Ontem
acabou o mês de Maio, mês das flores e preferencialmente dedicado a Nossa
Senhora. No final do mês de Abril, muito no início do tempo pascal, autopropus
um desafio a cumprir, uma peregrinação a pé da minha cidade de Lisboa até Nossa
Senhora de Fátima, onde coloco muitas vezes pedidos de ajuda, agradecimentos,
mas acima de tudo onde vou recuperar ânimo para continuar as jornadas do
dia-a-dia apesar de todos os obstáculos que encontro. Não fui cumprir uma
promessa, fui em acção de graças do que já vivi e para entregar a incógnita do
futuro. Não foi apenas uma peregrinação individual, levei comigo muitas
intenções, especialmente da minha Família e de muitos amigos. Tinha consciência
que seria um desafio audaz, até porque era uma absoluta incógnita para o que
iria ser e além disso não tenho espírito de escuteiro e também não conhecia
ninguém no grupo. Acredito que Alguém tudo Fez para eu ir nessa peregrinação, só
me deixei levar.
Depois
do primeiro dia, muito difícil por causa das condições climáticas e da lama ao
longo do Trancão, começaram as dores e os tendões de um dos pés inflamaram
tanto que nos dias seguintes tive de fazer parte dos percursos (cerca de metade
de cada dia) na carrinha de apoio, mas graças a Deus não desisti.
Uma
das grandes lições desta peregrinação foi sem sombra de dúvida saber sofrer.
Não tanto eu própria, mas depois de ouvir algumas histórias de vida de pessoas
que também foram comigo, lembrei-me muitíssimo de uma frase que li de um santo
(não me lembro qual) “Todos sofremos…mas só alguns sabem sofrer!”.
Durante
este ano já tinha acompanhado de muito perto este ensinamento da vida. Há 10
anos que acompanho um grupo de catequese e este ano, 28 adolescentes receberam
o crisma no primeiro sábado de Maio (mais uma flor oferecida a Nossa Senhora,
ou mesmo um sinal da protecção da nossa Mãe). Claro que nem sempre foi fácil
acompanhar o grupo, principalmente por ser muito grande, muito heterogéneo e
inclusivé por se terem criado desde cedo alguns conflitos. Ligámo-nos
muitíssimo, eu a eles e eles a mim…conseguiram emocionar-me mesmo muito,
principalmente pelo discurso que fizeram e leram no crisma. Desde Outubro
passado que sinto que o grupo pôs de lado as diferenças e se uniu como nunca,
porque foi diagnosticado a um deles um linfoma muito severo e muito
disseminado…foram longos 6 meses de luta pela vida, meses de muito sofrimento
causado pela doença, mas também provocado pelo próprio tratamento. Nunca vi
sentimentos de revolta perante o sofrimento, o que humanamente seria mais do
que normal, seria expectável. Só consigo explicar isso porque este adolescente
e a família, tal como os meus companheiros da peregrinação, não se afastaram de
Deus, antes pelo contrário, mesmo não percebendo a razão desse mesmo
sofrimento, aceitaram-no e confiaram Nele…se Deus Permite o sofrimento Terá uma
boa razão. Por isso têm pedido ajuda para ultrapassar os obstáculos que vão
surgindo.
Por
tudo isto e nesta peregrinação aprendi esse grande ensinamento da vida, que
também encontrei, no livro “O pequeno caminho das grandes perguntas”, do Padre
Tolentino Mendonça, nas palavras do poeta Paul Claudel “Cristo não nos foi Enviado
para explicar a dor, mas para enchê-la da Sua Presença.”. Do mesmo fala a
lindíssima canção “Estrela” da Carminho “Tu és a estrela que guia o meu coração / Tu és a
estrela que iluminou meu chão / És o sinal de que eu conduzo o destino / Tu és
a estrela e eu sou o peregrino”. E lembrando-me do concelho da pequena Jacinta,
não é fácil olhar directamente para o sol que É Deus, é mais fácil e menos
doloroso olhar para a estrela que é Nossa Senhora que nos conduzirá com certeza
ao seu amado Filho, peço à minha Mãe do Céu que me acompanhe, à minha Família,
aos meus amigos, incluindo claro os novos amigos deste antigo grupo de
catequese.
Maria Caetano Conceição
Médica veterinária
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