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quarta-feira, 22 de abril de 2020

Saber Sofrer

Ontem acabou o mês de Maio, mês das flores e preferencialmente dedicado a Nossa Senhora. No final do mês de Abril, muito no início do tempo pascal, autopropus um desafio a cumprir, uma peregrinação a pé da minha cidade de Lisboa até Nossa Senhora de Fátima, onde coloco muitas vezes pedidos de ajuda, agradecimentos, mas acima de tudo onde vou recuperar ânimo para continuar as jornadas do dia-a-dia apesar de todos os obstáculos que encontro. Não fui cumprir uma promessa, fui em acção de graças do que já vivi e para entregar a incógnita do futuro. Não foi apenas uma peregrinação individual, levei comigo muitas intenções, especialmente da minha Família e de muitos amigos. Tinha consciência que seria um desafio audaz, até porque era uma absoluta incógnita para o que iria ser e além disso não tenho espírito de escuteiro e também não conhecia ninguém no grupo. Acredito que Alguém tudo Fez para eu ir nessa peregrinação, só me deixei levar.

Depois do primeiro dia, muito difícil por causa das condições climáticas e da lama ao longo do Trancão, começaram as dores e os tendões de um dos pés inflamaram tanto que nos dias seguintes tive de fazer parte dos percursos (cerca de metade de cada dia) na carrinha de apoio, mas graças a Deus não desisti.

Uma das grandes lições desta peregrinação foi sem sombra de dúvida saber sofrer. Não tanto eu própria, mas depois de ouvir algumas histórias de vida de pessoas que também foram comigo, lembrei-me muitíssimo de uma frase que li de um santo (não me lembro qual) “Todos sofremos…mas só alguns sabem sofrer!”.

Durante este ano já tinha acompanhado de muito perto este ensinamento da vida. Há 10 anos que acompanho um grupo de catequese e este ano, 28 adolescentes receberam o crisma no primeiro sábado de Maio (mais uma flor oferecida a Nossa Senhora, ou mesmo um sinal da protecção da nossa Mãe). Claro que nem sempre foi fácil acompanhar o grupo, principalmente por ser muito grande, muito heterogéneo e inclusivé por se terem criado desde cedo alguns conflitos. Ligámo-nos muitíssimo, eu a eles e eles a mim…conseguiram emocionar-me mesmo muito, principalmente pelo discurso que fizeram e leram no crisma. Desde Outubro passado que sinto que o grupo pôs de lado as diferenças e se uniu como nunca, porque foi diagnosticado a um deles um linfoma muito severo e muito disseminado…foram longos 6 meses de luta pela vida, meses de muito sofrimento causado pela doença, mas também provocado pelo próprio tratamento. Nunca vi sentimentos de revolta perante o sofrimento, o que humanamente seria mais do que normal, seria expectável. Só consigo explicar isso porque este adolescente e a família, tal como os meus companheiros da peregrinação, não se afastaram de Deus, antes pelo contrário, mesmo não percebendo a razão desse mesmo sofrimento, aceitaram-no e confiaram Nele…se Deus Permite o sofrimento Terá uma boa razão. Por isso têm pedido ajuda para ultrapassar os obstáculos que vão surgindo.

Por tudo isto e nesta peregrinação aprendi esse grande ensinamento da vida, que também encontrei, no livro “O pequeno caminho das grandes perguntas”, do Padre Tolentino Mendonça, nas palavras do poeta Paul Claudel “Cristo não nos foi Enviado para explicar a dor, mas para enchê-la da Sua Presença.”. Do mesmo fala a lindíssima canção “Estrela” da Carminho “Tu és a estrela que guia o meu coração / Tu és a estrela que iluminou meu chão / És o sinal de que eu conduzo o destino / Tu és a estrela e eu sou o peregrino”. E lembrando-me do concelho da pequena Jacinta, não é fácil olhar directamente para o sol que É Deus, é mais fácil e menos doloroso olhar para a estrela que é Nossa Senhora que nos conduzirá com certeza ao seu amado Filho, peço à minha Mãe do Céu que me acompanhe, à minha Família, aos meus amigos, incluindo claro os novos amigos deste antigo grupo de catequese.








Maria Caetano Conceição
Médica veterinária



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