossas vidas e que mundo entregamos às novas
gerações? Apesar da guerra, do
sofrimento, da suspensão que as vidas na Ucrânia estão a viver – e tantas
outras de familiares e cidadãos do mundo que acompanham com apreensão a
situação – há que afirmar que o bem tem também uma palavra a dizer nestas
horas. O bem que se afirma
em gestos comuns, de solidariedade e oração, como o que esta noite vai juntar
a comunidade ortodoxa e a católica, na igreja da Senhora da Conceição, no
Porto e no jardim do Marquês de Pombal, e que fazem afirmar que a paz «não é
um assunto de crentes mas de toda a sociedade»; O bem afirmado no
gesto do Papa Francisco que procurou
o embaixador russo em Roma, para tentar o regresso às negociações e uma
possível mediação da Santa Sé; O bem afirmado pela
Comissão Nacional Justiça e Paz que recorda
que nada se perde com a paz, mas que tudo pode ser perdido com a guerra; O bem afirmado na
livre escolha que o arcebispo-maior da Igreja grego-católica na Ucrânia, D.
Sviatoslav Shevchuk, recordou
ao dizer que os cidadãos ucranianos têm o direito de escolher o próprio
futuro: “É nosso direito
natural e dever sagrado defender a nossa terra e o nosso povo, o nosso Estado
e tudo o que nos é mais caro: família, língua e cultura, história e o mundo
espiritual”. O bem afirmado pelo
arcebispo do Luxemburgo, D. Jean-Claude Hollerich, quando rejeita
a guerra e a afirma como uma “grave afronta à dignidade humana” e que esta
não tem lugar no continente europeu. Será o bem suficiente
para mudar um desejo imperial? |
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