O Dia Mundial dos Doentes foi instituído por S. João Paulo II em 13 de maio de 1992 no seguimento da sua Carta “Salvifici Doloris”, de 11 de fevereiro de 1984, em que o Papa afirma que o sofrimento pode ser redentor quando unido ao de Cristo com amor compassivo. Recordo que alguns estudiosos e agentes de pastoral da saúde tiveram dificuldade em acolher esta carta do Papa. Era uma ousadia associar valor ao sofrimento, e secundarizar o progresso humano para o eliminar. Os cuidados paliativos e consoladores são importantes, mas não anulam nem se sobrepõem à missão salvadora do sofredor. Ao fixar o Dia Mundial do Doente no dia 11 de fevereiro, festa de Nossa Senhora de Lurdes, a cujo santuário acorrem multidões de doentes à procura de alívio, consolação e sentido de vida, alguns outros também não gostaram. Gostariam mais de um dia de festa em que transparecesse a glória da ressurreição e os doentes esquecessem o seu sofrer aflitivo. O Papa, porém, vivia uma experiência pessoal de sofrimento muito significativa; o atentado deixou-o às portas da morte, mas salvo por Maria Virgem, e capaz de colaborar na salvação com Cristo. E terá meditado nas palavras: quem perder a sua vida por Mim salvá-la-á. E assim o testemunhou nos últimos anos de vida.
A festa das Cinco Chagas de Cristo que Portugal
celebra a 7 de fevereiro evoca narrativas de eventos sem evidências, mas
carregadas de desejo de sentido pleno. A expressão “ neste sinal vencerás”( In hoc signo vincis), nesta narrativa e na
da Ponte Mílvio, em Roma, em 312, sugere uma questão muito pertinente que pode ajudar a distinguir a esperança terrena da eterna. E não é pequena distinção,
como S. Paulo se exprime: «E se nós temos esperança em Cristo apenas para esta
vida, somos os mais miseráveis de todos os homens» (I Cor. 15,19). Com efeito, as
ilusões desta vida, mesmo as animadoras, acabarão na morte. As narrativas
referidas impõem a questão: vences, o quê? Só vitórias terrenas? Apontam antes
para valor acima do efémero À posteriori, Portugal, apesar de todas as ameaças
já vai em quase nove séculos de cultura cristã e catolicismo que evangelizou
grande parte dos povos. Tal como, já antes, do império romano derivou um mundo
Euro-Asia-América em cristianização contínua apesar dos mil obstáculos
encontrados.
O Dia
Mundial do Doente destina-se a focar os pobres-doentes (como se dizia) como
aqueles que Jesus Cristo privilegiou destinatários do Reino de Deus. E os
crentes não vão abandonar os fracos, sofredores e moribundos durante a vida
terrena. O Reino que não é deste mundo cativa as atenções dos que gerem o bem
comum com justiça e fraternidade, apela aos corações generosos e aos cristãos-católicos
para que se centrem nos cuidados de alívio, consolação e evangelização dos sofredores.
Não se limitam a aliviar e consolar, anunciam a esperança que supera todo o
progresso efémero e anuncia a salvação como dom recebido pelos sofrimentos de
Cristo e a oferta de amor dos sofrimentos de cada doente, ao mesmo Redentor. Os
cuidados são englobantes e abrangem todas as dimensões da vida, a terrena e a
eterna que transcende todas as outras.
Este Dia Mundial do Doente na Madeira tem outra
dimensão na Casa de Saúde S. João de Deus com a abertura do Centenário da chegada
dos primeiros Irmãos ao Trapiche e da preparação da celebração dos cem anos da Inauguração
da Casa, já com doentes, em 10 de agosto
de 1924. Evoca ainda duas presenças martiriais: o Irmão Beato João de Jesus
Adradas Gonçalo que inaugurou a Casa de Saúde e deu a vida pela hospitalidade
ao serviço do cuidado de doentes, fuzilado a 28 de novembro de 1936 em
Paracuellos de Jarama, perto de Madrid; e outro Irmão mártir da hospitalidade,
o Irmão Sinforiano Lucas Feijão que foi um dos três primeiros Irmãos que vieram
para fundar a Casa em 1922. Nela viveu na recolha de esmolas por toda a Madeira
e pelos Açores, de 17 de maio de 1922 a 24 de dezembro de 1927. Seguiu daqui para
a Casa de Saúde S. Rafael, Angra do Heroísmo, para a ajudar a fundar e nela deu
a sua vida, já consagrada ao Senhor e ao serviço dos doentes. Morreu vítima quando
defendia outro paciente das agressões de doente agressor em estado de crise, em
16 de dezembro de 1949. Mais tarde este doente teve alta após “remissão” total
e revisão do processo judicial a pedido do psiquiatra.
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