A certo momento a nossa conversa foi interrompida! Um casal e 2 filhos aproximavam-se! Um dos menores, meu aluno! “Esta é a minha stora de FQ”! O olhar espantado e ao mesmo tempo um ar recolhido por nos encontrarmos fora do contexto habitual. “Viemos ver os aviões”! disse o pai, demonstrando ao mesmo tempo, alguma vontade de ouvir comentários sobre o Diogo. Parabenizei os pais pelo filho que têm: “muitas interrogações durante a aula, raciocínios bem elaborados, boas conclusões e sempre com a pressa de ser o primeiro a dizer qualquer coisa, sobre as questões propostas.” “De vez em quando é preciso apertá-lo porque não faz o que deve” retorquiram. É adolescente! Respondi. A conversa continuou, chegámos até ao ponto de questionar porque é que os aviões sobem tão alto, sabendo que pelo porte são tão pesados!
Essa não foi a questão mais importante para mim, naquele instante! Sem especular sobre o assunto, vi o Diogo feliz, por se sentir acompanhado pelos pais e o irmão. A trivialidade de passar ali um momento em família, ver o mesmo, sentir o mesmo vento que soprava, assim como, ouvir o grande volume de som dos motores dos aviões, criava uma cumplicidade deveras familiar, à moda do “um por todos”! Obsessão em ser felizes? Creio que não! Mas com felicidade, que é o sentido que damos às nossas vidas. Oportunidade de educar é garantir a segurança do que o outro não sabe e, garantir a liberdade no que o outro é capaz de fazer.
Veio à minha memória um ponto do livro que me ajudou em tempos, a descobrir o valor divino das inúmeras realidades humanas: «És, entre os teus, alma de apóstolo, a pedra caída no lago. - Provoca, com o teu exemplo e com a tua palavra, um primeiro círculo...; e este, outro... e outro, e outro... Cada vez mais largo. Compreendes agora a grandeza da tua missão?» Caminho, 831.
Este é o ponto que graficamente associo ao “efeito dominó” para descrever como é que o som chega a outro canto de uma sala. Este acontece quando é provocada uma perturbação, somente na primeira peça dominó. Ao que é transportado da primeira à última peça dominó, chamamos energia. Da mesma forma existe o efeito causado por uma pedra que cai nas águas calmas de um lago! Quando a pedra cai, há "transferência" de energia da pedra para a água. A energia do impacto da pedra na água obriga a que se propague em todas as direções, formando a primeira onda, depois a segunda e assim sucessivamente.
A primeira peça passa uma “informação carregada de conteúdo”: de informações e de emoções, de felicidade e de espanto, de cultura e de conhecimento, de virtudes e de beleza, de opções e de projetos de vida, a construção dos ideais … A primeira peça, os pais que ensinam a conviver, cultivar o bom humor; saber ouvir com o coração, compreender, saber exigir, impor limites, estar atentos, ensinar a fazer e não fazer por eles.
Na adolescência, a “perturbação” surge acompanhada de uma mudança hormonal, física, psicológica, até mesmo repleta de crises à procura de uma identidade. Está estampado nos seus rostos, o acompanhamento que os seus pais lhes dão! Nos meus alunos! Poderei ser eu uma boa perturbação? Creio que sim, mas de forma diferente, isto é, de forma mais distante que a dos seus pais/família, os verdadeiros educadores. Os mais responsáveis! Aqueles que podem gerir melhor essa carga de energia, que muitas vezes aparece com o sofrimento, com as dificuldades, as incertezas e cujo antídoto mais adequado é o amor. Sentir-se querido, amado e crescendo em autoestima com toda a liberdade e em idade, os nossos adolescentes poderão pedir: “Por favor, (Mãe, Pai) fala-me de amor!”
Sandra Abreu |
Professora |
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